… e novamente eu retraí. Depois de tanto tempo sem ouvir palavra em português que não fosse em minha própria cabeça ou pronunciada através de um aparelho telefônico, ao ouvir duas mulheres conversando ao meu lado no avião acabei retraindo ao impulso de puxar assunto e bater um papinho na língua mátria. Cheguei mesmo a ensaiar um “vocês são brasileiras?” ou ainda um “vocês estão indo para o Brasil?”, mas acabei não conseguindo me decidir qual das frases era menos ruim, pois brasileiras eram, bem estava na cara, ou melhor na língua, já que, a não ser pelo forte sotaque carioca (sem preconceito... só não suporto, oras! E podem falar do "ôrra" e do "meu" paulistas que num tô nem aí!) elas falavam perfeitamente o nosso português, e que iam para o Brasil também era um tanto óbvio, embora o vôo fosse para Amsterdam. Mas retraí... novamente retraí. E tão profundo era o meu silêncio que nem mesmo o livro português escancarado na minha cara, com o título em português,em letras garrafais,estimularam um “dá licença”, ou um “obrigado”, e uma delas, ao se levantar para ir ao toalete soltou-me um “excuse me” e em seguida um “thank you”, ao qual eu respondi com um titubeante “je bent welkom”, num longe-de-perfeito neederlandês, língua falada na Bélgica e na Holanda (e também conhecida como dutch ou holandês, na Holanda, e flemish ou flamengo, na Bélgica). É que ainda estava influenciado pelo idioma devido às minhas últimas 2 semanas de trabalho na Bélgica. E também não respondi em português porque já estava com medo de ofendê-las, pois elas tanto falavam em português, tão aberta e descontraidamente, como aqueles que têm a certeza de não estarem sendo ouvidos, que poderia parecer que eu estivera bisbilhotando a conversa delas este tempo todo, fingindo não entender o idioma...
Não é a primeira vez que isso me acontece. Entre o desconforto de conversar com estranhos, o ridículo do assunto fútil e do papo besta, inevitável em qualquer abordagem, sempre acabo retraindo ao impulso – que sempre sinto! – de puxar papo quando ouço alguém falando português. Talvez seja um pouco devido a alguma má experiência, como em Bruges, Bélgica, quando ao ouvir um casal ao meu lado dizer “U bent hier... e agora?”, achei tão engraçado que não dei o tempo necessário à razão para impor-se à emoção, e soltei um “vocês são brasileiros?”, e o cara me respondeu “naum, somush purt’guesish”, dando-me somente um olhar de relance, fugaz mesmo, sem disfarçar o desdém pelo povo um dia dominado, explorado, violado e oprimido...
É... atenção, atenção! A estupidez esta além de nações e nacionalidades, e não é privilégio de quarto, terceiro, segundo ou primeiro mundo não... ela junta todo mundo num balaio só e forma o submundo de subseres subinteligentes com seus subpréconceitos... CUIDADO! Nem só de bushes & sadams & sharons & arafats & putkins & blairs & todos os que pregam a violência em qualquer estado – sólido, líquido, gasoso ou empírico – como meio a qualquer coisa é formada a estupidez... por isso, SEMPRE ALERTA!
Cá pra nós... será que ele pensou que eu queria ser "amigo" dele? Era só bater um papinho de dois minutinhos, dar um "então tá então, até mais ver" e tudo estaria resolvido! Ele até sairia com fama de simpático...
Quanta estupidez né?
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