Friday, October 22, 2004

Reprimir não resolve

Reprimir não resolve
Um assunto que não pode ser resumido em "reprimir" ou "regularizar"...

1 comment:

Eduardo Miranda said...

Concordo em muitos pontos com você, Dori, mas também não concordo com alguns.

Quando você diz que querer ensinar as pessoas a usarem drogas com segurança é inseguro e perigoso, eu discordo. Que fique claro que não se trata de sair por aí ensinando como se drogar, não. Acredito que a informação é o melhor caminho, mas ela também traz uma certa "exposição". Assim, seria certo "ensinar" dependentes e usuários (você diferenciou-os muito bem) a se drogarem com segurança (pureza das substâncias, doses seguras, efeito das drogas no organismo, etc) junto com sessões maciças de conscientização e exposição dos malefícios, etc, etc, pois já que eles já usam a droga ou dependem dela, informar nunca é demais, e droga+informação passaria a ser um pacote que não se venderia separado! Se você resgatar uma ovelha no rebanho, será uma vitória! Utópico? Tolo? Talvez, mas não demagógico!

É claro que tudo isso precisaria ser precedido pela regulamentação do governo. Afinal, não há maneira de controlar sem "regulamentar", o que não significa "legalizar". São coisas diferentes. Em Amsterdam, por exemplo, prega-se que a maconha é "liberada" nos cafés e até nas ruas, mas é pura ilusão. Você pode ter esta impressão, mas não no fundo é apenas "tolerância". O governo "regulamentou" o uso, cobra taxas altíssimas dos estabelecimentos que vendem maconha e psicotrópicos "naturais" - como cogumelos. Todas as outras substância entorpecente são proíbidas, comercialização e consumo.

Conversando com cidadãos holandeses, pude notar que eles parecem satisfeitos com o sistema, tanto os simpatizantes (usuárois ou não) quanto os não-simpatizantes. Os não-simpatizantes ressaltam o aspecto educativo que os filhos levam disso tudo. Os simpatizantes o sistema é bom mas o que estraga são os turistas. Um chegou a me dizer que deveriam usar política de "repressão aos turistas", pois eles não têm a "cultura" do consumo controlado e assistido e acabam "exagerando". Na Holanda fuma-se maconha no final da tarde como se toma uma taça de vinho durante o jantar: não há motivo e tampouco graça no exagero... perde o sentido!

Quanto a suas dúvidas se você teria parado de usar se existisse locais de uso controlado, eu diria que sim, você pararia. E você tem que acreditar nisso, pois senão você será um eterno recaído. As oportunidades e as desculpas para usar estão por toda a parte e aparecem a todo o momento, como "pop-ups" na internet, e você as está recusando... até que "aquela" que justifique sua recaída apareça? Mesmo que esteja no passado? Não é isso, Dori. Ou você parou - só por hoje - ou não! E se existisse locais que você pudesse usar controladamente, talvez num primeiro estágio você tentaria passar para o uso controlado (uma série de fatores mudariam o seu consumo, primeira e evidentemente o aspecto "legal", depois o local/horário/motivo - local determinado, não pré- ou pós- balada), mas depois cairia na real... Claro que pararia... "parei... só por ontem!" (já que estamos falando de passado), pois tudo é uma questão de consciência e determinação! Não há nada mais forte do que isso, droga nenhuma! O problema é alcançar este estágio de conscientização... aquele em que se é capaz (decide-se) de serrar o tornozelo para fugir das correntes que o aprisionam a uma bomba (está determinado a viver... como é outra história!).

Concordo quando você diz que quando o indivíduo passa do uso para o abuso de drogas está iniciando a sua dependência. O problema é saber qual e aonde está a linha que delimita o uso e o abuso... onde está este maldito "ab" do meu uso... Eu mesmo já me questionei muito se sou dependente ou não... se fosse traçar um perfil psico-social, ocupacional, emocional, etc&tal, etc&tal, etc&tal, eu diria a mim mesmo: se interna!
Hoje não uso nenhuma substância além do álcool, e ainda assim me vejo (me coloco à prova, mas não para me provar, mas por puro acaso) em situações que me abstenho dele, facilmente! E quando uso, uso com moderação e em situações específicas onde ele nunca é mais do que um complemento, embora aqui na Irlanda ele seja a estrela principal em qualquer evento!

Eu também sou muito cético quanto a programas que envolvam boa-vontade, solidariedade, bom-senso... simplesmente porque não acredito mais na humanidade! De jeito nenhum! Acredito na individualidade e em certos indivíduos que esporadicamente juntos possam fazer uma diferença, mas não levanto mais bandeiras... perdi esta ilusão ainda jovem, com muito mais vigor do que tenho hoje, e a experiência adquirida com os anos não mudou meu ceticismo.

É isso aí Dori: Todo dependente nunca será usuário, alguns usuários podem se tornar dependentes!