Sunday, January 14, 2018

Quase (minha) memória

Morreu dia 5/1/18 aos 91 anos no Rio de Janeiro, o escritor e jornalista Carlos Heitor Cony. Membro da Academia Brasileira de Letras e jornalista militante, sobretudo durante o regime militar, Cony dava expediente regular na Folha de São Paulo, com suas crônicas geniais! Aliás, foram as crônicas de Cony que me incentivaram a escrever crônicas... o estilo, gingado, desembaraçado, quase líquido, me inspiraram muito e influenciaram também.

Cony publicou vários romances também, e um em particular, me pegou... Quase Memória.

Publicado em 1995, Quase Memória narra as histórias do pai de Cony, seu Ernesto, que também era jornalista. Nas palavras de Cony, um sonhador, com uma magnificiência perfeccionista nos simples detalhes da vida!

Foi esse romance me inspirou a tomar depoimentos do meu pai, sobre sua juventude... tenho tudo gravado, esperando tempo ou oportunidade de serem transcritos.

Também inspirou o nome do meu livro de poemas, o "Quase", de 1998 (na internet, fiz uma selecão em Algo de Quase).

Grande figura da literatura, esse Cony! Enquanto isso, eu aqui, pensativo como sempre acontece nesses momentos, só espero ter tempo de transcrever aquele livro e mostrá-lo ao meu pai...

Wednesday, January 10, 2018

Obediência antecipada

Obedience, by Ann Bakina
As runas são letras características, usadas para escrever nas línguas germânicas da Europa do Norte, principalmente na Escandinávia, ilhas Britânicas e Alemanha (regiões habitadas pelos povos germânicos) do século II. Com o avanço do cristianismo na Europa central a partir do século VI, as runas foram aos poucos sendo substituídas pelo alfabeto latino. As inscrições rúnicas mais antigas datam de cerca do ano de 150.


Aí tem o Heinrich Himmler, que foi um dos homens mais poderosos da Alemanha Nazista, e um dos principais responsáveis pelo Holocausto. Ele tinha um certo fascínio pelo simbolismo rúnico, tanto que as runas aparecem nas insígnias da Schutzstaffel, ou SS, a organização paramilitar liderada por Himmler, representada pelos símbolos rúnicos "ᛋᛋ". Diz a lenda que toda a idealização do extermínio em massa de judeus veio da SS, espontaneamente, sem que tivessem recebido ordens para fazê-lo. Eles acharam que seus superiores queriam algo parecido, e eles demonstraram que era possível!

Essa é a tal da "obediência antecipada"! No primeiro estágio, significa adaptação instintiva, sem reflexão sobre uma situação nova. Mais ou menos o que aconteceu com o povo Alemão em relação às atrocidades contra os Judeus: uns olharam com espanto, outros com curiosidade, mas a maioria aceitou sem questionar!

Dr. Stanley Milgram, um psicólogo social da universidade de Yale, ficou famoso por seu controverso experimento sobre obediência, conduzido nos anos 60, que demonstrou como pessoas comuns e sem traços violentos podiam ser capazes de atos atrozes. Sua maior inspiração era entender como pessoas apareentemente decentes e de bom caráter podiam ter colaborado com os horrores do holocausto. Milgram acreditava que qualquer pessoa, se submetida à pressão da autoridade, tem tendência de simplesmente obedecer. Recentemente assisti ao filme sobre o expimento, Experimenter: 40 voluntários emitindo choques de até 450 volts em desconhecidos, apenas porque foram gentilmente solicitado a faze-lo.

Eugène Ionesco, um dos maiores patafísicos e dramaturgos do teatro do absurdo, presenciou os amigos, aos poucos, se renderem aos absurdos nazistas. No início, diz ele, todos eram veementemente contra, mas aos poucos, mais e mais foram suavizando o discurso: "eu sou contra, mas que, no fundo, eles têm uma certa razão, ha, isso eles têm". Dessa sua experiência, Ionesco deu a luz à sua obra-prima, a peça Rinocerontes, de 1959 (que aliás eu tive o prazer de assistir no teatro TUCA, no final dos anos 90). Lançada também em livro, Rinocerontes é leitura prazerosa, garantida!

Apesar dessa mistura de assuntos, o recado ainda é um só: tenha um sólido sistema moral, siga seus princípios, questione as idéias feitas e as autoridades pela autoridade... Só isso já é um bom começo. Não de ano, mas de vida!

Wednesday, January 03, 2018

A mesma mesmice...

Lendo um artigo do Marcelo Coelho na "Foia" – confesso que fui atraído pelo título: até a mudança faz o elogio da mesmice! – me deparo com uma afirmação no mínimo controversa: "Muita gente ainda acha que homem nasce homem, mulher nasce mulher e ponto final – qualquer mudança nesse programa é invencionice, coisa de quem defende a "ideologia de gênero" e pretende "ensinar o homossexualismo"."

Geralmente acontece com quem escreve sobe vários assuntos... não dá pra estar sempre atualizado em tudo! Acontece comigo também! Vez ou outra posso falar uma besteira sem tamanho! Mas o bom é que ainda assim, não passa de opinião! E não sei se é coincidência, mas no mês passado saiu um estudo sobre genes e sexualidade. O estudo, como tantos outros do passado, reivindica ter finalmente "achado o gene gay".

Imaginem o que uma matéria com o título "Estudo encontra o Gene Gay" é capaz de fazer com as vendas de um jornal? Manda lá pra lua! É claro que se colocarmos todo o sensacionalismo de lado, e formos um pouco além das manchetes – ou seja, ler os artigos – encontraremos afirmações mais sérias e menos sensasionalistas, como o próprio pesquisador enfatizando que assuntos complexos como sexualidade dependem de múltiplos fatores, tanto genéticos como ambientais, e mesmo que genes específicos tenham sido identificados, eles sozinhos têm pouca influência no resultado final. O mesmo já foi concluído em estudos sobre os "genes da inteligência", diz ele.

Ou seja, nada de novo no reino do DNA... Ainda bem, não? Imagine ainda no útero você ser "condenado" a ser burro? Ou a ser "macho"? Acabam com suas opções antes mesmo de você se dar por gente!

Agora, falando de comportamento, Marcelo também fala sobre aquela coisa de vestir irmãos gêmeos com roupas iguais. Confesso nunca ter pensado nisso, mas tendo a concordar que é mais perigoso do que bonitinho, e os pais deveriam se esforçar em diferenciar ao máximo os gêmeos/gêmeas, ao invés de alinhá-los/las na igualdade, afinal, como geralmente acontece, as crianças podem ser parecidas fisicamente, mas as personalidades são diferentes. E ao contrário da onda, agora tem uma nova moda que é mãe se vestir igual à filha! Tem loja vendendo conjunto mãe/filha - roupa igual igualzinha! Desde biquini a vestidinho longo!

Para mim, que não acompanho muito o que vai lá em Pindorama, esse fenômeno é novo, mas aquele das mães que parecem irmãs das filhas, esse já conheço há tempos! Eu chamo de crise da busca do tempo perdido! Está cada vez mais notório, mães nos seus 30+, 40+ se vestindo como adolescentes de 15-17 anos. E o inverso, então? Meninas de 11-15 anos cada vez mais aparentando 18-20, e se vestindo como se tivessem 25?

A princípio pode parecer bom, mulheres de 30+ terem aparência jovem, crianças terem aparência madura... mas por trás disso tem o aspecto psicológico e comportamental, que não pode ser ignorado, e certamente precisa de mais estudos.

Acabar com as diferenças de vestimenta entre quem tem 13 ou 30 anos pode estrapolar para numa ideologia excessivamente igualitária, onde mães e filhas passem a demandar igualdade de poder, direitos e autoridade – que aliás já acontece! E é uma via de duas mãos, onde as mães também querem resgatar os privilégios de uma vida sem compromissos (aversão à responsabilidade de mãe, síndrome do casamento precoce, poucos namorados, sensação de que não aproveitou a vida), e soltar um "não enche, vou sair e voltar tarde, se vira!" para filhos, filhas e maridos! Eu até tenho uma amiga que está (estava?) passando por essa fase... É notável! A filha pequena escessivamente exposta nas mídias sociais, maquiada e com roupinha de mocinha, e ela na crise do tempo perdido!

Eu, particularmente, acho que as mídias sociais (sim, elas novamente!) podem colaborar muito para isso... mas como já disse meu amigo Luther, o Facebook não é o problema!

'braço forte!