Saturday, March 18, 2006

Paddy's Day

Dia de São Patrício na Ilha do Eire. St. Patrick's Day (ou Paddy's Day, para os íntimos e para os irlandeses). E tem gente achando que o governo deveria proibir a venda de álcool durante a Parada (aliás, a "St. Patrick's Parade" é famosa no mundo todo como sendo o climax da celebração desta data, mas no fundo é apenas uma máscara para a violência e a ebriedade coletiva).

Ora, se a chave para a democracia é a aceitação do cidadão e a liberdade de expressão, também é o respeito ao próximo e a liberdade do próximo... e tais qualidades não são simplesmente adquiridas, mas transmitidas socialmente, ensinadas nas escolas, encorajadas pela familia, honrada pelo Estado... Soa um tanto chato, não é? Pois é, camaradinha... chato mesmo é ver uma adolescente de quinze anos com as calças abaixadas até os joelhos, totalmente alcoolizada, tentando se manter em pé enquanto mija na esquina da O'Connel com a Parnell Street... e quem passava apontaca e dava risada! "Ha, ha, ha! Look at her!" Mas no fundo estavam apenas agradecendo não serem eles/elas naquela situação, nem terem uma filha ou irmã naquilo.

Mas que papo mais furado esse, hem? Será apenas mais um dia. Temos APENAS UM St. Patrick's Day por ano! Isso já é argumento suficiente para começarmos a beber na primeira oportunidade da manhã, assim, com algumas dezenas de euros e um pouco de sorte, lá pelo começo da tarde estaremos bêbados o suficiente... orgulhosamente bêbados... e incontinentes! Mas deveria o governo fazer alguma coisa? Afinal, medo de repreensão não vai impedir os jovens de ficarem bêbados e praticarem a violência (lembremos de algumas semanas atrás, quando Dublin foi tomada por arruaceiros, intolerantes e bêbados, qualidade estas às vezes aglutinadas na mesma pessoa). Mas, como dizem, "nada pode ser feito", e todos se rendem a uma cultura do álcool que no fundo ninguém quer!

O negócio é que St. Patrick's Day era para ser o grande acontecimento do ano. Não é. Pelo menos não mais. Algo está errado... muito errado.

Wednesday, March 15, 2006

Livro de Frases:- Nâzim Hikmet

Escritor e poeta turco nascido em Salonica, Grécia. Marcou profundamente a literatura turca ao romper com a tradição islâmica e sob a influência dos futuristas russos, propôs a despoetização da poesia. (leia mais...)

Se eu fosse plátano
repousaria à sua sombra
se eu fosse livro
que eu leria sem aborrecimento em minhas noites de insônia
lápis, eu não gostaria de ser
nem mesmo entre meus próprios dedos
se eu fosse porta
eu me abriria para os bons eu me fecharia para os maus
se eu fosse janela
uma janela sem cortinas totalmente aberta
se eu fosse verbo
se eu o chamasse para o belo para o justo para o verdadeiro
se eu fosse palavra
[eu diria] meu amor suavemente, muito suavemente.

extraído de Sur une toile d’Abidine: 'La Longue Marche', p. 232

Wednesday, March 08, 2006

meu coração opaco, minúsculo
músculo fraco de dissimulada ação;
o mesmo facão que fere teu peito,
digo-te, efeito no meu não causa não.

então diga, qual lâmina é essa
que depressa corta e abre um vão
entre vontades & desejos, ardente,
rente ao juízo mas fundo ao coração?

amor qual é esse, à própria sorte atirado,
temperado com tempero de pouco sabor;
ao antepor outro amor, pois já enlevado,
desacertado então, o amor torna-se dor.

e soto sentimento, virado do avesso,
confesso e sabido torto desde orto,
porto inseguro do que tenho em apreço,
careço daquilo que não o faz natimorto.

asyno eduardo miranda
deste porto seguro da jlha do Eire...


asyno eduardo miranda
deste porto seguro da jlha do Eire,
oje, qvartª, octº dia do terçº mez d este anno de MMVI