Saturday, December 31, 2016

Ai. Ai. Ai-ai...

ou "tá chegando a hora"

Yangliuqing New Year's Painting
Wilson Simonal disse que quem parte, leva a saudade de alguém que fica chorando de dor. Figuradamente falando, a saudade deveria sim ficar com a pessoa que ficou, e não ir com a pessoa que partiu. Enfim, dizia que "quem parte, leva saudade de alguém que fica chorando de dor". E continuava dizendo que "por isso não quero lembrar quando partiu meu grande amor".

Já na versão original Mexicana, Cielito Lindo, diziam que da Serra Morena desciam um par de olhinhos negros de contrabando... Esse primeiro verso, adaptado pelo compositor Quirino Mendoza ao encaixar o verso à sua própria melodia, tinha outras melodias e outras variações de letras, muito menos românticas do que a versão que acabou se tornando um símbolo do México, especialmente em comunidades de expatriados. Foi Arturo Ortega Morán nos alertou que que no início do Século XVII, bandidos armados se refugiaram nas montanhas da Serra Morena, um dos principais sistemas de cordilheira da Espanha que se estende por 450 quilômetros de leste a oeste em todo o sul da Península Ibérica, e que as pessoas temiam por suas vidas quando tinham que viajar pela região. "Seu rosto é a Serra Morena, seus olhos são ladrões que lá vivem."

Isso me lembra do que olhos românticos são capazes de fazer com realidades cruas: transformá-las...

Onde macro-mudanças - mudanças políticas, econômicas, tecnológicas e sociais que estão ocorrendo no mundo - geram micro-transformações cada vez mais aparentes - em cada um de nós - o auto-policiamento se torna vital, e os olhos românticos têm que trabalhar dobrado, pois lançar aquele olhar crítico e negativo sobre o mundo não vai ajudar muito, e corremos o risco de logo sermos mais um pedaço de chumbo, rígido e frio!

Veja, olhos românticos: o capitalismo selvagem dos banqueiros e suas consequências sociais e econômicas, a solidariedade cada vez mais em baixa, o ódio e a intolerância cada vez mais em alta, tanto que até "pessoas esclarecidas" estão "justificando" o ódio e a intolerância - vide a crise dos refugiados.

Veja também o Trumpismo americano, o Brexitismo britânico, o terrorismo fanático disfarçado de islã, o imperialismo israelense disfarçado de auto-defesa, o ISIS e a Síria, a Rússia querendo um pedaço do bolo geopolítico que os americanos não querem dividir, as falácias no projeto Europeu, a ganância dos abastados e suas particulares corridas-do-ouro, verdadeiros tiros-no-pé, mas eles são tolos demais para verem...

E a formação do "sujeito contemporâneo", com todas transformações subjetivas da atualidade mais a experiência midiática da multiplicidade do eu, onde a co-existência de "múltiplos eus" afiança a impunidade intelectual e a irresponsabilidade das palavras... é o transtorno da múltipla personalidade implantado, instalado no outro, distribuído nas mídias sociais: afinal, quem tem muitos nicks acaba sendo anônimo.

Sim, os olhos românticos têm muito, mas muito trabalho pela frente, com sua capacidade de transformar realidades cruas em viabilidades, possibilidades, esperanças...

Era isso. Agora, pra não acabar como o José (... a festa acabou, a luz apagou, o povo sumiu, a noite esfriou, e agora, José? Você que é sem nome, que zomba dos outros, você que faz versos, que ama, protesta? E agora, José? Sozinho no escuro qual bicho-do-mato, sem teogonia, sem parede nua para se encostar, sem cavalo preto que fuja a galope, você marcha, José! José, para onde?), já vou indo...

Ai. Ai. Ai-ai... a hora já chegou e o dia já raiou: tem que ser agora!

^2016>
>2017+

Friday, December 23, 2016

Ho... Ho.. Ho.

Papai Noel velho batuta, rejeita os miseráveis. Eu quero matá-lo, aquele porco capitalista. Presenteia os ricos. Cospe nos pobres! Mas um dia vamos sequestrá-lo e vamos matá-lo. Porque aqui não existe natal.
Garotos Podres, in “Papai Noel Velho Batuta” (1985).

Na verdade a música se chamava Papai Noel Filho da Puta, mas a censura não permitiu...

Um pouco menos do que Mao, mas desde de muito também sou indiferente ao natal. Acho que foi depois de ver o amigo do meu tio, que se vestia de papai noel na noite de natal, comendo gulosamente na mesa de jantar, ao entrar lá de surpresa... Vê-lo tentar por a barba durante uma garfada de macarrão e perú matou meus sonhos natalinos... de alguma forma.

Também padeço de uma indignação com o consumismo desenfreado e o aspecto econômico da data, sem falar das decorações de mal-gosto, dos compromissos que nos impomos, das mesmas músicas tocando em todo lugar... É a época do ano caracterizada pelos excessos justificados. O comércio entupido, os consumidores se acotovelando pelo último exemplar de uma besteira qualquer, a comilança - mesa natalina é uma exceção à regra, pois a glutonia é permitida uma vez por ano!

"Azia? Epocler!"

(...)
E um grande mar de emoção ouvia-se dentro de mim...
Sou nada...
Sou uma ficção...
Que ando eu a querer de mim ou de tudo neste mundo?
(...)
"Se eu não tivesse a caridade..."
Meu Deus, e eu que não tenho a caridade!

É, seu Álvaro de Campos, se não fosse o Joãozinho querendo escrever cartinha pro Papai Noel (Inc.), sei não... E quando ele descobrir que Papai Noel não passa de uma marca empossada por uma mega-empresa multi-planetária, e que a fábrica de brinquedos não é mais no polo norte, mas foi relocada para China e Índia por motivos financeiros? Que decepção...

A melhor coisa que se pode fazer é plantar a consciência e o bom exemplo nas crianças: filhos e filhas, sobrinhos e sobrinhas, afilhados e afilhadas, netos e netas, e toda outra criança que você puder, porque mudando a coisa lá no comecinho, a tendência é de não mudar nunca! Então nesse natal, tenha uma pausa consciente e refletiva, e tente passar essa consciência para os seus. Se todos fizerem, a gente chega... se não lá, pelo menos perto!

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Ho... Ho.. Ho.