Monday, August 25, 2008

na latrina do mundo...


Um amigo que muito admiro me enviou recentemente um email para me parabenizar pelo em3, o trio musical que consegui montar junto com meus "amigos virtuais", como gosto de chamá-los. Ele me lembrou que, quando certa vez estive no Brasil - país na qual ele "carinhosamente" chama de "a latrina do mundo" - reclamara que estava difícil montar uma banda, devido à falta de tempo das pessoas neste mundo tão rápido em que vivemos, onde as facilidades tecnológicas que efetivamente tornam sua vida mais fácil, encurtando distâncias e automatizando tarefas, paradoxalmente também distorce nossa percepção de tempo, tornando-o cada vez "menor" - como se fosse possível!

Ao final do email, ele me parabeniza por eu ser a pessoa mais eclética que ele conhece... PORÉM eu gostaria de lembrá-lo do quão eclético ELE é, já que geralmente as pessoas não reconhecem - ou não enxergam - o próprio umbigo, seja por flatulência - que não é o caso aqui - ou modéstia.

Este meu caro amigo, além de estar entre as maiores autoridades em se tratando de sistema operacional MVS - agora conhecido como z/OS, um dos mais complexos sistemas operacionais de todos os tempos - também poderia facilmente ter-se arriscado na carreira médica, área em que tem verdadeira paixão. Sem mencionar a carreira científica, na qual poderia transitar livremente do academicismo à prática de pesquisas, além da física, da química e da matemática.

E para não nos "limitarmos" ao ramo das ciências, lembro quando deu-se a praticar música num pequeno teclado, e em questão de semanas já estava a ler partituras e a discutir os clássicos. Agora, sua mais nova incursão é no ramo da crítica literária. Engajado num grupo literário disposto a discutir os grandes clássicos em toda sua profundez, em apenas alguns meses já é destaque entre aqueles que dedicaram sua vida ao assunto.

Talvez ele só esteja comprovando que, onde quer que ele empregue seu espírito crítico, sua mente ávida por conhecimento puro e sincero, avesso a imposições pré-estabelecidas, onde quer que haja a oportunidade de empregar aquele pequeno miolo de milhares de milhões de células que chamamos cérebro, ele sucederá.

Eu é quem digo, meu amigo... Parabéns!

Wednesday, August 20, 2008

o número 27


Entre Julho de 69 e Julho de 71 morreram Jimi Hendrix, Jim Morrison, Brian Jones e Janis Joplin. Todos com 27 anos. O suicídio de Kurt Cobain em 1994 - também com 27 anos - reviveu o mito das lendas do rock que deixaram de existir aos 27 anos... Wendy O'Connor, mãe de Kurt Cobain, chegou a lamentar na ocasião da morte do seu filho que havia lhe pedido para "não se unir a esse estúpido clube".

Catorze anos depois da tétrica entrada do ex-líder do Nirvana no tal grupo, a Proud Galleries mostrará retratos, muitos inéditos, das estrelas mortas aos 27 anos, feitos pelos melhores fotógrafos do mundo do rock.

Em comum, o estranho fato de deixarem este mundo (para um melhor?) no auge de suas carreiras. Cobain, Hendrix, Joplin, Morrison e Jones são alguns dos mais famosos, mas outros menos renomados também estarão presentes na exposição, como o cantor de blues Robert Johnson, Dave Alexander (The Stooges) e Ron McKernan (The Grateful Dead).

Hum... taí algo para se apegar, não? Vejamos: 27 com 27, 54... mais 27, 81, mais 27...

Tuesday, August 05, 2008

verde, verde... muito verde!


Em alguns países da Europa, há muito tempo que as as sacolas plásticas nos supermercados são cobradas. Vários tipos, vários preços. Das mais simples, frágeis e realmente descartáveis até as mais sofisticadas, resistentes e reutilizáveis. Pode-se pagar de 0.20€ até 2.50€. Dizem que o objetivo é "verde", ou seja, compromisso com o meio ambiente, já que estudos mostram que o plástico das sacolas demora no mínimo 100 anos para se desintegrar. Cobrando as sacolinhas, os supermercados estariam incentivando os consumidores a trazerem suas próprias sacolas.

Na lógica cartesiana, isso até que funcionaria bem. Mas a lógica moderna é plenamente formal, preocupando-se cada vez menos com o conteúdo moral das preposições, e uma nova indústria acaba surgindo, um novo nicho, com mais e mais tipos diferentes de sacolas de plástico, tamanhos, cores, estampas, texturas, resistências... um novo artigo de venda! E o verde? O que acaba acontecendo é que de verde só a nota, (não só o dólar, mas a nota de 100 euros também é verde).

Deveriam sim, os governos, regulamentarem o setor para evitar o enxovalho, e exigir que as sacolas sejam de papel - material totalmente reciclável - e gratuitas. Mas não! Quando tem-se o problema, não se busca a solução, se busca o remendo, na qual se oculta um buraco abrindo outro. No caso, um buraco muito mais lucrativo.

Monday, August 04, 2008

filosofia japonesa e a pequenez do mundo

Há uma máxima na cultura japonesa que diz que não se deve servir o próprio copo. Além de ser uma atitude solícita para com o seu próximo, torna-se também mais saudável ser servido, o que acaba por lhe previnir de beber sozinho, hábito que geralmente não é um bom presságio. Afinal, o bom costume de encontrar pessoas pode ser algo fácil de ser esquecido nesses dias de virtualidades. E quando encontramos pessoas onde menos esperamos é que temos a real noção de quão pequeno é esse nosso mundo.

Silkeborg, Dinamarca. Uma cidadezinha, ou uma grande vila, com um belo lago no centro. Simpática, principalmente com o verão maravilhoso que anda fazendo por aqui (para desespero dos irlandeses). Uma vez explorada a cidade, resolvi "me perder" pela Dinamarca... munido de um bom Sistema de Posicionamento Global (o famoso GPS), é claro!


Meu destino era Løgstør, uma vila na região de Nordjylland, na península de Jutland, pois havia um festival de jazz acontecendo por lá. Como parte daquela simpatia habitual dos europeus, o dono do albergue me deu uma carona até o centro da vila e me pagou uma cerveja. Conversa vai, conversa vem, descobre que sou brasileiro e me diz que há um restaurante brasileiro na vila, e que a dona é brasileira. Duvidei, no bom sentido, e ele me levou até o Café Kunst. Matilde, a dona, atarefadíssima comandando duas chapas de panquecas, a especialidade da casa, teve a paciência de me aturar com meu papo-furado! Muito simpática a moça!

Embora o site de turismo dinamarquês não cite (link), o Café Kunst serve comida brasileira sim... no menu tinha casquina de siri, camarão à baiana, e, claro, caipirinha!

No dia seguinte, apareci para o café, e para mais papo-furado. Matilde me sugeriu ir até Skagen, uma vila de artistas, passando por Blokhus e Løkken, duas praias famosas. Um passeio e tanto! Obrigado Matilde, os lugares realmente valeram a pena!

Voltando ao hotel, depois de um dia cansativo - dirigi quase 300 km! - não me restou outra alternativa do que tomar um bom vinho. Um maravilhoso Brunello di Montalcino, que havia comprado no caminho - olha a má intensão - e que paguei a ba-ga-te-la de 110 DKK, que dá mais ou menos 14 euros. Na Irlanda custaria 30! Com os devidos ornamentos - proscuito e mozzarella di bufala - já que o vinho é o prato principal, caí no dilema da filosofia japonesa: como servir-me do vinho sem me servir do vinho? Como servir uma taça que não posso tomar? Ligar para a recepção? Levar a garrafa no bar e pedir ao garçon? Não, muito embaraçoso...

E tudo isto enquanto o vinho decantava - claro que o abri! Como bebê-lo era parte de outro problema, abrir ou não abrir a garrafa não chegou a ser um dilema. E toda solução que envolvesse um terceiro, ou um segundo, neste caso, me parecia embaraçosa - como de fato é! Então, para evitar tais embaraços, camaradinha, não deu outra... o negócio foi deixar a etiqueta do lado de fora do quarto e entornar o vinho na garrafa mesmo!

SAÚDE!