Monday, December 06, 2004

The Economist: Brasil é 39° em ranking de qualidade de vida - 17/11/2004 - UOL Últimas Notícias

The Economist: Brasil é 39° em ranking de qualidade de vida - 17/11/2004 - UOL Últimas Notícias

1 comment:

Eduardo Miranda said...

Valeu o puxão de orelha Cleide (http://cleyfontana.blogspot.com). Dei o destaque porque iria comentar em seguida, mas o comentário acabou demorando... aqui vai:

A combinação de prosperidade crescente e valores tradicionais dá circunstâncias favoráveis para fazer um povo feliz, segundo a análise do The Economist. Tudo bem, mas deixe-me ser o advogado do diabo...

Além de fatores como renda per capita, saúde, liberdade, desemprego, o clima, estabilidade política, segurança e a igualdade entre os sexos, também foram considerados a freqüência em missas e vida em família.

Então vamos lá: 1) estabilidade política: só há dois partidos de expressão na Irlanda: o Fianna Fáil (republicano) e o Sinn Féin (originalmente o braço político do IRA, mas atualmente andam um pouco distantes ideologicamente). Hoje, ambos são classificados de partidos de centro, ambos engajados na mesma política de taxação e altos impostos (que aliás é uma vergonha), e já se fala numa coalizão entre os dois partidos, o que fará da Irlanda um país de um só partido. É bem verdade que o histórico conflito entre a República e a Irlanda do Norte está dormente desde o tratado de Good Friday firmado em caráter temporário e visando unicamente a trégua de grupos para-militares para que os termos da ocupação inglesa fossem discutidos mais adiante, mas tanto o IRA quanto o UVF não estão contentes com o marasmo das negociações, e nos últimos meses já são cinco as bombas encontradas em lugares públicos em Belfast. Nenhuma delas chegou a ser detonada, mas estavam lá, e o IRA assumiu a responsabilidade por elas... a imprensa vem tentando abafar o fato.

2) Sendo um país fundamentado em tradições religiosas, a freqüência em missas e a vida em família favorecem a Irlanda sem significar necessariamente qualidade de vida. O que não deve ter sido levado em conta é o impressionante número de casais jovens, pós-adolescentes, que se casam devido à gravidez indesejada. A "desculpa" é a seguinte: os adolescentes saem, embebedam-se até não poderem mais, transam sem proteção e engravidam! Soa um pouco “subdesenvolvido”, não?

3) E por falar em bebida, o turismo etílico é O absurdo. O estímulo à bebida, propalado abertamente como um bem (Guinness faz bem para você!) juntamente com o caldeirão de estupidez que é a região do Temple Bar, o quintal do Reino Unido, freqüentado por um tipo de turista com caráter duvidoso, que vão lá para beber, apenas por beber e aprontar, pois quando se está bêbado não se é responsável pelos seus atos... parece absurdo? Pois é, incrível mas eles acreditam nisso! Há interesse em mudar este quadro? Claro que não, afinal os impostos que o governo “mama” da bebida são uns dos mais extorsivos.

4) Impostos... eles devem ter entrado em algum fator econômico qualquer, mas o grande truque é que, sob a máscara de que todos pagam impostos progressivos num máximo de, se não me engano, 42% na fonte (e parece ter um projeto para aumentar o teto para algo em torno de 55%), a grande verdade reside nos facilitadores que o governo dá a corporações e a pessoas físicas detentoras de grande capital. Estas pessoas, físicas e jurídicas simplesmente não pagam imposto, enquanto o consumidor comum paga – às vezes bi ou mesmo tri-tributação – na forma de altos preços, turbinado pelo famigerado VAT (value added tax) – taxa adicionada a todos os bens, desde a goma de mascar até o automóvel ou imóvel, e imóvel aqui tem preços estratosféricos, tanto para quem compra, e para quem vende(!), pois o vendedor tem que pagar uma "taxa" pela venda do seu imóvel! É isso aí! Soou absurdo? Tem mais: taxa da TV (156 euros anuais), taxa do lixo (5 euros por coleta), taxa da licensa do cão, taxa do seguro do carro (que aliás é obrigatório e bem caro), taxa do cartão de crédito (40 euros para o governo por você ter um cartão de crédito), entre outras.

5) Desemprego: um fator importante e que de certa maneira deturpa os resultados é que parte da população (cerca de 4,5 milhões de habitantes) vive da agricultura, o que contribue para os baixos índices de desemprego.

6) Quanto ao clima... bem, só pode ser brincadeira! Este provavelmente deve ter sido o pior índice alcançado. A piada aqui é que a Irlanda só tem dois climas: verão e inverno, e o verão dura no máximo duas semanas! Bem, ainda assim deve ser melhor do que lugares como a Finlândia por exemplo, onde dizem que os dias no inverno tem apenas duas ou três horas de claridade, e ainda assim nem sempre o sol dá o ar de sua graça!

7) Outra coisa que provavelmente não foi avaliada na elaboração do tal índice é o transporte público. A experiência de esperar por um ônibus em Dublin é simplesmente frustrante: os horários geralmente não são cumpridos e alguns ônibus simplesmente falham a escala, sem explicação ou satisfação ao usuário. Além disso, os ônibus são verdadeiras latas de lixo, onde embalagens de fast-food, papéis e bitucas de cigarro – sim, há quem fume nos ônibus! – disputam lugar com os usuários. Culpa dos usuários que sujam os ônibus? Sim, mas os que não sujam não têm culpa, e eles deviam limpar os ônibus ou simplesmente proibir que se coma dentro dos veículos... e efetivamente proibir o cigarro!

Fora isso, a Irlanda é um bom lugar para se morar... ainda primeiro mundo. E problemas como taxação absurda de impostos e desemprego crescente já é algo que vem se manifestando em toda a Europa, ou alguém acredita apenas no sentimento humanitário dos europeus em abraçar seus irmãos do leste na União Européia, sem interesse na grande massa de jovens trabalhadores e consumidores para aquecer seus mercados? Bem, quem disse que o mundo era um lugar bom de se viver esqueceu de mostrar alguns detalhes...