Monday, May 19, 2008

a gente não quer só comida

Uma vez que o neo(sic)liberalismo já está morto e enterrado, é preciso mais que rápido encontrar outra coisa pra botar a culpa pelas desgraças do mundo. E devido à onda de protestos pela alta dos preços dos alimentos no (terceiro) mundo, vozes prontamente se levantaram à procura do bode-expiatório para lhe queimar no fogo a pele, a carne e o excremento (como ensina Levítico, 16:27). O escolhido - como não podia deixar de ser - foi aquele senhor de barbas e cabelos longos e brancos, sofisticadíssimo, com anéis de ouro e diamante em seus dedos longos e de unhas afiadas... o capital! Capital, também conhecido como Mercado, Neoliberalismo, Liberalismo, e vários outros nomes, fazendo-nos crer que no fundo, dinheiro é muito mais problema do que solução.

Bio-combustível? Subisídio agrícola? Ascenção das classes desprivilegiadas? Invasão de chineses e indianos no mercado? Tanto faz! A culpa, certamente, é do vão e vil metal, seja qual seja o nome que lhe derem agora. E no caso dos alimentos a coisa não é diferente, pois a falácia do mercado auto-regulador não colou, e a fórmula "aumento da demanda" + "aumento da produção" = "sucesso garantido" só tem emplacado insucessos. Uma chance ínfima seria adicionar no caldeirão o tempero dos "acordos multilaterais" e da "regulamentação". Que seria o "Modelo Europeu" - "Subsídios". Mais ou menos o que A Rodada de Doha tenta fazer desde 2001, mas os subsídios agrícolas são o principal tema de controvérsia nas negociações.

Inflação alta no mundo devido ao aumento do preço dos alimentos, que se justifica pelo aumento da demanda, mal tempo para plantio e a disparada do preço do barril do petróleo. Até o Lula, na sua simplicidade quase simples, ou em sua sabedoria quase sábia - esta merece! - singelamente se apressou em declarar que o Brasil não é culpado pela produção de etanol à partir do milho, mas os EUA sim, pois eles transformaram campos antes usados para comida em campos para combustível... mas o Brasil não! Ora companheiro, se falta alimento no mundo - e o mundo é um só - cadê a "responsabilidade"? Se todo mundo tirar o cú da reta, meu amigo, aí é que o barco afunda, e a merda passa do nariz mesmo! Além do quê, o Ziegler (Jean Ziegler, relator da ONU) nem estava falando do Brasil, estava? Mas é que Lula quer espantar todo e qualquer possível fantasma, já que o preço das terras no Brasil andam em alturas nunca dantes imaginadas, e tudo graças ao agronegócio, com a valorização dos grãos nos mercados externo e interno e a disputa por área entre biocombustíveis e alimentos.

Mas vale lembrar que quando se deve no cartório, é melhor sanar a dívida logo, ou o credor vem atrás. Se o Brasil quer se orgulhar pelo etanol politicamente correto, deve se preocupar com o que dizem as (não tão) más línguas sobre a soja brasileira: vilã causadora de desmatamento e contaminação dos rios, que proporciona a concentração de terras e ainda por cima é responsável pela exploração de trabalhadores no Cerrado e na Amazônia.

No comments: