Friday, September 14, 2007

A Desconexão Fulgural

Atendendo a "muitos" pedidos, publico o comentário que fiz sobre um artigo publicado na Revista Época, entitulado Privilégios, mimos e mordomias estatais...

Desconexão fulgural - mais rápido que um relâmpago!

Na minha opinião, desconexão cultural do jeito que foi descrito só acontece onde andar na rua é perigoso. Aí eu chamaria de "desconexão social". Eu posso falar do Brasil, de alguns dos nossos vizinhos latino-americanos e da África do Sul, porque são lugares que onde já estive. Se é perigoso andar na rua, por que alguém concientemente se exporia ao perigo? Eu mesmo, quando voltei a Sampa pela primeira vez depois de quase 1 ano de Europa, senti uma "tensão" que nunca antes sentira. Quando se mora lá, vive-se num estado de anestesia constante. Depois de morar na Europa um tempo isso fica aparente, tanto que quando estou no Brasil e quero sair à noite, não vou de "condução" não... se não tenho carro, vou de táxi! Antes, eu achava "frescura".

É social a desconexão, não cultural. Culturalmente ainda estamos todos muito bem sintonizados, rico e pobre assiste Faustão e novela, ouve rádio e pagode. Quando temos concertos gratuitos em São Paulo, o "povão" comparece. Só não freqüenta os teatros e as óperas por falta de grana, não de gosto. Pode passar a ser uma questão cultural se avaliada sob o ponto de vista estético (embora seja a própria estética muito subjetiva). Alguém pode achar pagode coisa de pobre e ópera coisa de rico, ou ainda pagode e rock como manifestações "chulas" e musicalmente pobres, enquanto as óperas ou sinfonias como nobres e ricas musicalmente. Mas mesmo isso, na concepção moderna da comunicação de massa e industria cultural iniciada por Habermas (contrariando suas valiosas raízes da Escola de Frankfurt), tem um PUTA valor cultural. Discussões estéticas não "movimentam" massas... a estética esta mais para ser estudada do que usada como parâmetro de julgamento.

Do Brasil Europeu.

Pelos países onde já estive pude reparar que a teoria difere da prática, principalmente quando a teoria é brasileira. Dizer que em Haia, na Holanda, "... é muito perigoso andar de bicicleta e falar ao celular" e que "Qualquer criança aprende na escola que falar ao celular enquanto pedala é ainda mais perigoso que dirigindo um carro" é uma coisa. Ir para Amsterdam, a capital do país, e ver as pessoas pedalando com suas cervejas numa mão e seus baseados no canto da boca, é outra coisa. E se o modelo europeu parece tão perfeito, devemos lembrar que a Europa é um termo extremamente genérico, e longe de ser considerado uma unidade política e social unificada, como querem muitos. Uma verdade na Holanda pode não ser em Portugal. Ao mesmo tempo em que é importante que os representantes eleitos sejam vistos como parte do cotidiano das pessoas comuns, por outro lado, o sentimento supra-nacionalista já é um problemão em países como Holanda, Bélgica, Luxemburgo, Alemanha e Reino Unido. Aí entra um julgamento de valores: o que é mais importante? Ver um político andando na rua, fingindo ser um "igual" ou ter, efetivamente, os mesmo direitos e deveres para todos, sem discriminação de origem, raça ou religião? São muito simplista essas comparações com a Europa, geralmente feitas por quem vem aqui para num congresso, ou cobrir uma matéria, fica algumas semanas e cai fora. Ou se por acaso vive/viveu aqui, provavelmente é/foi noutra realidade, e não nesta nossa batalha do dia-a-dia. Veja a Irlanda: você pega ônibus? Eu não! Porque é uma merda! Eu detesto dirigir. Adoraria pegar um ônibus, ou trem para ir ao trabalho, mas não posso. Você acha que os políticos devem pegar ônibus ou trem para se misturar ao povão? Totalmente irrelevante. Pura panfletagem pequeno-burguêsa dos anos 70/80! Parece os antigos PTista (antes de tomarem o poder) reclamando dos patrões nas portas das fábricas!

Privilégios, mimos e mordomias estatais - uma outra coisa.

Eu, que sou um marxista teórico de coração, assim como me decepciono com alguns enganos dos marxistas da Escola de Frankfurt mas tampouco sou um "Integrado", também não sou tão marxista ao ponto de não ver que o privilégio estatal é um grande mal no modelo comun-social. Mas ainda na contra-mão, se o grande mote anti-socialismo é que "não somos todos iguais" e devemos respeitar as individualidades, por que então os "camaradas do politburo" não podiam ter lá seus privilégios? Hoje em dia, no capitalismo selvagem, os privilégio continuam lá, na politicagem, mas expandiram-se também para a iniciativa privada. Antes pagavam-se os privilégios estatais com impostos dos cidadãos, agora pagam-se os privilégios públicos e também os privados (não os meus nem os seus, mas os "deles") com o dinheiro da exploração do sub-trabalho sub-remunerado, da especulação nos mercados de ações inacessíveis para a maioria das pessoas.. porque você até pode ter acesso a um fundinho qualquer, ou a uma "lojinha" de ações, mas nunca terá a oportunidade de ganhar o dinheiro fácil e virtual que rola nas altas esferas da putaria econômica.

É, camaradinha... não importa se capital ou social, este mundo é injusto. A briga é saber qual sistema é menos injusto e menos des-humano! E, particularmente, sempre fui céptico quando dinheiro e boa-vontade tentam "conviver" na mesma panela.

De Berts & Calheiros

(Para saber o que aprontou o primeiro ministro Irlandês, clique aqui e aqui)

Aproveitando para opinar sobre o Bert Ahern, a coisa está tão sem-vergonha que dá vergonha! Parece que todo mundo sabe que o Bertie tem a mão na cumbuca mas, se ele não "confessar", ele vai sair dessa numa boa... ninguém parece ter corangem de acusar o homem... e cada um que fala alguma coisa ele se afunda mais... já tem o ombro na boca da cumbuca! Parece até o Renan!!!

E por falar em Renan... "Bem feito! Ele foi absolvido." É isso que me disseram... Bem feito! Quem mandou votar no PT?

Gente cuja consciência é maldosa a eles mesmos, inconveniente e mal educada, começa a ser ameaçado por ela... mas só agora! Gozado, né? Tá uma onda de "Você não fez nada!", de "Perdeu a vergonha na cara!" por aí que eu me pergunto: Nossa! Se tanta gente não votou no PT, como eles chegaram lá? E novamente me pergunto: E antes? OK, isso não é pergunta que se faça, mas... cá pra nós, o PT é o partido com mais políticas sociais de todos os tempos. Mesmo contando os populistas Jango e Getúlio! Totalmente contra à máxima malufista do "rouba mas faz", (re)lembro-os: Quem não rouba neste país?

Esta nossa "desconexão política" é a mesma "eterna" questão Capitalismo x Socialismo: o difícil é saber quem é menos ruim. O povo precisa aprender a "tirar proveito" do que resta de bom! Por isso, a raiz de nossos problemas como sociedade não está na idéia simplista do "ir e vir". Essa pseudo-síndrome de descolamento anti-cidadão é muito mais um mimo pequeno-burguês (adoro falar "pequeno-burguês"... soava tão "cult" na década de 80... embora agora deva soar bem old-fashion, eu ainda adoro!) de não conseguir ir ao trabalho de helicóptero e ter que passar horas no trânsito ou enfrentar transporte público lotado e sem infraestrutura adequada.

Se isso não é algo que se resolva com a melhora da distribuição de renda, como é que vai ser? Se não cuidarmos do crescimento econômico do Brasil, onde iremos parar? Infelizmente estamos condenados a ser assim, sim, pois assim o quer uma elite minoritária que separa o joio do trigo. E enquanto as pessoas continuarem olhando para o joio e querendo expressar sua cidadania dando fim ao foro privilegiado (?!?!?!?), as coisas não vão mudar, não... Só não sabe quem presta ou não presta naquele Congresso quem não quer!

E NÃÃÃÃO SE ESQUEÇA DISSO!

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