Monday, November 09, 2009

Geisy & o Zepelim


Estão querendo associar a letra do Chico Buarque ao bullying (intimidação, ameaça) sofrido pela estudante Geise Arruda, na UniBan semana passada... da qual eu discordo.

Bullying define-se por aquelas moléstias e intimidações que determinado grupo aplica a uma pessoa - geralmente por apresentar uma característica diferente do resto; por destacar-se no meio de um grupo - seja por cor, raça, nacionalidade, inteligência (os chamados nerds geralmente sofrem este tipo de tratamento). Geni não é sobre isso.

Geni é sobre hipocrisia - que também se aplica ao caso da estudante Geise. A hipocrisia de quem julga os outros, e depois muda seu julgamento (ou ameniza-o) em detrimento de interesses próprios. Isso é Geni...

Geise também foi apedrejada (figurativamente) por se expor, por provocar, mas no íntimo de cada um, provavelmente rolava outros sentimentos... nas mulheres, a inveja (aquela mescla de ódio e desgosto provocado pela prosperidade d'outrem, ou ainda aquele desejo irrefreável de possuir ou gozar o que é possuído ou gozado por outrem) cai bem - Geise é bonita de corpo e rosto, e estava "vestida para matar", atraindo a atenção de TODOS os homens da faculdade. Nos homens, o sentimentos eram tesão e impotência - aquele mulherão, cheia de sí, inalcançavel...

Foi isso que aconteceu... não foi bullying não. Foi a tão conhecida e retrógrada inveja e impotência, acompanhadas de outras coisinhas mais!

Vai de Geni aí, vai.
De tudo que é nego torto
Do mangue e do cais do porto
Ela já foi namorada
O seu corpo é dos errantes
Dos cegos, dos retirantes
É de quem não tem mais nada
Dá-se assim desde menina
Na garagem, na cantina
Atrás do tanque, no mato
É a rainha dos detentos
Das loucas, dos lazarentos
Dos moleques do internato
E também vai amiúde
Com os velhinhos sem saúde
E as viúvas sem porvir
Ela é um poço de bondade
E é por isso que a cidade
Vive sempre a repetir

Joga pedra na Geni
Joga pedra na Geni
Ela é feita pra apanhar
Ela é boa de cuspir
Ela dá pra qualquer um
Maldita Geni

Um dia surgiu, brilhante
Entre as nuvens, flutuante
Um enorme zepelim
Pairou sobre os edifícios
Abriu dois mil orifícios
Com dois mil canhões assim
A cidade apavorada
Se quedou paralisada
Pronta pra virar geléia
Mas do zepelim gigante
Desceu o seu comandante
Dizendo - Mudei de idéia
- Quando vi nesta cidade
- Tanto horror e iniqüidade
- Resolvi tudo explodir
- Mas posso evitar o drama
- Se aquela formosa dama
- Esta noite me servir

Essa dama era Geni
Mas não pode ser Geni
Ela é feita pra apanhar
Ela é boa de cuspir
Ela dá pra qualquer um
Maldita Geni

Mas de fato, logo ela
Tão coitada e tão singela
Cativara o forasteiro
O guerreiro tão vistoso
Tão temido e poderoso
Era dela, prisioneiro
Acontece que a donzela
- e isso era segredo dela
Também tinha seus caprichos
E a deitar com homem tão nobre
Tão cheirando a brilho e a cobre
Preferia amar com os bichos
Ao ouvir tal heresia
A cidade em romaria
Foi beijar a sua mão
O prefeito de joelhos
O bispo de olhos vermelhos
E o banqueiro com um milhão

Vai com ele, vai Geni
Vai com ele, vai Geni
Você pode nos salvar
Você vai nos redimir
Você dá pra qualquer um
Bendita Geni

Foram tantos os pedidos
Tão sinceros, tão sentidos
Que ela dominou seu asco
Nessa noite lancinante
Entregou-se a tal amante
Como quem dá-se ao carrasco
Ele fez tanta sujeira
Lambuzou-se a noite inteira
Até ficar saciado
E nem bem amanhecia
Partiu numa nuvem fria
Com seu zepelim prateado
Num suspiro aliviado
Ela se virou de lado
E tentou até sorrir
Mas logo raiou o dia
E a cidade em cantoria
Não deixou ela dormir

Joga pedra na Geni
Joga bosta na Geni
Ela é feita pra apanhar
Ela é boa de cuspir
Ela dá pra qualquer um
Maldita Geni

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