Thursday, June 21, 2007

da soberba & mais seis pecados capitais

É a segunda vez que sou chamado de "arrogante", em menos de um ano... Talvez seja hora do meu lado acanhado, acautelado, cauteloso, comedido, desafetado, desambicioso, desempoado, despojado, despretensioso, discreto, ensimesmado, espartano, fechado, humilde, moderado, modesto, ponderado, pudico, recatado, reservado, sensato, simples, singelo, sóbrio, tímido, e ( ... ufa!) compreensível, prestar um pouco atenção no que meu outro-eu fala - ou escreve.

Até aí, pura opinião, e realmente não acho que tenha (ainda) que me preocupar com minha suposta arrogância. Mas foram além...

Dizer que eu me chateio comigo mesmo é demais. Eu diria que eu sou o cara que mais me curto, ao memso tempo que sou o cara que mais curto! Como poderia me chatear comigo mesmo? Estas, ao meu ver, sim são palavras inúteis, que buscam significado onde não se encontra fundamento, a não ser os retóricos.

Vamos lá. Sejamos racionais ao tratar da subjetividade: "arrogante" pode estar relacionado ao ato de arrogar(-se), de atribuir a si algum direito, poder ou privilégio ao qual não lhe cabem. Ou ainda, pode ser a qualidade ou caráter daquele, que por suposta superioridade moral, social, ou intelectual, assume uma posição ou atitude prepotente ou de desprezo em relação aos outros.

Mas não é só isso! Uma palavra - e palavras NÃO SÃO INÚTEIS, como podem por aí pensar - é muito mais do que ela "soa" ou "mostra". Ela é carregada de sentidos "ocultos", tanto em sua etmologia como na sua metalingüagem.

No caso de "arrogante", uma pesquisa básica nos mostra suas origens no latim, antepositivo de "rògo", que pode significar 'dirigir-se a, consultar, propor', com um sentido geral de 'perguntar, pedir', que no português ficou "rogar", 'pergunta, pedido, súplica'; do romano "rugàcìune", 'aquele que pede ou solicita para outrém; pedinte, o que pergunta, o que propõe'; e viaja-se até "rogitatìo", 'pedir a ab-rogação, de ab-rogar, suprimir por lei; tirar, suprimir, privar de', daí chegamos em "abrogátor", 'o que ab-roga; destruidor'; arrogar-se, assumir ou dar-se ares de, atribuir a si sem fundamento; atribuir, conceder', e por fim "arrògans", 'arrogante, altivo', "arrogantìa", 'arrogância, altivez, presunção, orgulho; teima, obstinação'.

Vixe, tá chato isso, né? Mas já estou terminando. No caso do "meu" arrogante, prefiro os sentidos antecedentes da palavra ("consultar", "propor", e num sentido mais recente, o português antigo "rogar", "suplicar").

E para fechar com chave de ouro, peço licensa, para eu também citar! Da série "Os Brutos Também Citam - Reloaded!", só que bem mais chique, pois eu não cito frase, cito provérbio:

Era uma vez um grande porém já idoso Samurai que se dedicava a ensinar a arte zen para os jovens. Numa certa tarde, um guerreiro conhecido por sua falta de escrúpulos apareceu querendo derrotar o Samurai e assim aumentar sua fama. O velho aceitou o desafio e o jovem começou a insultá-lo. Chutou algumas pedras em sua direção cuspiu em seu rosto, gritou insultos e ofendeu seus ancestrais. Durante horas fez de tudo para provocá-lo, mais o velho permaneceu impassível.

No final do dia, sentindo-se exausto e humilhado, o guerreiro retirou-se. Os alunos, perguntaram ao mestre como ele pudera suportar tanta indignidade. O mestre responde:

"Se alguém chega até você com um presente, e você não o aceita, a quem pertence o presente?"

"A quem tentou entregá-lo", respondeu um dos discípulos.

"O mesmo vale para a inveja, a raiva e os insultos", concluiu o mestre. "Quando não são aceitos, continuam pertencendo a quem os carregava consigo".

E cadê os 6 pecados capitais do título?, perguntariam alguns. Ora, as senhoras avareza, luxúria, inveja, gula, ira e preguiça também foram devidamente entregues no pacote, mas como não as aceitei, devem lá estar com seus entregadores...

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