Saturday, June 14, 2014

A Cambada de Preto


A Cambada de Preto - leia-se a cambada vestida de preto - é outra onda brasileira de imitar tendências internacionais. E como quase tudo que invade nossa praia, acaba criando um mar de aproveitadores, oportunistas, interesses escusos e bandidismo.

Surgido na Alemanha no final dos anos 70, início dos 80, o Schwarzer Block, ou Black Boc em inglês, é uma tática de protestos e passeatas onde os indivíduos usam roupas pretas, lenços, óculos escuros, balaclavas, capacetes, e outros items para cobrirem o rosto, com a intenção de que a massa pareça compacta, distinta, não-identificável. Assim intimidam, parecerem numericamente superiores do que são, e covardemente se escondem atrás de suas máscaras.

Frequentemente associados com anarquismo e proclamando-se anarquistas eles mesmos, intriga-me saber se teriam, nas manifestações brasileiras, pessoas que realmente se consideram anarquistas - sabendo o que realmente é o anarquismo.

Esse é um debate antigo. Desde a resistência aos militares nos anos 60 discute-se se a luta deveria ou não ser armada. E como bem colocou Ferreira Gullar uma vez, seria estupidez partirmos para a luta armada contra militares: nós, civis em busca de justiça, eles, soldados preparados para a guerra e no poder, conduzindo o aparato da repressão, no campo deles, a guerra! A saída, dizia Gullar, seria atacarmos com o que temos de mais forte: a inteligência; em nosso campo, a cidade.

Protesto inteligente é o que atinge o cerne - não a superfície - do problema. Quebrar patrimônio público e cercear o direito de ir e vir é abuso, oportunismo e burrice.

Thursday, June 12, 2014

De Abuso e de Direito

ou a balela da liberdade democráticia.

Lembro que Junho de 2013 um grupo de brasileiros resolveu bloquear a O'Connell Street, uma das ruas centrais do centro-norte de Dublin, capital da República da Irlanda. Centenas de pessoas gritavam "Oohh, o Brasil acordou, o Brasil acordou!", e apesar dos cartazes dizendo "Sorry 4 the inconvenience. We're building a new Brazil!", ninguém entendia bem o que a O'Connell Street e as pessoas que a usam tinham a ver como o caos que aquela obstrução causava! Como disse à época, deviam sim segurar cartazes que dissessem "Desculpem-nos por não respeitarmos o seu direito de ir e vir e por fazer protestos contra nosso país corrupto aqui, em suas ruas!".

Saca só, que bonitinho:


Tem até um filme atualmente em cartaz, chamado Junho - O Mês que Abalou o Brasil:

Uma "rebelião" puramente acéfala, como diriam, já que sem partido, discurso, ou bandeiras - foi um marco nos protesto através do caos coletivo, que na verdade representa um grande foda-se à liberdade de ir e vir dos outros (ah, teve os R$0,20 de almento na tarifa dos ônibus)! O filme mostra manifestantes que foram feridos, como a garota que levou um tiro de bomba de efeito moral na cara e foi parar no hospital! Mas também não podemos esquecer o cinegrafista que morreu com um rojão atirado por um manifestante. Ou seja, é um campo de batalha... é isso que queremos para expressar nosso descontentamento com alguma coisa? O que quer que seja: governo, salário... até Copa!

Copa, que no fundo é sobre esporte, e esporte é jogo, e jogo pra que serve? Para o desenvolvimento do ser humano. É jogando, simulando lutas, caçadas e fugas que as crianças se preparam para a vida adulta. E sendo o futebol nada mais que um jogo, é justo termos torcida à favor e torcida contra. Faz parte do processo democrático, não? Mas as TVs, a mídia em geral, através de seus comentaristas e colunistas, e o governo, andam numa campanha louca contra os que estão contra a Copa. Mas por quê? Só porque o Brasil gastou o que não podia com estádios megalômanos e projetos super-faturados e não querem fazer alarde? E não só os nossos políticos levaram a bufunfa, mas a FIFA principalmente!

Pois é, atualmente há leis estaduais que proíbem a venda de bebidas alcoólicas em estádios, e o Estatuto do Torcedor barra a entrada do goró. O governo diz que a Copa é um evento específico e que precisa de regras igualmente específicas. Mas, nesse caso da bebida, a mudança seria sobreposta a eventuais regras contrárias em âmbito municipal ou estadual. Uma alteração e tanto, só para acomodar a Budweiser, uma das maiores patrocinadoras da FIFA...

E o governo, para desviar as atençoes, ajudam - e incitam - o fanatismo, um patriotismo messianismo ao país do futebol, onde o futebol também é religião!

Recentemente assisti ao longa O Velho - A História de Luiz Carlos Prestes, e com saudosismo vi, o que um dia foi, manifestações organizadas e conteudísticas! Uma época em que, sem facebook, twitter ou youtube, pais podiam dar palmadas em suas crianças quando merecessem, criavam-se seres não só inteligentes mas pensadores e com atitudes corretas perante valores básicos de uma sociedade. E estamos falando de comunistas lutando contra militares, estes matando e torturanso, aqueles sonhanbdo com a luta armada como meio à utopia socialista...



E tem gente que se acha no direito de ... no país do futebol!