Wednesday, July 30, 2008

alô, alô

Lembro como se fosse ontem, andando pela Rua Coronel Xavier de Toledo, no centro de São Paulo, quando ouvi o barulho de um telefone tocando. Em seguida, um executivo - ele claramente era um "alto" executivo - apoia sua pastinha 007 e saca um telefone celular, meio atrapalhado, meio constrangido, aperta um botão leva o aparelho até a orelha e diz, em alto e bom som: "ALÔ?"... nada. "ALÔ? ALÔ?", movendo-se freneticamente, tapando um ouvido com o indicador, enquanto sustenta a pasta no polegar. "ALÔ?"! A esta altura, todo mundo olhava para o homem. Pudera, nos idos de 1988 - há meros vinte anos - pouco se ouvia falar de celulares, quanto mais ver um pertinho de você.

Hoje em dia, quem não tem um celular é tido como um estranho, um alheio. "Como alguém pode viver sem o celular?", exclamariam, espantados! A coisa passa dos limites, até. Aqui na Irlanda, temos 138 celulares para cada 100 habitantes. Luxemburgo tem 158! É 158% de celular, camarada... não é mole não! Mas no momento que você ler isso, estes números já mudaram... Em Pindorama a Anatel prevê um celular por habitante até 2018 (link).

Pois é, a figura do "alto" executivo falando numa coisa que mais parecia um tijolo ficou pra trás, junto com a piadinha do político brasileiro que, num encontro com políticos europeus, recebeu uma ligação no celular. Todo pomposo, atendeu a altos brados... ao desligar, sorriu vantajosamente dizendo "essas tecnologias... ", quando um dos europeus, frente tamanho desrespeito fanfarrão, respondeu: "A nós também é muito útil... até as prostitutas já os têm"! Eu, particularmente, não entendi o que ele quis dizer com "até as prostitutas"... não é tudo a mesma coisa?!? Eu acho que foi um elogio aos políticos, e uma ofensa às mulheres da vida [nada] fácil.

você ainda vai depender disso...

Mas agora que celular é coisa do passado, precisamos de uma nova dependência, algo que te faça sentir aquela sensação de que agora sim, você se encontrou, e se fazer a perguntar "como é que eu vivia até hoje sem isso?" Nãããooo! Não estou falando da Internet, não! Bem-vindos sejam à sua mais nova dependência... o GPS! Como não?!? Quem nunca ouviu falar? Até na Wikipédia tem! E em português também!

E que ele é útil, sem dúvida... que ninguém ouse aqui negar, mas que vai acabar com a graça do "se perder", isso vai! Com o GPS se vai ao longe... muito além de Roma, e sem precisar da boca pra perguntar, só dos olhos fixos na telinha, que pode variar dos 2.5" do celular até pequenas TVs de 5.2". E se você está se perguntando pra quê você precisa disso, ora, pode ser pra te levar aonde você precisar ir! E mesmo que você não vá a nenhum lugar que você já não saiba ir, você sempre pode ligar o GPS assim mesmo, e fingir que está usando... Eu particularmente faço isso às vezes. Outra muito boa, num futuro próximo, vai ser o rastreamento [nossa, como eu "lutei" pra não escrever traceabilidade] das crianças. Pais poderão saber onde seus filhos estão... e poderão fugir na direção contrária! Pelo menos não serão mais pegos "com as calças na mão!"

Pois é, camaradinha... idéias surgem, só falta criarmos a dependência! Aí, como já dizia o poeta:
o caminho é fácil:
basta experimentar na primeira,
curtir uma na segunda,
ver pra crer na terceira,
e a partir da quarta deixar de contar...

Tuesday, July 29, 2008

minha despedida...


Embora sozinho, eu também mereço... Esse almoço eu me ofereci no sábado, em despedida a mim mesmo, já que partia para Silkeborg, Dinamarca, no Domingo. Nada demais, só a minha "já clássica" Flying Mushrooms Salad, com meus Aspargus con Mozzarella e Proscuito al Rollè, e meus Pimientos Rellenos. Acompanhou um modesto Pedro Ximénez.

Da janela do hotel...

Nove e meia da noite, em Silkeborg...

Wednesday, July 23, 2008

Sarkozy Bonaparte


Os irlandeses receberam esta semana a visita do Presidente da França - e atualmente da Europa - Nicolas Sarkozy, que desembarcou aqui para "ouvir" sobre o "problema irlandês". Basicamente, ele queria saber por que os irlandeses votaram não. Razoável para um francês, não?

O alvoroço aqui causado foi tão grande que, já que ele disse que viria para ouvir, prepararam vários discursos para ele, desde os mais suaves, como "mas senhor presidente, o senhor não acha que a opinião dos irlandeses deveria ser levada em conta?" até coisa como "NO significa NON em francês".

Ao final, Sarkozy mostrou porque é tão popular: numa lição de diplomacia, realmente ouviu, e ninguém teve a ousadia de levantar a voz para ele, ou mesmo de mandar espetadas referentes a democracia ou referendum, tamanho o carisma, a calma e a simpatia do homem...

É, meu camaradinha, assim ele vai longe... e acabará conseguindo o que quer: o YES irlandês!

Monday, July 21, 2008

O jegue e o abacaxi


O jegue na sala é uma figura de linguagem muito usada na política brasileira para representar como políticos tratam certos assuntos de interesse da população. A figura é a seguinte: instala-se uma família de 4 pessoas num cubículo de 2 por 2 (metros quadrados). A primeira reação das pessoas seria dizer que a sala é muito pequena para viverem 4 pessoas. Agora, se na sala fosse deixado um jegue, digamos por um mês, e ao cabo do mês o jegue fosse retirado, as pessoas diriam, aliviadas, "Ah, agora sim ficou bom"!

O que muito nos espanta é que tal tática política esteja sendo utilizada também aqui na Irlanda! Como já havia sido publicado aqui, a SFA (Small Firms Association), na voz da sua diretora Patricia Callan, clama a redução do salário mínimo de €8.75 para €7.65 por hora. O que alegam terem descoberto neste final de semana é que tudo não passa da "política do jegue". Como vem chegando aquela época do ano onde se fazem alguns ajustes de contas, os salários poderiam sofrer um reajuste - não um aumento, vejam bem! - referente à inflação do período, que é chamado aqui de "ajuste do custo de vida". Visando uma estratégia para não conceder tal ajuste, cria-se a impressão que a diminuição do salário é uma possibilidade a ser discutida com viabilidade pelos empresários. Depois de muita discussão e indignação das pessoas, desistirão da idéia e não diminuirão o salário. Dirão "OK, não reduziremos o salário mínimo, mas também não podemos aumentá-lo", e saem contentes, eles, os empresários!

Será que o povo vai engolir esse abacaxi com casca e tudo?

Friday, July 18, 2008

Adote um Abstêmio

Pra vocês verem como não sou injusto, tampouco pego no pé de quem não simpatizo... O Dimenstein soltou uma ÓTIMA hoje na CBN. A campanha "Adote um abstêmio!"

Abstêmio, palavra não muito usada num mundo onde o álcool é parte obrigatória da sociabilidade humana, é um adjetivo e substantivo ao memso tempo. Do latim abstemìus (aquele que se abstém de beber), é provavelmente derivado de um substantivo "témus","témum", que deve ter designado uma bebida inebriante e estupefaciente ou ainda uma planta da qual se tirava um licor fermentado.

Mas enfim, a campanha "Adote um abstêmio" é basicamente simples. Procure um abstêmio que não tenha amigos e esteja disponível aos finais de semana. Não deve ser difícil, já que abstêmios não são lá muito populares, justamente pela sua natureza não-alcoólica. Uma vez que você tenha um abstêmio "em mãos", que tenha carro e dirija bem, é claro, chame seus amigos beberrões e caiam todos na gandaia. O abstêmio poderá beber sucos, refrigerantes e coquetéis não alcólicos à vontade, pode até jantar, tudo por conta do grupo, e todo mundo fica feliz... você e seus amigos que podem beber à vontade, e o abstêmio que vai fazer novas amizades.

Thursday, July 17, 2008

onde o ser humano não tem vez



ou "apenas mais uma definição de Globalização"

A Globalização controla o dinheiro, a economia, as movimentações financeiras e também as movimentações humanas. É ela quem determina aonde as pessoas devem ir - que é onde há dinheiro. Para os pobres, dinheiro é apresentado em sua forma mais honesta, embora a mais dura: o trabalho. Trabalho este que a Globalização não está dando conta de gerar, pois sua maneira de gerir a economia não tem se mostrado muito eficiente - não para a maioria - e por isso agora nega o trânsito que antes impusera. Proíbe os pobres de procurarem um lugar melhor para trabalharem e viverem, já que seus países, agora devastado pelo enxame de gafanhotos da economia, não oferecem mais condições para tal.

Mas enquanto os prejudicados e os descontentes estiverem do lado de lá da cerca - o lado pobre - não importa quantos sejam, serão sempre - e cada vez mais - massacrados, pois a Globalização é o totalitarismo em sua forma mais sofisticada, já que não levanta bandeiras, pois não as precisa, não define suásticas nem outro símbolo qualquer, pois deles não faz conta, não precisa de cor nem ideologia, pois está em todas elas, em toda a parte, de todas as maneiras...

Globalização é onde os ricos governam e os pobres vivem como podem.

Algema nele!

Olha só... o Salvatore Cacciola está de volta. E nem foi algemado, o safado... que injustiça! Que país é este?!? E o Supremo Tribunal de Justiça que concedeu a liminar para que o Ladrão não fosse algemado ao desembarcar no Brasil? Deveria sim, ser algemado, só pela graça, não pelo desrespeito!

E ainda o pachorrento tem a cara-de-pau de dizer que não é foragido! Alega o menino que quando saiu do Brasil, estava sob a graça do Habeas Corpus concedido pelo vizinho Marco Aurélio Mello, ministro do STF. Ok, correto. Aí a criança complementa que, dois dias depois de chegar à Itália, soube que o Habeas Corpus havia sido revogado, aí ele simplesmente resolveu não voltar ao país! Ora, ora, Cacciola, use a cachola! Se não voltou ao país virou foragido, né? Até criança sabe! Desrespeitou a justiça e fez a besteira de ir a Mônaco. A segunda besteira, pois a primeira for ter saido de Pindorama. Fugir pra quê Cacciola? Aqui você tem tudo? Pode apelar, pedir Habeas Corpus, pagar advogado inescrupuloso pra burlar a caquética justiça brasileira e achar brechas pra te livrar a cara, além do que, depois de um tempo, com a ajuda da nossa maravilhosa mídia, vocé cai no esquecimento, e tudo volta a ser como antes, assim você pode voltar a "botar a mão na massa"!

Aspetta Salvatore, aspetta che te fa bene... tua algema tá chegando! O problema vai ser descobrir em qual praia estará tomando seu banho de sol...

Wednesday, July 16, 2008

Walkstation

Uau! Assim até quem não é muito chegado no trabalho vai acabar gostando! É a mais recente novidade para os consumidores inveterados de produtos inúteis que sempre acabam empoeirados no fundo do quarto de dispensa: a Walkstation! Como poderíamos traduzir isso? Estação de caminhada? SOa um pouco ridículo, não? Bem, não se preocupe, porque o negócio É ridículo!


Mas o pior mesmo é que marketeiros sem-vergonha querem traçar aspectos (pseudo)científicos para dar fundamento à bugiganga, que em seu modelo básico custa a BA-GA-TE-LA de US$4,500.00! [Clique Já!]

Pode ser que você, meu amigo, minha amiga, não ache o marketismo semvergonhento tão absurdo assim, afinal, é clalro que se você ficar horas andando enquanto surfa na net será mais saudável do que ficar com a bunda na cadeira, pois você não sentirá dores nas nádegas devido a longas horas sentado, não precisará se alongar a cada 20 minutos, como manda a cartilha ergométrica (vamos assumir que você faça os alongamentos, ok?), e manterá seu sistema cardio-vascular mais ativo!

Do outro lado, pesa o fato de que sua concentração pode ser prejudicada, haverá momentos em que você terá que decidir-se entre clicar um OK ou limpar o suor que escorre no seu olho... e nessa, você pode literalmente tropeçar! Há também os colegas de trabalho, que podem se incomodar com seu cheirinho, já que neste ritmo de trabalho, você suará muito mais.

E para os mais radicais...

E se você enjoar de sua Walkstation - afinal, ela só lhe permite algo em torno de 2mph (3Km/h) - e sentir que precisa de algo mais radical para bombar seus músculos, então, meu amigo, minha amiga, o que você realmente precisa é da nova Springflex... hum, o nome não ajudou, né? Ok, que tal Workout-Station? Ah, agora sim! A Workout-Station é uma BE-LE-ZA, feita sob medida para workaholics - ou não!

De fácil instalação (120 parafusos, 80 porcas e 40 arroelas) vocé pode adaptá-la à sua mesa de trabalho - até mesmo à sua Walkstation! Com ela você poderá fazer mais de 120 exercícios, e o melhor de tudo é que você pode ficar sentado - isso mesmo, SENTADO - em sua mesa enquanto malha, olhando, abobalhado, para o monitor do seu computador! Não é incrível? E para provar que não é palhaçada e que o negócio existe mesmo, você pode comprar este brinquedinho super-útil online por apenas US$90! [Clique Já!]

Mas por favor: se você realmente comprar algum destas quinquilharias, seja por impulso ou por necessidade, melhor seria instalá-las na sua casa - talvez no meio da sala, ou no quarto de dormir, quem sabe - e assim poupar seus colegas de trabalho do terrível espetáculo!

Essa gente tem cada uma, né?

Tuesday, July 15, 2008

A Arte da Impopularidade

Tem uma fábula de Esopo que diz que um vaqueiro pastava seu gado quando deu falta de um novilho. Desesperado, saiu em busca pelos arredores, mas não o encontrando, fez promessa a zeus de sacrificar um cabrito se soubesse quem era o ladrão. Ao entrar no bosque, deu de cara com o novilho sendo devorado por um leão. Levantou as mãos para o céu e disse "Ó poderoso zeus, prometi-te imolar um cabrito pela informação do ladrão, agora te ofereço um touro para que não cai nas garras do ladrão!"

Moral: Quando buscar uma solução, tenha em mente que, ao encontrá-la, ela pode tornar-se o próximo problema.

Crise e Redução do Salário Mínimo

Hoje só se falou disso: redução do salário mínimo. Patricia Callan é a tal do título deste post: deve adorar se impopular! Candidata a Rainha da Impopularidade [juntamente com Nicolas Sarkozy], a diretora do "Small Firms Association" da Irlanda, uma espécie de Associação das Pequenas Empresas, está em campanha para uma redução de €1 no salário mínimo irlandês, que hoje é de €8.65/h. Segundo ela, tal medida tornaria a descendente economia irlandesa mais competitiva.

Segunda a fulana, a Irlanda, que tem o segundo maior salário mínimo da Europa (só perde para Luxemburgo) "precisa tornar-se mais competitiva, caso contrário continuará perdendo empresas e aumentando sua taxa de desemprego".

Ora pois, perguntariam alguns, como então Luxemburgo, que tem o maior salário mínimo da Europa, tem o menor índice de desemprego? E mais, numa pesquisa rápida descobri que quanto menor é o salário mínimo, maior o desemprego. Salário mínimo e desesmprego são inversamente proporcionais!

Alguns dos países com os salários mais altos no ranking são Luxemburgo, Irlanda e Holanda. Suas taxas de desemprego são, respectivamente, 4.6, 4.7 e 2.9. Já em países com salários mais baixos, o desemprego é mais alto, como Reino Unido (5.2), Itália (6.5) e Espanha (9.9).

Embora os argumentos para a redução do salário mínimo até agora só tenham causado protestos veementes contra a SFA, o mal mesmo é que tal campanha parece estar sendo levada a sério... com muita seriedade.

Brasa para a minha Sardinha

A História não muda, apenas dá voltas. Atualmente a Irlanda tem o segundo maior salário mínimo da Europa - o primeiro é Luxemburgo - e isso está sendo usado como o motivo da [suposta] crise irlandesa, onde casas que não valem mais do que €200,000.00 eram vendidas a €600,000.00 e agora valem apenas €400,000.00. É essa a crise, então? O fim da putaria mercadológica? Parece justo que peçam para tirar um euro do trabalhador, enquanto seus patrões passeiam em seus carrões até suas casas de campo?

E já que comecei com uma fábula, tambem encerro:

Tendo o leão e o urso encontrado um filhote de cervo, se atracaram num feroz combate para ver quem ficaria com a presa. A raposa que por ali pasava, vendo-os extenuados pela luta, se apoderou do cervo e correu passando tranquilamente por eles. Tanto o urso como o leão, esgotados e sem forças para se levantarem, murmuraram "Que desgraçados somos nós! Tanto esforço e tanta luta para que a raposa fique com o prêmio!

Moral: Ao empenharmo-nos em não querer compartilhar, podemos perder o todo!

Confira aqui as fontes dos dados sobre Salário Mínimo e Taxa de Desemprego

Monday, July 14, 2008

O Rei da Pérola

ou A Maneira Errada de Dar a Notícia Certa

Pérola, por extensão de sentido figurado, pode ser o ato de "... dizer coisas finas, preciosas, a quem não é capaz de as entender". Usando a nossa famosa IRONIA, podemos dizer que quem diz uma pérola, perola - do verbo perolar; causar ou emitir pérolas - ou seja, diz uma tremenda besteira!

Gilberto Dimenstein é o que eu chamo de "O Rei da Pérola". Ouvir sua coluna na CBN é uma experiência extasiante, não fosse transmitida para milhares de ouvintes como coisa séria, e não peças do mais fino humor. Hoje ele perolou que "No Brasil até pouco tempo atrás, morria-se mais de acidente de trânsito do que por assassinatos. Mas agora, uma coisa IMPRESSIONANTE está acontecendo... [e antes de falar, ele ressalta: Olha só que boa notícia!"]. Estamos invertendo o quadro!"

OK, nós sabemos que ele quis dizer que está se morrendo menos de acidentes de trânsito, mas "invertendo o quadro" significa que está-se morrendo mais de assassinatos!

Pior que o Gilberto, só mesmo o Ethevaldo Siqueira, do Mundo Digital! Ô gente pra falar mal, sô!

Não acredita em mim? Confira você mesmo!

Gilberto Dimenstein
Ethevaldo Siqueira

Friday, July 11, 2008

Há dez anos atrás...


Há dez anos atrás eu publicava esporádicos artigos num jornal local de São Caetano do Sul, na Grande São Paulo. Não lembro o nome do jornal e também duvido que tenham website, por isso, publico um artigo que encontrei em meus arquivos...

República Federativa Do Brasil S/A

O problema é que o brasileiro sempre se contentou com modelos importados; tudo que é importado é bom. Tanto é costume nacional que até nossas elites e nossas instituições adotaram um novo (1938!) modelo mundial de economia, dito neoliberalismo, que de neoliberal só tem a política livre de preços e o sucateamento do Estado, uma vez que a atividade estatal empresarial deveria ser substituída pela social, o que notoriamente não ocorre no ritmo das nossas expectativas precariamente humanas, mas o leilão dos bens públicos ovacionados com base em falsas necessidades sócio-econômicas está a todo vapor. Não falta discursador pra falar da importância de se privatizar esta ou aquela empresa — empresas estas de setores primários e/ou estratégicos, como Eletrobrás, Telebrás, CSN.

E qual é o grande discurso? Atraso tecnológico-administrativo, corrupção e cabide de empregos privilegiados. Ora, quem põe incompetente na presidência e nas diretorias das estatais por acaso é você, seu vizinho ou eu? Quem pratica o patriarcalismo, o familismo, o próprio nepotismo brasileiro é o faxineiro? E faxineiro é cargo privilegiado?

Não é e nunca foi segredo a ninguém e até o mais ingênuo garoto de 5a série já sabe que político e corrupção são sinônimos e só não foi grafado no dicionário porque há raras, mas muito raras exceções. Empresa estatal é lugar pra família, pros amigos, família dos amigos, amigos dos amigos, cabo eleitoral, soldado-raso eleitoral… menos pra administrador competente, honesto, que tem um olho na empresa e outro na sociedade, e não os dois no próprio bolso.

E temos aqui outro problema: a intelectualidade brasileira falhou no seu papel de ampliar a percepção do possível do povo, preocupou-se em discutir o efêmero (na janela) enquanto a banda passava, e hoje se vê bloqueada em dois fatores, um intelectual e outro moral.

Intelectual porque concebeu idéias e tão somente idéias. Não adianta filosofar, é necessário um sistema jurídico diferente, um sistema econômico diferente, um sistema político diferente, já que nosso presidencialismo parece desenhado para alimentar os mesmos impasses políticos de sempre, freando qualquer mudança efetiva nas estruturas — todas — do poder.

Moral pelo descrédito da esquerda(?!), da desorientação ante a perplexidade dos fatos, o bombardeio tardio e vazio, muitas vezes ao léu, em culminância com a inação por simples ignorância.

Se a lógica do governo conclui que para acabar com a corrupção, o cabide de empregos e o atraso tecnológico e administrativo da empresas estatais é preciso dá-las, perdão, vendê-las, sinto muito mas há uma incoerência, pois a primeira — e quem sabe a única — privatização que este país deveria sofrer, é a do governo.


A mim fica claro que não muita coisa mudou no país durante os últimos dez anos...

Let's Get Lost


Semana passada tive o prazer de assistir ao documentário Let's Get Lost do diretor Bruce Weber, sobre o trumpetista de jazz Chet Baker.

O filme, todo em preto-e-branco, é um apelo poético ao legado de Baker, uma viagem em sua carreira, alternando cenas do jovem e promissor trumpetista dos anos 1950, quando fazia parte do chamado "West Coast Cool", com cenas dos seus últimos dias de heroinômano e decadente músico que tentava reerguer-se - o filme ficou pronto pouco depois da morte de Baker. É impressionante o contraste do rosto jovem do Baker dos anos 50 com o envelhecido Baker, distante e indiferente, com um rosto que mais parece uma uva-passa!

Além da música intimista de Baker, o documentário traz também entrevistas com seus filhos, ex-mulher, amantes, e músicos. Definitivamente um must see!

Clodô


Quem diria, o Clodovil! Justo ele, na qual eu NUNCA ao menos PENSARIA em votar, protocolou uma emenda constitucional que propõe o corte de 263 vagas na Câmara, e reduzir assim o número de deputados dos atuais 513 para 250. Clodovil - Clodô, para os íntimos - alega que o corte traria grande economia aos cofres públicos e ainda reduziria a corrupção no País.

Dechavando o Bagulho

Deixa eu entender direito... quer dizer que reduzindo o número de deputados diminui a corrupção? Deixando as complicadas fórmulas diferenciais de lado e aplicando uma regrinha de três bem simples, concluímos que deputado = corrupção. Sendo assim me pergunto, hipoteticamente, por que ao invés de DIMINUIR não ACABAM logo com os deputados, e conseqüentemente com a corrupção?

Desculpem a simplicidade do pensamento, mas há momentos em que só através de AÇÃO se é capaz de fazer alguma coisa... Eu sei que não é bem assim que a política e os políticos funcionam, mas... não custa sugerir, não é mesmo?

Meu caro Clodovil, se sua emenda emplacar, você já terá feito muito mais do que qualquer outro deputado naquela casa... E sendo assim, poderia, mui orgulhosamente, ser um dos cortados!

Que achas?

prende-solta solta-prende



Coisa mais chata isso, não? Parece criança mimada, com brincadeira de mão: um bate e o outro revida, um bate e o outro revida... sem fim! Soltaram o Naji Nahas e o Celso Pitta e prenderam o Daniel Dantas.

Não vou blogar esta palhaçada não!

Thursday, July 10, 2008

Viva o Dia da Pizza

ou A polícia que prende e a justiça que solta


Como é que a justiça quer ser levada a sério soltando o Dantas? E ainda mais sendo na calada da noite? E ainda mais com o parecer de apenas um juíz? E ainda mais com tantas acusações contra ele? E ainda mais com o agravante da tentativa de subornar um agente da polícia federal? E ainda mais com a experiência passada, do bicheiro, quer dizer... ex-banqueiro Salvatore Cacciola, que depois de embolsar mais de US$ 1,2 bi em 1999 e ser apanhado pela PF, conseguiu um habeas-corpus e se mandou para Milão. Mas não... não se pode aprender pela experiência, e todos acreditam que Dantas não vá fugir, digo... viajar para fora do país!

Por bem - e sorte! - que nem tudo é alegria para Cacciola. Ele acabou sendo detido em Setembro do ano passado num hotel em Mônaco, e está preso desde então, esperando extradição. Se tudo der certo, devem "despejá-lo" no país em 15 dias.

Agora, dizem que Dantas usava a mulher como "laranja". Coitada dela né? Quem mandou casar com bandido? Mas o mais importante agora é que além da Mulher Melancia, da Mulher Jaca e da Mulher Moranguinho, já temos a Mulher Laranja! E dizem as más línguas (que provavelmente não comem fruta!) que ela tem uma POUPANÇA maior que todas as outras juntas!

VIVA A PIZZA BRASILEIRA!

Wednesday, July 09, 2008

Os 3 Mosqueteiros da Maracutaia

Por ocasião da prisão do banqueiro Daniel Dantas, presidente do grupo Opportunity, do investidor Naji Nahas e do ex-prefeito de São Paulo Celso Pitta, todos sob acusação de formação de quadrilha, gestão fraudulenta, sonegação e lavagem de dinheiro, levanta-se - mais uma vez! - a discussão sobre o "desalento" da justiça. Prenderam, mas serão soltos em breve! Alguém duvida?

Fugindo à regra, o procurador da República Rodrigo de Grandis disse que o banqueiro Daniel Dantas, dono do grupo Opportunity, ofereceu US$ 1 milhão a um delegado da Polícia Federal para que seu nome fosse retirado das investigações que culminaram na chamada Operação Satiagraha - uma extensão do Mensalão - que investiga o envio de mais de 3 bilhões de dólares para fora do pais!

Aí vão dizer que isso não é culpa da justiça! Se eles forem soltos, dirão que a justiça é lenta e burocrática, mas que ela não colabora com a criminalidade. Ora, se um bom advogado consegue soltar um bandido nos termos da lei, é porque a lei é porque a lei não colabora? Claro que sim! Que nome pode-se dar a uma lei onde permite-se que o bandido, claramente culpado, seja solto por brechas ou textos que permitem interpretações dúbias, que há muito estão lá e nada se faz para mudar? No mínimo de colaborativa com o crime!

Um Reality Show de Sucesso

E o espetáculo das algemas parece um show menor. Deveria-se fazer mais alarde ainda, já que se trata de dinheiro público, e o público precisa saber que estão metendo a mão no seu dinheiro. Deveriam, isso sim, promover um "Reality Show" com as prisões, AO VIVO, dos canalhas!

Mas os 3 Mosqueteiros da Maracutaia (que o nobre Alexandre Dumas não tome por ofensa à sua obra Les Trois Mousquetaires) sentem agora a falta do amigo D'Artagnan. Seria quem o lendário quarto mosqueteiro?

Alguém aí falou Maluf?

Wednesday, July 02, 2008

For a mess of pottage


Ora, diriam uns, não sejamos injustos com Sarkozy. Afinal, ao extender o prazo para que a Irlanda conserte o desconforto que causou ao Tratado de Lisboa (alguém aí, como eu, ainda se espanta com isso?), abriu mão - mui gentil e humildemente - de ser o último presidente temporário da União! Se é que isso significa alguma coisa, a honra será da República Checa, agendada para assumir em Janeiro de 2009.

Neste ínterim, a Irlanda, o novo país da sobremesa, onde xícaras de chá custam 2000% e paga-se, satisfeitíssimo, 3 vezes mais por uma etiqueta, as pessoas vão levando suas vidas tristes, já com saudades daquilo que não conhecem ainda - o respeito à sua opinião. Talvez nem mesmo tudo isso deveria estar acontecendo! Se a entrada dos 12 novos membros da UE tivesse sido postergada um pouco, talvez não acontecesse. Isso parecer ser - ainda - a vontade de certos líderes europeus. Um erro histórico para o Projeto Europeu seria o fechar de portas para a imigração9 e a diversidade. Na Itália, certas campanhas mostravam indígenas norte-americanos com os dizeres: “LORO HANNO SUBITO L’IMMIGRAZIONE, ORA VIVONO NELLE RISERVE! PENSACI” (Eles sofreram A imigração. Hoje vivem em reservas. Pense nisso!). É esse economicismo cego que anda arrochando leis de imigração na União Européia. Mas todos sabemos que a UE precisa MUITO dos imigrantes, e quanto mais legais melhor, pois legais devem pagar impostos, e assim sustentar o falido sistema previdenciário.

Por uma União menos ordinária

Os chamados eurocéticos esquecem-se que, o principal objetivo do Projeto Europeu iniciado em 1950, era a harmonia entre os povos para que não houvessem guerras. E harmonia não anda de mãos dadas com intolerância. Se tudo fosse uma mera questão econômica, melhor seria não haver a União Européia, e todos terem se apegado a um e simples e limitado - porque apenas econômico - tratado comercial que determinasse termos bilaterais com os países interessados. Como é o Mercosul e o Nafta, e como era o antigo MCE - Mercado Comum Europeu.



Mas Sarkozy também é feito de glórias. No próximo dia 13 lançará oficialmente em Paris o seu mais ambicioso projeto - agora um Projeto Europeu! - que segundo ele “supera todo o ódio para abrir caminho rumo ao grande sonho de civilização e paz”. É a chamada “União Mediterrânea”. Ao bem da verdade, é a extensão do antigo Processo de Barcelona, que queria dar aos países sulistas o mesmo estatus que possuem os nortistas. A Turquia, por sua vez, acha que não passa de um golpe para adiar - ou mesmo anular - sua entrada na União Européia.

É... enquanto o vil metal - e o poder - comandar o coração dos homens, a paz continuará em estado de hibernação.

sarkozyces

Tanta coisa acontecendo e a Europa ainda preocupada em aprovar o Tratado de Lisboa. Imigração, desemprego, recessão, crise dos combustíveis, falta de alimentos... e ontem, ao assumir a presidência européia, Sarkozy prontamente determinou Julho de 2009 para que a Irlanda resolva o problema do Tratado de Lisboa (leia no Irish Times).

Lendo tal declaração, alguém, bestamente, perguntaria: "Ora, o que será que os irlandeses terão que fazer?" Elementar, meu caro leitor. O povo irlandês precisa votar o que o governo quer que ele vote. Se o resultadodo referendum fosse SIM, não teríamos membros do governo discursando sobre o assunto, tampouco teríamos a eurocracia toda pressionando o governo. Infelizmente, esta é a idéia de democracia que ficará estampada nas páginas do Tratado e na bandeira da União Européia.

O que Paris e Bruxelas não contavam era com a astúcia chapulínica do presidente polonês. Lech Kaczynski declarou que não ratificará o tratado, passando para o lado dos eurocéticos. Monsieur Sarkozy, numa tentativa de infantilização da posição polonesa, disse esperar que tal posição seja passageira (leia no Le Monde).