Thursday, June 11, 2015

... é de espírito a pobreza!

Há 11 anos venho ao Brasil anualmente. Até duas vezes ao ano, em anos de gordas vacas! No começo, sentia uma euforia danada pela viagem. Não apenas por rever família e amigos, mas pelo "retorno" ao país, mesmo que por curto tempo - geralmente passava as férias toda, 30 maravilhosos dias!

Pois esse sentimento do retorno foi-se esvaindo de mim, logo no segundo ano. Aos poucos, é verdade, como se o desgosto que tentava em mim se intalar encontrasse uma resistência saudosa, de algo que a memória buscava, mas os olhos não mais encontravam.

Rever a família e os amigos sempre foi prazeroso, mas confesso que uma sensação de que passava muito tempo no Brasil começou a se agigantar, e por fim, estabeleceu-se em mim, e estipulou que 2 semanas era, ao mesmo tempo, período mínimo para valer o fuso e o custo, e período máximo para aguentar a pobreza...

E é de espírito essa pobreza!

Sempre fui apaixonado por São Paulo. E ainda sou! Só que agora é ela lá e eu aqui! Dirão que só vejo defeitos... talvez! Mas é difícil manter, por muito tempo, a beleza só na memória, enquanto a realidade se escancara à sua frente. E não precisa de muito para vivenciar as coisas, pois se você não sofreu um transtorno hoje, devido a uma manifestação qualquer na Av. Paulista, terá outra amanhã, ou depois. Em outra avenida, até. Greve nos transportes públicos. Semáforo queimado. Se não faltou energia em sua casa este mês, no seguinte, certamente, faltará. Entra-ano, sai-ano e os mesmos problemas se repetem, eternos e sem solução: choveu, dá enchente! E assim como tem enchente, tem seca também. Na mesma cidade! Em São Paulo falta água, falta luz, a telefonia é péssima e cara, a TV a cabo falha regularmente, e a internet acompanha a qualidade dos outros serviços, constantemente. Sem falar na falta de respeito no trânsito, no trem, no metrô e no ônibus... é um deus-nos-acuda, um cada-um-por-si que dá pena de ver as pessoas neste nível de humor e energia. A poluição é absurda. Ruas, rios, terrenos baldios, lixões a céu aberto. Falando em ruas, não mencionei os buracos - algumas crateras - nas vias públicas! E os motoboys? Um capítulo à parte!

O desrespeito generalizado às regras - veja que não falei leis, senão tería que falar de criminalidade, violência, etc, etc. Falo de regras. O desrespeito a pequenas regras de convívio, as pequenas transgressões de moralidades do cotidiano. Tal atitude faz do brasileiro um ser peculiar, dotado de uma capacidade impressionante de cometer o que se chama de erro fundamental de atribuição e avaliação, sem provavelmente saber do que se trata!

Por exemplo, ele é capaz de chamar a influência que uma pessoa exerce sobre outras por dois nomes diferentes, dependendo do ponto de vista. Se fala de um político que contratou um parente para um cargo de confiança, chama de nepotismo. Mas se ele é o parente contratado, chama de "networking".

E quando ele, cidadão, consegue um encaixe na fila do hospital através de um amigo que trabalha no setor de agendamentos, não considera uma corruptela, mas se acha um cidadão de sorte, e nunca pensará naqueles que foram passados para trás. É o famoso espírito da vantagem sobre o próximo, não importando muito quem o próximo seja.

E assim vai-se vivendo, dia após dia, alimentando essa roda-viva, onde começa a surgir motes como "já que todos fazem, eu também vou fazer"; "se eu não fizer, outro faz"; "não adianta eu ser se ninguém é" (quanto a ser honesto).

Uma miséria incomensurável!