Dos Prazeres Mundanos, Dos Medos & Dos Enganos
Me diga você, meu camaradinha, como é que é "o gosto" da feijoada? Difícil, não é? Pois é, e aposto que você, brasileiro da gema, já comeu feijoada, não? Justo! Aonde quero chegar? Simples: se há coisas que mesmo lhe sendo naturais e conhecidas você não pode descrever, imagine se tiver que descrever algo que não conhece? É aí onde a porca torce o rabo! E é justamente isso que o italiano Giuliano da Empoli tenta fazer: explicar o que é inexplicável, tendo apenas provado da feijoada!
No encalço do mote de que o mundo se americaniza (verdadeira descarga cultural e econômica), da Empoli acha que o mundo vive uma "brasilização", onde convivem dois pólos emergentes: um carnavalesco e outro trágico. Noutras letras, a putaria e a violência.
Como pouco se pode dizer de da Empoli, já que não se encontra muitos trabalhos dele, o que sugere que ele esteja apenas começando, podemos sim colocá-lo num estereótipo europeu, já que a estereotipia européia é particularmente mais iluminada quando olhada de dentro da Europa. Diferente do que se pode pensar, o europeu não é um poliglota por natureza. Dependendo da sua natureza geográfica ele poderá se esforçar um pouco sim, mas não espere muito. Outro mito é o da multiculturalidade. O europeu médio é bem fechado na sua cultura, que pode ser apenas o que acontece na sua cidade, sem mesmo ter uma extensão nacional. E uma grande parte não conhece toda a diversidade de seu próprio país, quem dirá a dos compatrícios europeus.
Sendo assim, ao ler "Hedonismo e Medo - O Futuro Brasileiro do Mundo", livro de Giuliano da Empoli, a primeira coisa que me passa é que talvez o Brasil tenha sido sua primeira aventura estrangeira, onde se deparou com culturas tão diversas da branco-cristã na qual foi criado, culturas como a do candomblé baiano e do carnaval carioca, junto com o medo aterrorizador que deve ter sentido ao enfrentar realidades urbanas como Rio de Janeiro e de São Paulo, tão diferentes da européia, onde o pior gueto ainda pode nos parecer um lugar seguro, onde o submundo se restringe ao tráfico de drogas e a morte entre bandido, onde a violência da exclusão ainda não saiu do buraco para bater na porta dos incluídos (simplesmente porque não há excluídos... não como os conhecemos). Essa é a sensação que incomoda no Brasil, e o que incomodou da Empoli: o simples conflito da pobreza e da exclusão. Junte-se a tudo isso uma pitadinha de luxúria só para dar um gosto, e pronto... temos um livro!
Ok, não sejamos tão cruéis assim com da Empoli, afinal, ele fez sua lição de casa... é erudito e tem uns conceitos bem claros, o que mostra que entendeu direitinho o que leu. Em sua "bagagem", traz uma viagem ao Brasil em 2001, junto com a namorada. Por motivos incertos (?) a relação não vingou aqui (!!!), mas o país o inspirou. Eu "leio" esta declaração de da Empoli com outras palavras: veio pra cá curtir umas férias burguesa com a namorada, mas chegando aqui, ficou encantado com as baladas e a mulherada, deu um pé na bunda da namorada e, pra não sair tão mal da relação, escreveu um livro pra tentar justificar sua traição. Ou seja, gastou um tempão pra dizer que o Brasil deveria exportar bundas!.
No livro da Empoli usa uma técnica simplista porém muito eficiente (para os menos avisados): Ele cita. Da Empoli cita à vontade e abundantemente, até, embora não dê bibliografia. E em suas citações, na maioria de tendências esquerdistas ou social-democratas, já que é o lado da linha que agrupa a maioria dos pensadores de expressão, da Empoli apenas reforça conceitos já bem fundamentados, tentando assim dar consistência ao seu discurso. Por exemplo, numa passagem cita "A Democracia Americana" de Tocqueville, e imediatamente após cita Gilberto Freyre (intelectual, sem dúvida, mas com profunda tendência racista), resaltando características epicuristas de seu texto, e arremata chamando Freyre de "o Tocqueville brasileiro". Da Empoli procura com isso dar credibilidade a um conceito frágil que desenvolve com citações fragmentadas, encaixadas oportunamente num contexto que ele próprio criou.
O livro todo é uma grande citação, onde da Empoli "costura" com suas palavras os espaços conceituais que se escancaram entre uma citação e outra. E é quando da Empoli se arrisca a concluir que percebemos toda a fragilidade de sua trama. Numa clara confusão entre pós-9/11 e violência urbana causada pelo discrepante buraco social das sociedades modernas, da Empoli coloca tudo no mesmo saco e ainda espera que engulamos seus argumentos de que o presenteísmo é meramente fruto de uma fuga desesperada aos prazeres extremos, já que o medo e o terror impera. As coisas só se esclarecem mesmo quando da Empoli pega o gancho do terror, amarra no "arbusto" (Bush) e quer daí fazer uma crítica à política externa "do falcão" (a guerra contra o terror) e à política interna "do estrabismo" (o controle total da mídia) operada por Berlusconi.
Não creio que esse vislumbre sobre o futuro da humanidade de da Empoli seja relacionado de maneira alguma ao Brasil. O futuro da humanidade é obscuro, sim, mas por mera conseqüência do capitalismo selvagem e do vácuo espiritual - a religião sempre foi e sempre será uma anestesia, um mal necessário, onde pessoas fracas e frágeis de caráter, determinação e valores, buscam desesperadamente algo para temer, e assim tentarem manter o controle da situação de suas consciências perturbadas e de seus instintos indomáveis. No fundo, ao invés de ter escrito um livro, da Empoli deveria ter se limitado a dois artigos: num mostraria seu descontentamento com a massificação da mídia italiana nas mãos de Silvio Berlusconi; noutro faria um relato de suas férias no Brasil, na sua visão, de um país onde a putaria é institucionalizada. E só!
Tá falado...
E se ainda tiveres saco, camaradinha, leia aqui a entrevista de Giuliano da Empoli na Revista Época.
Me diga você, meu camaradinha, como é que é "o gosto" da feijoada? Difícil, não é? Pois é, e aposto que você, brasileiro da gema, já comeu feijoada, não? Justo! Aonde quero chegar? Simples: se há coisas que mesmo lhe sendo naturais e conhecidas você não pode descrever, imagine se tiver que descrever algo que não conhece? É aí onde a porca torce o rabo! E é justamente isso que o italiano Giuliano da Empoli tenta fazer: explicar o que é inexplicável, tendo apenas provado da feijoada!
No encalço do mote de que o mundo se americaniza (verdadeira descarga cultural e econômica), da Empoli acha que o mundo vive uma "brasilização", onde convivem dois pólos emergentes: um carnavalesco e outro trágico. Noutras letras, a putaria e a violência.
Como pouco se pode dizer de da Empoli, já que não se encontra muitos trabalhos dele, o que sugere que ele esteja apenas começando, podemos sim colocá-lo num estereótipo europeu, já que a estereotipia européia é particularmente mais iluminada quando olhada de dentro da Europa. Diferente do que se pode pensar, o europeu não é um poliglota por natureza. Dependendo da sua natureza geográfica ele poderá se esforçar um pouco sim, mas não espere muito. Outro mito é o da multiculturalidade. O europeu médio é bem fechado na sua cultura, que pode ser apenas o que acontece na sua cidade, sem mesmo ter uma extensão nacional. E uma grande parte não conhece toda a diversidade de seu próprio país, quem dirá a dos compatrícios europeus.
Sendo assim, ao ler "Hedonismo e Medo - O Futuro Brasileiro do Mundo", livro de Giuliano da Empoli, a primeira coisa que me passa é que talvez o Brasil tenha sido sua primeira aventura estrangeira, onde se deparou com culturas tão diversas da branco-cristã na qual foi criado, culturas como a do candomblé baiano e do carnaval carioca, junto com o medo aterrorizador que deve ter sentido ao enfrentar realidades urbanas como Rio de Janeiro e de São Paulo, tão diferentes da européia, onde o pior gueto ainda pode nos parecer um lugar seguro, onde o submundo se restringe ao tráfico de drogas e a morte entre bandido, onde a violência da exclusão ainda não saiu do buraco para bater na porta dos incluídos (simplesmente porque não há excluídos... não como os conhecemos). Essa é a sensação que incomoda no Brasil, e o que incomodou da Empoli: o simples conflito da pobreza e da exclusão. Junte-se a tudo isso uma pitadinha de luxúria só para dar um gosto, e pronto... temos um livro!
Ok, não sejamos tão cruéis assim com da Empoli, afinal, ele fez sua lição de casa... é erudito e tem uns conceitos bem claros, o que mostra que entendeu direitinho o que leu. Em sua "bagagem", traz uma viagem ao Brasil em 2001, junto com a namorada. Por motivos incertos (?) a relação não vingou aqui (!!!), mas o país o inspirou. Eu "leio" esta declaração de da Empoli com outras palavras: veio pra cá curtir umas férias burguesa com a namorada, mas chegando aqui, ficou encantado com as baladas e a mulherada, deu um pé na bunda da namorada e, pra não sair tão mal da relação, escreveu um livro pra tentar justificar sua traição. Ou seja, gastou um tempão pra dizer que o Brasil deveria exportar bundas!.
No livro da Empoli usa uma técnica simplista porém muito eficiente (para os menos avisados): Ele cita. Da Empoli cita à vontade e abundantemente, até, embora não dê bibliografia. E em suas citações, na maioria de tendências esquerdistas ou social-democratas, já que é o lado da linha que agrupa a maioria dos pensadores de expressão, da Empoli apenas reforça conceitos já bem fundamentados, tentando assim dar consistência ao seu discurso. Por exemplo, numa passagem cita "A Democracia Americana" de Tocqueville, e imediatamente após cita Gilberto Freyre (intelectual, sem dúvida, mas com profunda tendência racista), resaltando características epicuristas de seu texto, e arremata chamando Freyre de "o Tocqueville brasileiro". Da Empoli procura com isso dar credibilidade a um conceito frágil que desenvolve com citações fragmentadas, encaixadas oportunamente num contexto que ele próprio criou.
O livro todo é uma grande citação, onde da Empoli "costura" com suas palavras os espaços conceituais que se escancaram entre uma citação e outra. E é quando da Empoli se arrisca a concluir que percebemos toda a fragilidade de sua trama. Numa clara confusão entre pós-9/11 e violência urbana causada pelo discrepante buraco social das sociedades modernas, da Empoli coloca tudo no mesmo saco e ainda espera que engulamos seus argumentos de que o presenteísmo é meramente fruto de uma fuga desesperada aos prazeres extremos, já que o medo e o terror impera. As coisas só se esclarecem mesmo quando da Empoli pega o gancho do terror, amarra no "arbusto" (Bush) e quer daí fazer uma crítica à política externa "do falcão" (a guerra contra o terror) e à política interna "do estrabismo" (o controle total da mídia) operada por Berlusconi.
Não creio que esse vislumbre sobre o futuro da humanidade de da Empoli seja relacionado de maneira alguma ao Brasil. O futuro da humanidade é obscuro, sim, mas por mera conseqüência do capitalismo selvagem e do vácuo espiritual - a religião sempre foi e sempre será uma anestesia, um mal necessário, onde pessoas fracas e frágeis de caráter, determinação e valores, buscam desesperadamente algo para temer, e assim tentarem manter o controle da situação de suas consciências perturbadas e de seus instintos indomáveis. No fundo, ao invés de ter escrito um livro, da Empoli deveria ter se limitado a dois artigos: num mostraria seu descontentamento com a massificação da mídia italiana nas mãos de Silvio Berlusconi; noutro faria um relato de suas férias no Brasil, na sua visão, de um país onde a putaria é institucionalizada. E só!
Tá falado...
E se ainda tiveres saco, camaradinha, leia aqui a entrevista de Giuliano da Empoli na Revista Época.
1 comment:
Excelente. :-)
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