Saturday, April 11, 2009

divagações sobre a morte - I


Lembro-me que tinha 22 anos quando minha avó faleceu. Eu a tinha com grande amor e ela também me queria muito. Na época freqüentava bem a sua casa, pois usava a oficina do meu já falecido avô para os meus trabalhos artesanais - brincos, colares e pulseiras - além de ensaiar com a banda em sua garagem nas tardes de domingo.

Quando ela partiu, senti muito, muito mesmo, mas conforme o tempo ia passando, percebia, aos poucos, que eu não tinha profundidade suficiente para absorver tudo o que a minha avó tinha para me ensinar... e conviver com isso foi criando um vazio dentro de mim, potencializado pela tristeza de minha mãe - pensava: como uma mulher tão forte, segura e determinada como minha mãe pudera sucumbir em tão profundo poço? Certamente eu, na minha tristeza rasa e insignificante (comparada à tristeza complexa e consistente de minha mãe), estava perdendo muito do real entendimento daquela perda.

Como sua morte se dera alguns dias antes do natal, por anos presenciei seu lugar posto na mesa, seu prato e os talheres alinhados, durante as ceias de natal... minha mãe e minha tia numa tristeza profunda, como se tivessem acabado de voltar do enterro.

Eu tinha 22 anos... se velho ou jovem para ter a dimensão correta do que se passava, não posso dizer... acho que nunca estaremos preparados para perdas tão significativas... e se não é justamente esse o jogo da vida, que se poderia até dizer que não é lá um lugar muito justo de se viver, pois nos envolvemos, evolvemos, amamos pessoas, para que venha "a vida" a nos tirá-las...

No comments: