Sunday, November 05, 2006

Vulgocracia

Lula tem o dom da palavra, seja ela bem pronunciada ou expelida em tom pastel, sejam elas palavras cultas ou em frases de uma simplicidade quase analfabeta. O problema é a irresponsabilidade - de ambos os candidatos - em trazer picuetas para os últimos encontros televisivos, onde esperava-se ver um debate inteligente - e ambos o são - entre dois potenciais Presidentes da República.

Perguntas vãs não foram suficientes para impedir a reeleição do PT à presidência, e a infantilização de Lula nas respostas não foram suficientes para afundá-lo, embora mal-interpretado - ou convenientemente interpretado - por seus opositores.

"De onde veio o dinheiro?" não é algo para ser respondido no debate, e nem cabe ao Presidente - que lá é apenas um candidato - responder. Aliás, Lula repondeu muito bem: "Isso está sendo investigado, e quando for apurado, tomaremos as medidas necessárias". Suficiente. Por outro lado, respostas como "Ora Alckmin, até minha mãe sabe que cabra manca não tem sesta, e se a tem, pouco lhe presta", ou coisa parecida, não esclarece nada, infantiliza e ofende a capacidade intelectual de alguns (bem poucos, eu diria!) espectadores.

Enfim, ganhou quem menos desmerecia, e dizer que quem é instruído não votou no Lula baseado em estatísticas de que na região Sul/Sudeste deu Alckmin e na Norte/Nordeste deu Lula é, além de facistóide, distorção de informação, coisa que a imprensa tendensiosa - e chamar a imprensa de tendensiosa, no Brasil, já é uma redundância - adora fazer, numa operação muito conhecida em estudos de Comunicação Social para se criar notícias de fatos banais e corriqueiros, a coisificação. Faz-se um fato completo de uma leitura parcial de outro fato maior. E o que caracteriza essa estratégia neste caso são dados que esclarecem, por exemplo, que o principal destino dos migrantes nordestino é a região Sudeste, que recebe 70,9%, mas também, a saídas da Região Sudeste para a Região Nordeste conta com um índice de 48,3% do total, ou seja, quase a metade das pessoas que deixam o Sudeste do país se dirige ao Nordeste (dados do IBGE). E por aí vão os estudos, com números e mais números, por anos a fio, num cruzamento de movimentos migratórios estimulados por expectativa de trabalho, sonhos de uma vida melhor, decepções, saudades insuportáveis, etc, etc, e concluir com A+B=C, ou preto-no-branco, é muito simplista e insuficiente... mas "as elites" (odeio este termo!) continuam a jogar favas ao gado... numa tentativa de impedir a vulgocracia... e a nós, vulgocratas, nos resta prestar muita atenção ao que acontece no governo, e tentar engolir à seco a decepção que o PT nos causou ao mostrar que ele também não passa de mais um partido, como todos os outros...

1 comment:

Anonymous said...

A coisa esta feia. Se ficar o bicho pega se correr o bicho come.

Eu li isso no Blog do Ze Melo e assino em baixo:

Voto obrigatório é um luxo para péssimos candidatos

Já me disseram que o voto obrigatório serve para não permitir que uma elite comande o País. Isso parte de um pressuposto falso: de que o pobre não se importa em votar. Parte de outro pressuposto falso: de que os canditados não trabalharão para fazer com que o eleitor vote!

Nos países onde o voto é opcional, cada voto tem muito mais valor. O candidato tem que fazer com que o eleitor saia de sua casa para votar, e depois tem que conquistar o voto desse eleitor.

No atual contexto, aquí no Brasil, há muita gente que não gostaría de votar nem em Lula, nem em Alckmin. Mas somos OBRIGADOS a ir lá e votar em alguém. Que tipo de democracía é essa? Por isso surge o movimento pelo voto nulo, o movimento do voto branco, o candidato cadelinha, o candidato mickey mouse(o mickey ganhou várias eleições no meu curso de 2o grau) que é na verdade um movimento de quem não quer votar porque não acredita em candidato nenhum. Esse eleitor tem que ter o direito de ficar em casa no día da votação.

Para melhorar o Brasil o povo tem que escolher primeiro se quer ou não votar, e depois decide em quem votar. Para melhorar o Brasil o candidato tem que ser obrigado a conquistar o eleitor com propostas tão boas que o façam querer sair de casa para votar, e para isso é preciso extinguir o voto obrigatório.


Abraco