Monday, January 28, 2008

Por uma vida menos ordinária

Este ano não fui convidado para Davos. Nem ano passado, tampouco o anterior, e o anterior...É o sétimo ano consecutivo que mando minha inscrição mas novamente não me convidaram. Desde 2001 eu tento me inscrever em Davos sem sucesso. Não que eu queira realmente ir... quero mesmo é participar do FSM - Fórum Social Mundial de Porto Alegre, mas como o FSM surgiu como uma "resposta" a Davos, achei que deveria conhecer Davos primeiro. A mim soa ideologicamente bem mais justo, não?

E se não me chamam é porque ou não sou bem aceito nos meios econômicos internacionais (coisa que duvido!) ou acham que eu não tenho nada para contribuir - uma hipótese bem razoável, eu diria! Seja como seja, não podem me impedir de acompanhar a maratona lá de casa, entre garrafas de vinho e latas de cerveja! E entre uma taça e outra lata, pude reparar que só se fala em CSR (Corporate Social Responsibility) - ou Responsabilidade Social Empresarial (RSE). But... WAF does it mean?

Basicamente é um fator de competitividade para os negócios. O que identifica uma empresa competitiva é basicamente o preço de seus produtos. Tivemos a onda da qualidade, focada em produtos e serviços, mas não colou: no final o que manda é o preço. Agora a onda é que as empresas devem ser socialmente e ecologicamente responsáveis. Ora, nada mais justo... se os custos desta "consciência" não estourassem nos preços ao consumidor. Aí, a coisa toda nunca muda de lado, ou seja, a corda sempre estoura na mão do palhaço do consumidor: se você não pagar mais caros por produtos ecologicamente corretos e socialmente responsáveis, a culpa será sua, pois os empresários estarão fazendo sua parte - coitadinhos dos empresários! - que é disponibilizar produtos verdes, repassando devidamente os custos extras. No fundo, eles continuam produzindo a velha linha dos produtos que continuam sendo consumidos pelo consumidor "sem consciência" - leia-se dinheiro.

Porque os empresários - coitadinhos dos empresários! - não sacrificam suas margens de lucro para tornar os produtos verdes mais viáveis? Se não for assim, onde está a responsabilidade empresarial afinal?

Ouvindo a uma autoridade chinesa, a coisa da responsabilidade ficou bem clara: "Estamos aqui para ver o que os EUA estão fazendo ou irão fazer em relação ao meio-ambiente". E o reporter, "Mas o que a China está fazendo?", e ele "Isso depende dos EUA". Quer explicação melhor que esta? Aí alguém poderia perguntar, "Mas senhor, com todo o respeito... dá pra explicar que PORRA tem o mundo a ver com isso?" Ah, se me convidassem...

Mude alguma coisa no seu mundinho, intocável. Faça algo consciente! Alguns amigos tomaram uma bela iniciativa: só compram produtos orgânicos (que são mais caros), passaram a reciclar tudo o que é possível, mesmo que lhes dê um trabalhão. Impressionante como pequenos atos podem mudar a sua vida e a das pessoas ao seu redor. Talvez você não esteja mais vivo para ver os resultados efetivos do seu pequeno ato, mas saberão que foi você quem plantou a semente... e mesmo que não souberem, o importante é que a semenete está plantada. ALGUÉM precisa plantar, não é mesmo? E por que não VOCÊ?

Eu sei... de novo sobrou pra você, não é? Pois é, mas é que ainda levará um tempo para que o capitalismo deixe de ser selvagem, e infelizmente o mundo não pode esperar que os comedores-de-dinheiros parem de comer enquanto suas barrigas ainda não estouraram - eles precisam de mais, sempre mais!

Do que se espera e de quem se espera

De um artista espera-se mais do que uma boa obra, espera-se comportamento. É por isso que não gosto de Caetano. E já que falei disso, deixa eu abrir um parênteses aqui, pois já queria ter comentado isso antes. Considerando que de um artista se espera mais do que a obra, mas também comportamento, o que pode haver de comum entre Amy Winehouse e Caetano Veloso? O comportamento escroto, sem dúvida. Amy é tão previsivelmente destruitiva que chega a ser cômico. A cara dela chapada de crack ou que porra seja aquilo é simplesmente hilária. E o melhor de tudo é que passa na TV, está em todos os jornais e na Internet, o que ajuda na já demasiada mediocridade da mídia... e no auge da sua AUTO-destruição, ela poderá perguntar "o que vocês têem a ver com isso? Realmente nada mesmo, Amy. Quer se destruir? Ótimo, problema seu, mas faça direito, pois já temos Reality Shows demais para encarar mais este, ainda mais improvisado. Ou se mata logo ou vai pro rehab... de uma vez, e muda de música, por favor! Pode ser legal, mas enche o saco também! Além da letra só falar bosta com merda... Não tem nada lá!

Talvez Amy ainda não descobriu aquilo que todo drogado descobre, hora ou outra, pelo caminho mais árduo, que a princípio ninguém entra nessa para se matar. A idéia pode até mudar no decorrer da jornada - para baixo, invariavelmente para baixo! - mas todo mundo começa experimentando pelo (suposto) prazer que a coisa traz, sem se dar conta da destruição; seja por se achar imune, seja por não acreditar que seja destrutiva, seja por ignorância.

Fim do parênteses. Esperar um determinado comportamento, uma determinada postura das pessoas. De um Presidente da República espera-se mais do que choro e condecoração a garis honestos, espera-se honestidade em forma de trabalho e transparência. Dos oposicionistas, espera-se mais do que o oportunismo popularesco e lobbies irresponsáveis. Espera-se que todos pensem no país, não em primeiro plano, mas em único plano. Todos eles estão lá para servir o país, e não para tirarem algum tipo de vantagem. De empresários responsáveis, espera-se que doem algo em nome do bem-estar da sociedade. Dos abastados, espera-se que se compadeçam da miséria dos menos afortunados - mas aí já é pedir demais, pois até algumas religiões já mostram que riqueza e compaixão não se compadecem...

A honestidade não precisa de propaganda, nem de homenagens, precisa de exemplos e perseverança. Quem plantar joio, jamais colherá trigo. Busquemos alternativas, por um mundo menos ordinário de se viver!

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