Sunday, July 21, 2019

Não me levanto!

Foi em primeiro de Dezembro de 1955 que Rosa Parks disse “não me levanto” para James Blake, o condutor de um ônibus em Montgomery, capital do Alabama, EUA. Naquela época, naquela terra de ninguém, os assentos dianteiros eram reservados a pessoas de pele branca, os do fundo às pessoas de pele escura; nos do meio podiam sentar-se qualquer um, mas se um branco estivesse em pé, tinha preferência sobre o assento.

Perante a surpreendente resposta de Rosa Park, James Blake só pôde dizer “bem, nesse caso terei que levá-la à delegacia”, e Rosa respondeu “pois vamos”!

Em tempos de Bolsonaro, imagino como as Rosas Park andam se virando por aí... Embora o motivo deste post vá além de Bolsonaro.

O Boicote aos Ônibus de Montgomery

O boicote aos ônibus de Montgomery foi um protesto pelos direitos civis durante o qual os afro-americanos se recusaram a andar de ônibus urbanos em Montgomery, no Alabama, para protestar contra os assentos segregados. O boicote ocorreu de 5 de dezembro de 1955, quatro dias após Rosa Parks ter sido presa e multada por se recusar a entregar seu assento de ônibus a um homem branco, até 20 de dezembro de 1956, e foi considerada a primeira manifestação de larga escala dos EUA contra a segregação.

A Suprema Corte americana finalmente ordenou que Montgomery integrasse seu sistema de ônibus, mas muito além dessa vitória, está a mensagem de que o povo tem o poder! Imaginem se os americanos - e apenas os americanos - decidissem não beber Coca-Cola, ou não comer no MacDonalds... por um ano, apenas!

Que mensagem!!!

De volta ao boicote de Montgomery... Um dos líderes, um jovem pastor chamado Martin Luther King Jr., emergiu como um proeminente líder do movimento americano de direitos civis, de 1955 até seu assassinato em 1968.

Mas essa é uma outra história...

Sunday, February 03, 2019

foi esse o sonho...

Ishtar, with her cult-animal the lion,
and a worshipper Modern impression from a cylinder seal,
c. 2300 BC In the Oriental Institute, University of Chicago
Uma mulher me falava que meu pai e minha mãe tinham sofrido um acidente. Era em Dublin, tenho quase certeza. Eu a interrogava “Onde eles estão?” e ela dispersava, “Ah, estão ali...” “Onde?”, gritava desesperado, “Ali...” e apontava displicentemente para um beco escuro, e alertava: “Mas se eu fosse você eu não iria lá...”.

Claro que eu fui.

Entro no beco e encontro minha mãe caída, desacordada, e meu pai cambaleante, tentando levantá-la. Num instante - num daqueles instantes de sonho que transgridem todas as leis da física - estávamos todos no saguão de um hospital: lembro-me bem de pai, meu irmão e minha esposa. Tem mais gente mas não me lembro quem são, ou não vejo seus rostos. Todos estavam bem calmos, esperando não sei o quê. Eu só queria chegar ao quarto de minha mãe.

Peço informação. Era o quarto número 9, mas disseram que eu não saberia chegar lá... Mostraram-me o mapa do hospital, que parecia o James Connolly, em Blanchardstown, Dublin 15, mas as imediações tinha a representação urbana de Barcelona, em Espanha.

Chamei minha esposa para dar uma olhada no mapa, na esperança de que ela conhecesse o caminho, mas ela estava distraída... Peguei o mapa e disse “Deixa que eu me viro.” Chamei meu irmão para ir comigo. Ele veio, mas no caminho nos perdemos um do outro. Pedi informação para um enfermeiro-estudante - era um hospital universitário. Ele pegou o mapa, olhou, coçou a cabeça, chamou outro colega, “Não é aquele lugar onde não se pode dormir à noite?”, “Sim, lá não se dorme...”. “Tudo bem”, disse, "eu só quero chegar lá!".

O enfermeiro-estudante me conduziu, correndo um pequeno trote, entre portas e corredores. Um verdadeiro labirinto, e conforme nos emaranhávamos hospital adentro, suas alas ganhavam um aspecto de abandono, de desolamento.

Chegamos ao lugar. O enfermeiro sumiu - mais uma daquelas distorções das leis da física. A porta do quarto número 9 ficava numa parede, e parecia uma gaveta. Confuso, abro a tal porta e vejo o corpo de minha mãe. Embora ela estivesse bonita, não aguento a imagem e despenco em prantos. Retoricamente me pergunto "Por que não me avisaram antes?", já que eu tinha a impressão de que todos sabiam, menos eu.

Acordo... e me concentro em entender o sonho. O número 9.

Para quem acredita em numerologia, o 9 encerra um ciclo natural, a morte de um ciclo e as portas para o início de outro. Pode ser interpretado como o fim das ilusões ou como um recomeço.

Eu, que sou e sempre fui cético para estas coisas, acabo dando ouvido mais pela mitologia, como fenômeno popular de transformação e sua capacidade de conectar diferentes culturas através de histórias, geralmente baseadas em tradições e lendas feitas para explicar os fenômenos naturais, a criação do mundo, o universo ou qualquer outra coisa além da simples compreensão.

Nessa linha, tem um mito bem descritivo da essência do número 9: o Mito da Descida de Ishtar ao submundo. Ishtar, deusa suméria da fertilidade, do amor, da guerra e do sexo, desce ao submundo através de uma imensa caverna vertical e conforme avança os sete portões do inferno, um guardião retira uma peça de seu vestuário real. Quando chega ao fundo do poço, Ishtar está totalmente nua, despojada de suas armas e atributos reais, de seus símbolos de status e de realeza. Voltou ao seu estado original. Quando consegue voltar, ela está modificada - pode-se dizer que morreu e renasceu.

Está aí uma boa explicação para o meu número 9...