Tuesday, April 10, 2012

Um país de emergentes

El Purgatório de los avaros de Jennifer Strange

O Brasil está na onda! É o que dizem os jornais e os rádios, a TV e consequentemente todo mundo. E fora os próprios brasileiros que agora batem no peito ao falar do país, no mais fiel estilo José Sarney e seus Fiscais, ninguém mais aguenta ouvir as ladainhas de que o Brasil é um país de Primeiro Mundo.

Ora, se for para seguir a Teoria dos Mundos, o Brasil coloca-se na categoria de Terceiro mesmo. Segundo essa classificação, as nações desenvolvidas são o Primeiro Mundo. As nações do antigo bloco socialista o Segundo Mundo, e as demais nações o Terceiro, o que deixa Brasil e Cazaquistão, por exemplo, no mesmo saco, o que é uma tremenda injustiça para o Cazaquistão, que sustenta a posição número 68 no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), enquanto o Brasil está num miserável 84o lugar, atrás ainda de Romênia, Bahamas, Montenegro, Panamá, Sérvia, Kuwait, Líbia, Costa Rica, Albânia, Líbano, Venezuela, Jamaica, Peru, Santa Lúcia e Equador, para citar poucos.

Depois da queda do Muro de Berlin e do fim da Guerra Fria, a classificação passou a ser a de países desenvolvidos e países subdesenvolvidos. Com o tempo, uma terceira categoria se espremeu estre as duas: os emergentes! São os países em transição de subdesenvolvido para desenvolvido. Tecnicamente, são países que possuem um padrão de vida entre baixo e médio, uma base industrial em desenvolvimento e um IDH variando entre médio e elevado. Esse é o Brasil: um país emergente.

Eu, menos ufanista que a maioria, diria que o Brasil está no limbo, numa espécie de purgatório dantesco, um espaço intermediário entre o Paraíso e o Inferno, neste caso, entre o subdesenvolvimento e o desenvolvimento, onde as pessoas têm crédito mas não têm dinheiro, têm dinheiro mas não têm educação, têm educação mas não têm compaixão, têm compaixão mas não têm segurança, têm segurança mas não têm liberdade, têm liberdade mas não têm prazer. Um ciclo vicioso que parece não ter fim - e certamente não terminará com medidas paliativas que não enderecem a enorme diferença social e a educação.

Aproveitando o espírito pascalino, outra grande deturpação da realidade, alucinação mesmo, que o brasileiro sofre é a do estereótipo do povo amigável e acolhedor... Experiemente dirigir na hora do rush nas ruas de São Paulo - ou em qualquer outra cidade grande - e venha me dizer da solidariedade no trânsito; vá de metro, trem ou ônibus, e sinta a amabilidade das pessoas... e a cordialidade então? Está à flor da pele!

Reservado àqueles que se arrependeram em vida de seus pecados e estão em processo de expiação, a idéia do purgatório é a de oferecer uma segunda chance para que se reveja tudo o que fizemos de errado. A violência que alimenta o ser-humano, a falta de humildade, cordialidade, solidariedade e educação, os baixos instintos, como o ciúme, a cobiça e a inveja. Esperemos que o povo emergente saiba aproveitar tal oportunidade.

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