Friday, September 28, 2007

edgard allan poe


Em homenagem à citação do dia de Edgard Allan Poe ("All that we see or seem is but a dream within a dream"), posto aqui minha versão para The Raven...

Leia minha "transcriação" aqui...

Saturday, September 22, 2007

Pequeno Tratado Sobre Oportunismo

Dos Prazeres Mundanos, Dos Medos & Dos Enganos

Me diga você, meu camaradinha, como é que é "o gosto" da feijoada? Difícil, não é? Pois é, e aposto que você, brasileiro da gema, já comeu feijoada, não? Justo! Aonde quero chegar? Simples: se há coisas que mesmo lhe sendo naturais e conhecidas você não pode descrever, imagine se tiver que descrever algo que não conhece? É aí onde a porca torce o rabo! E é justamente isso que o italiano Giuliano da Empoli tenta fazer: explicar o que é inexplicável, tendo apenas provado da feijoada!

No encalço do mote de que o mundo se americaniza (verdadeira descarga cultural e econômica), da Empoli acha que o mundo vive uma "brasilização", onde convivem dois pólos emergentes: um carnavalesco e outro trágico. Noutras letras, a putaria e a violência.

Como pouco se pode dizer de da Empoli, já que não se encontra muitos trabalhos dele, o que sugere que ele esteja apenas começando, podemos sim colocá-lo num estereótipo europeu, já que a estereotipia européia é particularmente mais iluminada quando olhada de dentro da Europa. Diferente do que se pode pensar, o europeu não é um poliglota por natureza. Dependendo da sua natureza geográfica ele poderá se esforçar um pouco sim, mas não espere muito. Outro mito é o da multiculturalidade. O europeu médio é bem fechado na sua cultura, que pode ser apenas o que acontece na sua cidade, sem mesmo ter uma extensão nacional. E uma grande parte não conhece toda a diversidade de seu próprio país, quem dirá a dos compatrícios europeus.

Sendo assim, ao ler "Hedonismo e Medo - O Futuro Brasileiro do Mundo", livro de Giuliano da Empoli, a primeira coisa que me passa é que talvez o Brasil tenha sido sua primeira aventura estrangeira, onde se deparou com culturas tão diversas da branco-cristã na qual foi criado, culturas como a do candomblé baiano e do carnaval carioca, junto com o medo aterrorizador que deve ter sentido ao enfrentar realidades urbanas como Rio de Janeiro e de São Paulo, tão diferentes da européia, onde o pior gueto ainda pode nos parecer um lugar seguro, onde o submundo se restringe ao tráfico de drogas e a morte entre bandido, onde a violência da exclusão ainda não saiu do buraco para bater na porta dos incluídos (simplesmente porque não há excluídos... não como os conhecemos). Essa é a sensação que incomoda no Brasil, e o que incomodou da Empoli: o simples conflito da pobreza e da exclusão. Junte-se a tudo isso uma pitadinha de luxúria só para dar um gosto, e pronto... temos um livro!

Ok, não sejamos tão cruéis assim com da Empoli, afinal, ele fez sua lição de casa... é erudito e tem uns conceitos bem claros, o que mostra que entendeu direitinho o que leu. Em sua "bagagem", traz uma viagem ao Brasil em 2001, junto com a namorada. Por motivos incertos (?) a relação não vingou aqui (!!!), mas o país o inspirou. Eu "leio" esta declaração de da Empoli com outras palavras: veio pra cá curtir umas férias burguesa com a namorada, mas chegando aqui, ficou encantado com as baladas e a mulherada, deu um pé na bunda da namorada e, pra não sair tão mal da relação, escreveu um livro pra tentar justificar sua traição. Ou seja, gastou um tempão pra dizer que o Brasil deveria exportar bundas!.

No livro da Empoli usa uma técnica simplista porém muito eficiente (para os menos avisados): Ele cita. Da Empoli cita à vontade e abundantemente, até, embora não dê bibliografia. E em suas citações, na maioria de tendências esquerdistas ou social-democratas, já que é o lado da linha que agrupa a maioria dos pensadores de expressão, da Empoli apenas reforça conceitos já bem fundamentados, tentando assim dar consistência ao seu discurso. Por exemplo, numa passagem cita "A Democracia Americana" de Tocqueville, e imediatamente após cita Gilberto Freyre (intelectual, sem dúvida, mas com profunda tendência racista), resaltando características epicuristas de seu texto, e arremata chamando Freyre de "o Tocqueville brasileiro". Da Empoli procura com isso dar credibilidade a um conceito frágil que desenvolve com citações fragmentadas, encaixadas oportunamente num contexto que ele próprio criou.

O livro todo é uma grande citação, onde da Empoli "costura" com suas palavras os espaços conceituais que se escancaram entre uma citação e outra. E é quando da Empoli se arrisca a concluir que percebemos toda a fragilidade de sua trama. Numa clara confusão entre pós-9/11 e violência urbana causada pelo discrepante buraco social das sociedades modernas, da Empoli coloca tudo no mesmo saco e ainda espera que engulamos seus argumentos de que o presenteísmo é meramente fruto de uma fuga desesperada aos prazeres extremos, já que o medo e o terror impera. As coisas só se esclarecem mesmo quando da Empoli pega o gancho do terror, amarra no "arbusto" (Bush) e quer daí fazer uma crítica à política externa "do falcão" (a guerra contra o terror) e à política interna "do estrabismo" (o controle total da mídia) operada por Berlusconi.

Não creio que esse vislumbre sobre o futuro da humanidade de da Empoli seja relacionado de maneira alguma ao Brasil. O futuro da humanidade é obscuro, sim, mas por mera conseqüência do capitalismo selvagem e do vácuo espiritual - a religião sempre foi e sempre será uma anestesia, um mal necessário, onde pessoas fracas e frágeis de caráter, determinação e valores, buscam desesperadamente algo para temer, e assim tentarem manter o controle da situação de suas consciências perturbadas e de seus instintos indomáveis. No fundo, ao invés de ter escrito um livro, da Empoli deveria ter se limitado a dois artigos: num mostraria seu descontentamento com a massificação da mídia italiana nas mãos de Silvio Berlusconi; noutro faria um relato de suas férias no Brasil, na sua visão, de um país onde a putaria é institucionalizada. E só!

Tá falado...

E se ainda tiveres saco, camaradinha, leia aqui a entrevista de Giuliano da Empoli na Revista Época.

Friday, September 14, 2007

A Desconexão Fulgural

Atendendo a "muitos" pedidos, publico o comentário que fiz sobre um artigo publicado na Revista Época, entitulado Privilégios, mimos e mordomias estatais...

Desconexão fulgural - mais rápido que um relâmpago!

Na minha opinião, desconexão cultural do jeito que foi descrito só acontece onde andar na rua é perigoso. Aí eu chamaria de "desconexão social". Eu posso falar do Brasil, de alguns dos nossos vizinhos latino-americanos e da África do Sul, porque são lugares que onde já estive. Se é perigoso andar na rua, por que alguém concientemente se exporia ao perigo? Eu mesmo, quando voltei a Sampa pela primeira vez depois de quase 1 ano de Europa, senti uma "tensão" que nunca antes sentira. Quando se mora lá, vive-se num estado de anestesia constante. Depois de morar na Europa um tempo isso fica aparente, tanto que quando estou no Brasil e quero sair à noite, não vou de "condução" não... se não tenho carro, vou de táxi! Antes, eu achava "frescura".

É social a desconexão, não cultural. Culturalmente ainda estamos todos muito bem sintonizados, rico e pobre assiste Faustão e novela, ouve rádio e pagode. Quando temos concertos gratuitos em São Paulo, o "povão" comparece. Só não freqüenta os teatros e as óperas por falta de grana, não de gosto. Pode passar a ser uma questão cultural se avaliada sob o ponto de vista estético (embora seja a própria estética muito subjetiva). Alguém pode achar pagode coisa de pobre e ópera coisa de rico, ou ainda pagode e rock como manifestações "chulas" e musicalmente pobres, enquanto as óperas ou sinfonias como nobres e ricas musicalmente. Mas mesmo isso, na concepção moderna da comunicação de massa e industria cultural iniciada por Habermas (contrariando suas valiosas raízes da Escola de Frankfurt), tem um PUTA valor cultural. Discussões estéticas não "movimentam" massas... a estética esta mais para ser estudada do que usada como parâmetro de julgamento.

Do Brasil Europeu.

Pelos países onde já estive pude reparar que a teoria difere da prática, principalmente quando a teoria é brasileira. Dizer que em Haia, na Holanda, "... é muito perigoso andar de bicicleta e falar ao celular" e que "Qualquer criança aprende na escola que falar ao celular enquanto pedala é ainda mais perigoso que dirigindo um carro" é uma coisa. Ir para Amsterdam, a capital do país, e ver as pessoas pedalando com suas cervejas numa mão e seus baseados no canto da boca, é outra coisa. E se o modelo europeu parece tão perfeito, devemos lembrar que a Europa é um termo extremamente genérico, e longe de ser considerado uma unidade política e social unificada, como querem muitos. Uma verdade na Holanda pode não ser em Portugal. Ao mesmo tempo em que é importante que os representantes eleitos sejam vistos como parte do cotidiano das pessoas comuns, por outro lado, o sentimento supra-nacionalista já é um problemão em países como Holanda, Bélgica, Luxemburgo, Alemanha e Reino Unido. Aí entra um julgamento de valores: o que é mais importante? Ver um político andando na rua, fingindo ser um "igual" ou ter, efetivamente, os mesmo direitos e deveres para todos, sem discriminação de origem, raça ou religião? São muito simplista essas comparações com a Europa, geralmente feitas por quem vem aqui para num congresso, ou cobrir uma matéria, fica algumas semanas e cai fora. Ou se por acaso vive/viveu aqui, provavelmente é/foi noutra realidade, e não nesta nossa batalha do dia-a-dia. Veja a Irlanda: você pega ônibus? Eu não! Porque é uma merda! Eu detesto dirigir. Adoraria pegar um ônibus, ou trem para ir ao trabalho, mas não posso. Você acha que os políticos devem pegar ônibus ou trem para se misturar ao povão? Totalmente irrelevante. Pura panfletagem pequeno-burguêsa dos anos 70/80! Parece os antigos PTista (antes de tomarem o poder) reclamando dos patrões nas portas das fábricas!

Privilégios, mimos e mordomias estatais - uma outra coisa.

Eu, que sou um marxista teórico de coração, assim como me decepciono com alguns enganos dos marxistas da Escola de Frankfurt mas tampouco sou um "Integrado", também não sou tão marxista ao ponto de não ver que o privilégio estatal é um grande mal no modelo comun-social. Mas ainda na contra-mão, se o grande mote anti-socialismo é que "não somos todos iguais" e devemos respeitar as individualidades, por que então os "camaradas do politburo" não podiam ter lá seus privilégios? Hoje em dia, no capitalismo selvagem, os privilégio continuam lá, na politicagem, mas expandiram-se também para a iniciativa privada. Antes pagavam-se os privilégios estatais com impostos dos cidadãos, agora pagam-se os privilégios públicos e também os privados (não os meus nem os seus, mas os "deles") com o dinheiro da exploração do sub-trabalho sub-remunerado, da especulação nos mercados de ações inacessíveis para a maioria das pessoas.. porque você até pode ter acesso a um fundinho qualquer, ou a uma "lojinha" de ações, mas nunca terá a oportunidade de ganhar o dinheiro fácil e virtual que rola nas altas esferas da putaria econômica.

É, camaradinha... não importa se capital ou social, este mundo é injusto. A briga é saber qual sistema é menos injusto e menos des-humano! E, particularmente, sempre fui céptico quando dinheiro e boa-vontade tentam "conviver" na mesma panela.

De Berts & Calheiros

(Para saber o que aprontou o primeiro ministro Irlandês, clique aqui e aqui)

Aproveitando para opinar sobre o Bert Ahern, a coisa está tão sem-vergonha que dá vergonha! Parece que todo mundo sabe que o Bertie tem a mão na cumbuca mas, se ele não "confessar", ele vai sair dessa numa boa... ninguém parece ter corangem de acusar o homem... e cada um que fala alguma coisa ele se afunda mais... já tem o ombro na boca da cumbuca! Parece até o Renan!!!

E por falar em Renan... "Bem feito! Ele foi absolvido." É isso que me disseram... Bem feito! Quem mandou votar no PT?

Gente cuja consciência é maldosa a eles mesmos, inconveniente e mal educada, começa a ser ameaçado por ela... mas só agora! Gozado, né? Tá uma onda de "Você não fez nada!", de "Perdeu a vergonha na cara!" por aí que eu me pergunto: Nossa! Se tanta gente não votou no PT, como eles chegaram lá? E novamente me pergunto: E antes? OK, isso não é pergunta que se faça, mas... cá pra nós, o PT é o partido com mais políticas sociais de todos os tempos. Mesmo contando os populistas Jango e Getúlio! Totalmente contra à máxima malufista do "rouba mas faz", (re)lembro-os: Quem não rouba neste país?

Esta nossa "desconexão política" é a mesma "eterna" questão Capitalismo x Socialismo: o difícil é saber quem é menos ruim. O povo precisa aprender a "tirar proveito" do que resta de bom! Por isso, a raiz de nossos problemas como sociedade não está na idéia simplista do "ir e vir". Essa pseudo-síndrome de descolamento anti-cidadão é muito mais um mimo pequeno-burguês (adoro falar "pequeno-burguês"... soava tão "cult" na década de 80... embora agora deva soar bem old-fashion, eu ainda adoro!) de não conseguir ir ao trabalho de helicóptero e ter que passar horas no trânsito ou enfrentar transporte público lotado e sem infraestrutura adequada.

Se isso não é algo que se resolva com a melhora da distribuição de renda, como é que vai ser? Se não cuidarmos do crescimento econômico do Brasil, onde iremos parar? Infelizmente estamos condenados a ser assim, sim, pois assim o quer uma elite minoritária que separa o joio do trigo. E enquanto as pessoas continuarem olhando para o joio e querendo expressar sua cidadania dando fim ao foro privilegiado (?!?!?!?), as coisas não vão mudar, não... Só não sabe quem presta ou não presta naquele Congresso quem não quer!

E NÃÃÃÃO SE ESQUEÇA DISSO!

Thursday, September 13, 2007

Viva O Dia da Fecundação Russa!

Eis uma medida a ser considerada!

Os habitantes da cidade de Ulyanovsk, capital da região russa de mesmo nome situada no curso central do rio Volga, é do tamanho da Bélgica e tem um terço da população de Dublin. Para que a taxa de natalidade regional aumente, o governador local, Serguei Morozov, decretou o "Dia da comunicação familiar", que a partir deste ano será comemorada a cada 12 de setembro na cidade.

Em outras palavras, o dia reservado para os casais ficarem em casa, copularem e tentarem gerar filhos, já está sendo chamado de "O Dia da Fecundação", nome aliás muito mais apropriado.

O feriado parece mais uma continuação da campanha populista de Morozov, que começou em 2005 com o slogan "Dê à luz um patriota no Dia da Rússia", que premia com um carro 4x4 uma das famílias que tiverem um filho em 12 de junho, dia do país (12/09 + 9 meses = 12/06. Capisce?).

"Se não fizermos nada no âmbito demográfico, a Rússia pode chegar a 2080 com 52 milhões de habitantes. E não é preciso ser um grande especialista em geopolítica para saber que, com uma população dessa, não é possível manter um país com um território tão extenso e tão rico", disse o líder do Senado.

Que tal abrir as portas para o trabalho estrangeiro? Tantas ex-colônias da antiga URSS que estão em situação econômica bem menos favorável agradeceriam...

Leia mais em russo, em inglês, em português.