Friday, July 11, 2008

Há dez anos atrás...


Há dez anos atrás eu publicava esporádicos artigos num jornal local de São Caetano do Sul, na Grande São Paulo. Não lembro o nome do jornal e também duvido que tenham website, por isso, publico um artigo que encontrei em meus arquivos...

República Federativa Do Brasil S/A

O problema é que o brasileiro sempre se contentou com modelos importados; tudo que é importado é bom. Tanto é costume nacional que até nossas elites e nossas instituições adotaram um novo (1938!) modelo mundial de economia, dito neoliberalismo, que de neoliberal só tem a política livre de preços e o sucateamento do Estado, uma vez que a atividade estatal empresarial deveria ser substituída pela social, o que notoriamente não ocorre no ritmo das nossas expectativas precariamente humanas, mas o leilão dos bens públicos ovacionados com base em falsas necessidades sócio-econômicas está a todo vapor. Não falta discursador pra falar da importância de se privatizar esta ou aquela empresa — empresas estas de setores primários e/ou estratégicos, como Eletrobrás, Telebrás, CSN.

E qual é o grande discurso? Atraso tecnológico-administrativo, corrupção e cabide de empregos privilegiados. Ora, quem põe incompetente na presidência e nas diretorias das estatais por acaso é você, seu vizinho ou eu? Quem pratica o patriarcalismo, o familismo, o próprio nepotismo brasileiro é o faxineiro? E faxineiro é cargo privilegiado?

Não é e nunca foi segredo a ninguém e até o mais ingênuo garoto de 5a série já sabe que político e corrupção são sinônimos e só não foi grafado no dicionário porque há raras, mas muito raras exceções. Empresa estatal é lugar pra família, pros amigos, família dos amigos, amigos dos amigos, cabo eleitoral, soldado-raso eleitoral… menos pra administrador competente, honesto, que tem um olho na empresa e outro na sociedade, e não os dois no próprio bolso.

E temos aqui outro problema: a intelectualidade brasileira falhou no seu papel de ampliar a percepção do possível do povo, preocupou-se em discutir o efêmero (na janela) enquanto a banda passava, e hoje se vê bloqueada em dois fatores, um intelectual e outro moral.

Intelectual porque concebeu idéias e tão somente idéias. Não adianta filosofar, é necessário um sistema jurídico diferente, um sistema econômico diferente, um sistema político diferente, já que nosso presidencialismo parece desenhado para alimentar os mesmos impasses políticos de sempre, freando qualquer mudança efetiva nas estruturas — todas — do poder.

Moral pelo descrédito da esquerda(?!), da desorientação ante a perplexidade dos fatos, o bombardeio tardio e vazio, muitas vezes ao léu, em culminância com a inação por simples ignorância.

Se a lógica do governo conclui que para acabar com a corrupção, o cabide de empregos e o atraso tecnológico e administrativo da empresas estatais é preciso dá-las, perdão, vendê-las, sinto muito mas há uma incoerência, pois a primeira — e quem sabe a única — privatização que este país deveria sofrer, é a do governo.


A mim fica claro que não muita coisa mudou no país durante os últimos dez anos...

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