Friday, April 27, 2007

rapidinhas...

Parece que é uma tendência mundial mesmo: certas notícia envolvendo somas de dinheiro são divulgadas em "moeda estrangeira". Se trata-se de, por exemplo, uma usina a ser construída, que utiliza materia-prima européia, será dito que a usina custará tantos milhões de euros. Igualmente na Europa, se utiliza-se ou envolve-se algo de algum país que não usa o euro, dir-se-á que o projeto custará não-sei-quantos mil dólares, libras esterlinas, ienes outra moeda qualquer. Será preguiça de fazer o câmbio? Será uma preocupação em manter o montante sempre atualizado, devido a flutuação do mercado? Ou será simplesmente porque soa bem citar em moeda estrangeira?

* * *

Aqui também tem "distribuidor de propaganda não-desejada" em semáforos. Com uma pequena diferença: não jogam a propaganda pelo seu vidro nem perguntam se você quer a propaganda; passam mostrando-a, e quem quiser pede por ela.

Ah... e eles ganham €7,80 por hora!


Tá bom pro cê?

Wednesday, April 25, 2007

-: de pretextos & contextos :-

Ouvi na rádio hoje:

Um cidadão cumpridor de seus deveres e conhecedor de seus direitos andava pelas ruas do centro de São Paulo, a caminho do banco pagar seu DARF, quando, em meio a tantos camelôs, um lhe chamou a atenção: vendia DVDs "piratas", e para mostrar a "qualidade" do seu "produto", exibia trechos da respectiva mídia numa enorme TV com tela de LCD. A tela da TV era de pelo menos 32 polegadas.

Tomado pela curiosidade - e perplexidade - em saber de onde vinha a energia para a TV, o citado cidadão seguiu o fio até uma espécie de "bateria", atrás de um poste, que por sua vez estava ligada "via gato" à rede de energia da Eletropaulo. O cidadão constatou que a tal bateria alimentava não só a TV do referido camelô, mas também os inúmeros outros aparelhos, desde toca-CDs, usados para testar os CDs à venda (piratas, é claro), até bancadas de teste de batedeiras, rádios, e liquidificadores, entre outros eletrodomésticos.

Constatando o esfusiante estado de alegria e descontração de todos à sua volta, o cidadão olha indignado para o seu DARF e pensa alto: preciso sair da formalidade.

O comentarista da rádio, em conformidade com a onda do politicamente correto de hoje em dia, prontamente entrou no ar dizendo que "pagar impostos também é um ato de cidadania, e que não devemos esmorecer perante tais acontecimentos", ou acabaremos em plena barbárie, numa "terra-de-ninguém".

Muito bem, pensei, tentando me lembrar da última vez em que estive no Brasil e não me senti numa "terra-de-ninguém".

Por outro lado & outras bandas, saía eu de uma Tesco Store perto de casa, após ter pago minha compra em dinheiro, no caixa de auto-atendimento. Já no carro, com o motor ligado, levei um baita susto ao ouvir alguém bater do meu vidro:
- knock, knock, knock... - era uma atendente da loja, ofegante devido a corrida. Abri a janela.
- May I help you?, eu disse. Ela simplesmente estendeu uma nota de 20 euros que eu esquecera na bandeja de trocos do caixa.
- Thank you very much!
- You're welcome.
Pensei em voz alta: "Wow... what a hell am I doing here?"

Monday, April 23, 2007

no reino da Grolândia



Enquanto não sai a minha cidadania Irlandesa, apliquei para a cidadania Grolandêsa, que aliás, é MUITO melhor, pois a Irlanda é uma ilha na Europa, enquanto o "Presimpado de Grolândia" está em todo lugar. Grolândia faz fronteira com Laos, Suécia, Antártica, Irlanda, Angoulême, Polônia, Mônaco, ex-URSS, Austrália, X (não-assinalado nos mapas do Instituto de Cartografia Grolandêsa), África, Marroco, "variado", Grécia, Canadá, Vélizy-Villacoublay, China, Ártico, Grã-Bretanha, Sérvia, Burkina Faso, Japão, França, Coréia, India, Estados Unidos.

Embora seja um país quase desconhecido, é muito popular, e pessoas de toda a parte vêm requerendo sua cidadania Groelandêsa, devido às vantagens e facilidades que o país oferece. Dentre alguns grolandeses famosos estão o presidente Christophe Salengro, o apresentador de TV Jules-Édouard Moustic, o veterano jornalista Mickael Kael, os jornalistas Francis Kuntz, Gustave de Kervern, Vincent Marronnier, o cômico Jacky Blangier, Franki Ki, o eterno estagiário da redação, o professor Toto Caca, o célebre ator Gérard Dedieu, além de José Bové, Valérie Lemercier, Aki Kaurismäki, Noël Godin ,as marionetes de Jacques Chirac, Yannick Jaulin, o grupo de rap IAM, Michael Moore, Alain Souchon, Guillaume Depardieu, Albert Dupontel, Coluche (póstumo), Pierre Desproges (póstumo), entre outros...

Links:
Informações: en français - in english
Junte-se a nós!
Provedor Oficial da Grolândia
Grolândia na TV

Falando sério
Como já deve ter ficado claro, Grolândia só existe no papel, na internet, no programa humorístico "7 dias em Grolândia", do canal de TV francês Canal Plus e no coração de milhares de pessoas devotas do ridículo mundo afora! (info)

Criada há 15 anos como uma pequena parte de um programa humorístico, a Grolândia acabou ganhando seu próprio programa. Nas noite de sábado as pessoas sintonizam no Canal Plus francês para assistir um pseudo-noticiário dos eventos que ocorreram na última semana no país.

Um parênteses: Pindorama

Muito criativo os francêses, mas país imaginário também temos nós, e se chama Pindorama. Como bem lembrou meu amigo JG, o termo foi primeiramente grafado por Torquato Neto em "Geléia Geral"
A alegria é a prova dos nove e a tristeza é teu porto seguro
Minha terra é onde o sol é mais limpo e Mangueira é onde o samba é mais puro
Tumbadora na selva-selvagem, Pindorama, país do futuro
Ê, bumba-yê-yê-boi ano que vem, mês que foi
Ê, bumba-yê-yê-yê é a mesma dança, meu boi
se bem que os franceses foram MUITO além...

Gostaria de referenciar também a sátira de Saramandaia, novela de Dias Gomes que introduziu o realismo-fantástico em 1976 na teledramaturgia brasileira. Lá, a cidade fictícia de Sucupira também deu vida real a muita gente imaginária.

o luxo da razão

Será que alguém já considerou que esse tipo de sociedade, essa que produz este tipo de violência, (veja " de massacres e literatura..." esta mesma que levou Seung Cho a fazer o que fez, simplesmente não deseje mudar? E cuidado : dizer que a sociedade "levou Seung Cho a fazer o que fez" não faz dele uma vítima. É mais ou menos como acontece no Rio de Janeiro com os traficantes e em São Paulo com o PCC: todo mundo sabe, todo mundo diz que é um absurdo, mas ninguém toma uma atitude. Seja o governo, acabando com a palhaçada, seja o cidadão amedrontado e encurralado, dando no pé! E para explicar o inexplicável, tomemos emprestado as lições da invasão dos sionistas à Palestina em 48, decretando O Estado de Israel, as incontáveis invasões americanas em nome da democracia - aquela estúpida! -, também o 11 de Setembro, O lobby das armas, a estupidez de Bush... tomemos as discriminações aos estrangeiros em qualquer lugar do mundo. E como disse o Jabor, depois de Stalin, Hitler, Mao (e eu acrescentaria Bush à lista), quem precisa de explicação? Explicar a loucura? Não precisa. A razão não passa de um luxo. E ainda assim, camaradinha, teremos que nos contentar com o inexplicável; o simples, insustentável e inefável "ser". Apenas é, apenas foi, apenas será... sempre.

Thursday, April 19, 2007

de massacres e literatura...

Eu li as duas peças de teatro do atirador; "Richard McBeef" e "Mr. Brownstone". Elas são ruins. Literariamente ruins. Mal escritas. E não é pela violência despropositada ou linguajar de baixo calão que elas encerram - há muita literatura violenta e suja mas de qualidade - e sim a falta de objetivo aparente nas histórias. Elas não começam de algo tampouco vão para algum lugar... simplesmente agridem, sem a beleza do despropósito sadio, da crítica à violência. Ele apenas queria estar fazendo o que escreveu... mas isto não importa, importa? Deixe para os psicólogos analisarem os aspectos intrínsecos da personalidade perturbada de Seung Chuo.

Sobre o massacre de Virgínia, o que dizer? Aconteceu de novo... e se alqguém achava que depois de Columbine isto não conteceria mais, foi por pouco... Vale perguntar por que não temos estes tipos de malucos por aqui... Ora, temos, mas em menor escala, ou periculosidade, se podemos assim dizer. Lembremos de Mateus da Costa Meira, condenado por atirar contra a platéia e matar três pessoas que estavam no cinema do Morumbi Shopping, em São Paulo, em 3 de novembro de 1999. Na ocasião, Meira, armado com uma submetralhadora 9 mm, atirou contra as pessoas que assistiam ao filme "Clube da Luta", na sala 5 do cinema. Ele cursava o 6º ano de medicina da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo.

Por isso, camaradinha, se você pensa em cursar uma faculdade nos EUA, pense duas vezes: Os EUA são aqui (ou deveria dizer aí), no Brasil. Não é preciso ir até lá para ser morto por um psicopata, nem para presenciar, impotente, poderosos lobbies agindo em causa própria, na via contrária aos interesses da população e do país. E discriminação racial tampouco é algo que não estejamos acostumados a presenciar.

Como disse o editorial do blog do pessoal do Campus da Universidade Técnica de Virgínia: “The biggest complaint about media is how they overdo it and never report enough good news. Hopefully, we can change that. “Invent the Future””

Se me sobrar um tempinho - o que anda difícil - vou traduzir as peças, só por curiosidade e exercício.

Tuesday, April 10, 2007

boataria sofisticada

PAREM AS PRENSAS!!!
OS AMERICANOS ESTÃO ROUBANDO (sic) A AMAZONIA E SÓ A GENTE NÃO SABE!!!

Acabei de receber um email intitulado "PARA FICARMOS INDIGNADOS!!!!" - assim mesmo, com esse tanto de exclamação - sobre o roubo da amazônia pelos EUA. Realmente é para se indignar, mas não com os americanos...

Hoax - puro boato

Hoax é uma palavra inglesa para definir uma travessura que se faz com a clara intensão de enganar ou ludibriar alguém, afirmando inverdades e observando, por algum tempo, os efeitos de sua divulgação. É o nosso famoso boato! E todo boato precisa de um grupo de pessoas inocentes ou desinformadas o bastante para divulgá-los. Hoje em dia, com a popularização dos computadores pessoais e particularmente da internet, um novo mal bate à nossa porta - ou à nossa tela: os chamados boatos virtuais. Verdadeiras pragas eletrônicas, são consideradas tão daninhas quanto os SPAMs.

Como tudo que amadurece tende a melhorar, talvez fosse razoável esperar uma diminuição no tráfego dos boatos infundados na redinha, mas todos os dias surgem milhares de novos internautas - os newbies - que, fascinados, começam a navegar e a descobrir um mundo de novas possibilidades, e todo o lixo que vem junto com ele, assim como seus truques e armadilhas. E é geralmente assim que novos boatos surgem e antigos ressurgem, com a mesma força de um novo, ou por vezes até com maior intensidade que da primeira vez, pois as pessoas tenderão a pensar que já viram ou ouviram isso em algum lugar.

Este que vos comento é, provavelmente, o maior boato que já surgiu na Internet brasileira, e alega a existência de um mapa da América do Sul sem a região amazônica. O suposto mapa faria parte de livros didáticos de geografia utilizados em escolas americanas, que estariam ensinando aos alunos que a região está sob a tutela norte-americana desde a década de 80. A Amazônia aparecia denominada como Former International Reserve of Amazon Forest (Finraf).

Consta que a boataria foi criada pelo site ultra-nacionalista http://brasil.iwarp.com. O fato é que tal boato chegou aos e-mails da Ouvidoria da Câmara dos Deputados em 2000. O assunto foi levado tão a sério que acabou sendo objeto de reportagem na TV, nos jornais de grande circulação e até de um Requerimento de Informações para o Ministro das Relações Exteriores (REQUERIMENTO DE INFORMAÇÕES Nº 2.301, DE 2000). Uma rápida busca na internet nos mostra o absurdo da notícia.

Um bom e sustentável argumento são os erros de inglês. Vejam alguns:

- the middle 80's: Gramaticalmente incorreto. O correto seria THE MID 80's
- Cert: Essa palavra não existe. O correto seria CERTAIN.
- Explorate: Essa palavra não existe. O correto seria EXPLOIT.
- Exploration: Essa palavra significa descoberta. O correto seria EXPLOITATION.
- full destroying: Gramaticalmente incorreto. O correto seria TOTAL DESTRUCTION
- It took area of eight South America's countries: Gramaticalmente incorreto. O correto seria: TAKES (TOOK) UP AN area of eight SOUTH AMERICAN countries. (Mesmo escrito assim, não faz muito sentido!)
- ... of the world: Estrangeirismo. Normalmente usa-se "IN THE WORLD"
- Former International Reserve of Amazon Forest: Não soa bem. Em inglês, coloca-se o adjetivo após o sujeito (Amazon (Rain) Forest RESERVE).

tendeu manu? du kct neh =P! aew, essi tipo d iscrita num rola nus livru d istoria vlw? kakaka...

Além do que a suposta matéria didática insinua que esses países da América Latina são cruéis, ignorantes, irresponsáveis, reinos de violência e tráfico com povos analfabetos, primitivos e de baixa inteligência. Mesmo sem entrar no mérito de tais insultos serem ou não verdadeiros, os EUA - apesar de neo-reacionário - é um país "politicamente correto" demais para publicar propaganda maligna contra seus vizinhos latino-americanos, um dos maiores quintais para a descarga do seu lixo tecnológico e industrial.

Por essas e outras, camaradinha, quando você receber aquele email dizendo "Não perca! Se você mandar um e-mail para mais de 10 pessoas, ganha um celular Ericsson grátis"! Não me inclua em sua lista... EU JÁ GANHEI O MEU!!!

Leia mais:
http://www.quatrocantos.com/lendas/54_amazonia_finraf.htm
http://www.quatrocantos.com/lendas/27_amazonia.htm

Thursday, April 05, 2007

Livrai-nos do mal

"Eu quero que esta seja a confissão mais honesta de toda a minha vida." Assim começa "Deliver Us From Evil" (Livrai-nos do Mal), um bravo documentário que nos arremessa direto ao incômodo tema do abuso sexual de crianças, e nos transporta diretamente à escuridão da mente e às entranhas do coração de Oliver O'Grady, um padre irlandês pedófilo que atuou em várias paróquias e comunidades no norte da Califórnia durante os anos 70 e 80.
O'Grady, que é de Limerick, a terceira maior cidade da República da Irlanda, confessou seu problema ao bispo Mahoney, que apenas mandou-o para outra cidade, na esperança de enterrar o dilema e de proteger a igreja católica da desonra e vexame.

O documentário de Amy Berg mistura, de maneira emocionante, entrevistas com as vítimas e seus familiares, com a polícia, depoimentos de teólogos, advogados e psicólogos e o testemunho de Mahoney e Monsignor Cain, superiores de O'Grady e responsáveis por seus serviços, além de entrevistas com o próprio O'Grady, que atualmente anda livremente pelas ruas de Dublin, após cumprir apenas metade da pena de quatorze anos que lhe foi imposta - e isso só se deu após ter abusado de centenas (!!) de crianças durante seus 20 anos de serviços, incluindo um bebê de 9 meses!

Não há narradores no documentário, e os contrastes das entrevistas acabam dando o tom. No começo, o documentário mostra O'Grady como um homem delicado e amável que lamenta tudo o que fez, e vive dizendo que estas coisas não deveiam ter acontecido de maneira nenhuma. Conforme o documentário avança, o que se nota é um homem profundamente atormentado e mentalmente doente. A incapacidade de ter um comportamento humano normal e falta de percepção da magnitude do mal que causou é tanta que O'Grady escreve cartas a suas vítimas esperando encontrar-se com elas face a face, e fazer-lhes um pedido de desculpas formal. "Espero que tiodo o mal que lhes causei seja reparado após nosso encontro." O convite é retirado mais tarde, mas é assim que ele vira-se para a câmera e diz "Espero vê-los muito em breve" e agracia-nos com um sorriso tímido e um piscar maroto.

Se fosse realizado por Michael Moore, provavelmente nem Mahoney nem O'Grady estariam vivos agora, e o próprio Papa Benedictus XVI, na época ainda Joseph Alois Ratzinger, que teve participação no ardil que acobertou O'Grady, teria que dar satisfações, mesmo após George Walker Bush - que carinhosamente chamo de Jorge Caminhador Arbusto - ter decretado sua imunidade jurídica. Não é satisfeito em amaldiçoar O'Grady, Berg sugere que os verdadeiros culpados são o bispo - hoje Cardeal - Mahoney e seu bando de etcéteras, que mantiveram o monstro encoberto. O'Grady, que é incapaz de perdoar seus superiores por ter sido protegido e favorecido, num dado momento diz que deveria ter sido afastado das crianças, das comunidades e das paróquias, para ser tratado. Falando, parece um apelo para a compreensão ou para o perdão. Não é. Melhor que isso, cria uma impressão vívida da profundidade dos danos feitos.


Entregue-se (deliver), de coração e livre-se (deliver) de todo o mal das idéias pré-estabelecidas neste documentário visceral e perturbador... e prepare-se para quebrar alguns paradigmas e idéias pré-estabelecidas do establishment e do status-quo do divino.