Sunday, January 30, 2005

notas para um sábado

(fuga sobre motivo de "onde andaras?", de Ferreira Gullar)

lembra nossos sábados?
de manhãs preguiçosas e almoços espaçados,
e nós, atrasados... sempre atrasados!

sessões de cinema no fim da tarde
depois um jazzinho sem muito alarde
e a dança dos lençóis - capítulo à parte!

onde andarás nessas tardes vazias
agora que sábado é só mais um daqueles dias
intermináveis, que parecem não ter mais fim

depois que o sol se põe nas varandas
em que bares? em que cirandas?
por onde andas a te distrair de mim?

Thursday, January 27, 2005

A Revolução do Espaço Compartilhado

Road design? He calls it a revolution
Eu só fico imaginando uma coisa dessas em São Paulo ou Rio de Janeiro!

Sei não, mas creio que Arnaldo Xavier já discutia esse assunto...

Resumindo a mensagem: Espaço Compartilhado. Automóveis e pessoas convivendo harmoniosamente no mesmo espaço, nas ruas, sem necessidade de guardas de trânsito, semáforos ou sinais de trânsito como Pare, Dê a Preferência, ou Velocidade Máxima Permitida. O espaço e a vez de cada um deve ser negociado. "Quem tem o direito de ir ou vir primeiro?", pergunta retoricamente, Hans Monderman. "Sei lá. As pessoas têm que se virar, negociar seu espaço, usar a cabeça", responde ele.

E quem é ele? Um engenheiro de tráfico em Drachten, Holanda, não partidário da poluição visual de placas e semáforos e prefere pregar o convívio da experiência do espaço compartilhado.

Algumas variações menos radicais que o modelo de Drachen já podem ser vistas em outras cidades européias e mesmo nos EUA, onde notavelmente o pedestre (mesmo errado!) tem preferência sobre o automóvel, que para imediatamente ao ver um pedestre atravessar a rua, diferentemente das buzinadas e dos xingamentos que enfrentamos no Brasil...

Mesmo assim, sei lá... não é bom confiar não é mesmo?

Sunday, January 23, 2005

Soltando a língua II

Sempre achei amigável, e ao menos simpático, tentar falar o idioma do país em que se está, nem que seja a China! Baseado nesta premissa, sempre estou com um phrasebook no bolso, muita vontade e sem nenhum pingo de vergonha na cara, me metendo a falar qual seja o aidioma.

Com o Inglês, Francês e Espanhol, sem problemas... quase nem preciso do livro de frases, mas as outras... Lembro da vez que, em Praga junto com a Te, estávamos procurando as escadarias baixas que davam acesso ao Castelo. O mapa não era claro, e só nos restou perguntar... em inglês? Claro que não! Lá vou eu, metido que só vendo, perguntar, em Checo, pro policial aonde ficava a tal escadaria...
“Kde je ta dolní schod” ou algo assim, provavelmente sem a mínima fluência. O que eu não esperava (ou até esperava, mas acabei me surpreendendo) era o guarda entender o que eu havia dito e passar a responder, claro, em Checo!

Não fosse a universal linguagem dos sinais, eu estaria perdido. A Teresa diz que nada paga a minha cara de espanto frente à enxurrada de palavras sem o mínimo sentido que o policial passou a falar, eu procurando prestar o máximo de atenção que podia, e buscava me orientar nos gestos do homem, que desenhava o caminho no ar com as mãos, enquanto falava. Ao final, com um largo sorriso no rosto, só podia mesmo era agradecer: “Děkuji”!

Mal dobramos a esquina e a Te quase rolou no chão de tanto rir... “É, mas ao menos ele me entendeu!”

É preciso uma certa cara-de-pau e nenhuma vergonha pra enfrentar um situação destas. E atualmente venho enfrentando o mesmo, aqui em Antuérpia, na Bélgica. O idioma é o Nederlandês, falado na Bélgica e na Holanda, também conhecido como Dutch ou Holandês na Holanda, e Flemish ou Flamengo, na Bélgica, embora já tenha ouvido que Flemish não é língua, mas dialeto. Sei não... O que sei é que se fala o mesmo idioma na Holanda e na Bélgica, com diferenças regionais que beiram as mesmas existentes no Português entre Portugal e Brasil, no Castelhano entre Espanha e América do Sul e no Inglês entre Inglaterra e Estados Unidos.

É verdade que quando estou trabalhando não preciso usar outra língua que não seja o Inglês, embora eu arrisque uma ou outra palavra em Nederlandês no restaurante da empresa, para pedir o meu prato. Igualmente no hotel, ou no centro da cidade, o Inglês e o Francês são bem falados. O problema está nos bairros... aí a coisa complica. Poucos falam outra coisa que não o Nederlandês, e você tem que soltar a língua mesmo, ou não vai ser compreendido...

Até que soltar a língua é fácil, pois sempre é possível montar as frases que se quer usar com calma... mas e entendê-los? Entrar numa lanchonete, pedir por um lanche qualquer só porque ele está exposto no display, o que deveria tornar a tarefa menos árdua, mas não... a pessoa vira pra você e pergunta algo do tipo “blijven of meenemen”, querendo saber se você vai comer na mesa ou prefere levar para viagem, ou ainda, “klein, gemiddeld of groot”, para pqueno, médio ou grande... Estas coisas te pegam de surpresa, e a inevitável cara de espanto instála-se no seu rosto!

Mas ainda assim, eu ADORO isso!!! =P

Saudações Linguarudas!

Soltando a Língua I

… e novamente eu retraí. Depois de tanto tempo sem ouvir palavra em português que não fosse em minha própria cabeça ou pronunciada através de um aparelho telefônico, ao ouvir duas mulheres conversando ao meu lado no avião acabei retraindo ao impulso de puxar assunto e bater um papinho na língua mátria. Cheguei mesmo a ensaiar um “vocês são brasileiras?” ou ainda um “vocês estão indo para o Brasil?”, mas acabei não conseguindo me decidir qual das frases era menos ruim, pois brasileiras eram, bem estava na cara, ou melhor na língua, já que, a não ser pelo forte sotaque carioca (sem preconceito... só não suporto, oras! E podem falar do "ôrra" e do "meu" paulistas que num tô nem aí!) elas falavam perfeitamente o nosso português, e que iam para o Brasil também era um tanto óbvio, embora o vôo fosse para Amsterdam. Mas retraí... novamente retraí. E tão profundo era o meu silêncio que nem mesmo o livro português escancarado na minha cara, com o título em português,em letras garrafais,estimularam um “dá licença”, ou um “obrigado”, e uma delas, ao se levantar para ir ao toalete soltou-me um “excuse me” e em seguida um “thank you”, ao qual eu respondi com um titubeante “je bent welkom”, num longe-de-perfeito neederlandês, língua falada na Bélgica e na Holanda (e também conhecida como dutch ou holandês, na Holanda, e flemish ou flamengo, na Bélgica). É que ainda estava influenciado pelo idioma devido às minhas últimas 2 semanas de trabalho na Bélgica. E também não respondi em português porque já estava com medo de ofendê-las, pois elas tanto falavam em português, tão aberta e descontraidamente, como aqueles que têm a certeza de não estarem sendo ouvidos, que poderia parecer que eu estivera bisbilhotando a conversa delas este tempo todo, fingindo não entender o idioma...

Não é a primeira vez que isso me acontece. Entre o desconforto de conversar com estranhos, o ridículo do assunto fútil e do papo besta, inevitável em qualquer abordagem, sempre acabo retraindo ao impulso – que sempre sinto! – de puxar papo quando ouço alguém falando português. Talvez seja um pouco devido a alguma má experiência, como em Bruges, Bélgica, quando ao ouvir um casal ao meu lado dizer “U bent hier... e agora?”, achei tão engraçado que não dei o tempo necessário à razão para impor-se à emoção, e soltei um “vocês são brasileiros?”, e o cara me respondeu “naum, somush purt’guesish”, dando-me somente um olhar de relance, fugaz mesmo, sem disfarçar o desdém pelo povo um dia dominado, explorado, violado e oprimido...

É... atenção, atenção! A estupidez esta além de nações e nacionalidades, e não é privilégio de quarto, terceiro, segundo ou primeiro mundo não... ela junta todo mundo num balaio só e forma o submundo de subseres subinteligentes com seus subpréconceitos... CUIDADO! Nem só de bushes & sadams & sharons & arafats & putkins & blairs & todos os que pregam a violência em qualquer estado – sólido, líquido, gasoso ou empírico – como meio a qualquer coisa é formada a estupidez... por isso, SEMPRE ALERTA!

Cá pra nós... será que ele pensou que eu queria ser "amigo" dele? Era só bater um papinho de dois minutinhos, dar um "então tá então, até mais ver" e tudo estaria resolvido! Ele até sairia com fama de simpático...

Quanta estupidez né?

préVIXE II

O préVIXE está de site próprio! A humilde homenagem que fizemos ao nosso amigo Arnaldo Xavier (que já postei aqui, em http://eduardo-miranda.blogspot.com/2005/01/prvixe.html), que partiu desta paragens para outras em 26 de Janeiro de 2004, agora ganhou uma versão eletrônica no ciberespaço. Por estar acomodade em um provedor de domínios gratuíto, temos que agüentar os desagradáveis banners publicitários - particularmente horríveis! - que populam o site.

Mas isto é o de menos... o importante é que o conteudo está muito bom, com textos de Cuti, Dorival Fontana (apenas na versão eletrônica), Marco Rheis, Ronald Augusto (o Tutuca), Roniwalter Jatobá, Souzalopes e deste que vos escreve.

A editoração ficou a meu cargo e está bem simples, sem grandes recursos profissionais, apenas preocupada em publicar o trabalho. Futuramente pensaremos em acomodar a página num site pago, eliminando assim os indesejáveis anúnmcios.

É isso aí. O endereço é http://www.angelfire.com/zine2/casapyndahyba

Saudações Pyndahýbicas !

Thursday, January 20, 2005

You are sorry? No Way!

Sorry Everybody

Americano tem o dom de fazer dinheiro de tudo... Quando estive em NYC no início de 2002, logo depois do 9/11, fiquei pasmo ao vê-los cobrarem US$2 para se ver as ruínas do WTC, o Ground Zero!
E agora a história se repete. De proporções equivalentes ao 9/11, a reeleição de Bush é uma tragédia que ainda vai dar muito pano pra manga, e é claro, renderá muito dinheiro para alguns espertinhos, com todo o pejorativismo que o termo possa carregar. Esse site diz tudo, sorryeverybody, onde supostamente as pessoas se desculpam mas também aproveitam para vender um produtinho básico qualquer, que você naturalmente não precisa... é a famosa lojinha na saída do museu, que só os americanos, ou ao menos muito mais eles do que outros, sabem fazer muito bem.
Em vez de pedir desculpas, eles bem poderiam fazer algo mais eficaz, como um boicote ao consumo desenfreado e estúpido que eles também fazem melhor do que qualquer outro povo...
Any idea?

Pouca Farinha Pra Muito Bolinho

:: Agência Carta Maior ::

Revelações (?) como esta sempre são capazes de nos fazer pensar uma vez mais na questão: para que estamos aqui? O fim do mundo não deveria ser novidade para ninguém. Há muito, na Alemanha, precisamente em 85, um encontro onde participaram os grandes líderes e os grandes empresários mundiais já traçara o destino do mundo, no qual apenas 20% da população seria necessário... e quando alguém perguntou "E quanto ao resto?" responderam "Do resto cuidem os governos e as ONGs. É para isso que eles servem!"

Como já dizia meu camaradinha Michael Moore, “não há recessão, meus amigos; não há tempos difíceis para a economia. Os ricos estão pilhando e chafurdando – eles só querem ter a certeza de que você não irá procurar pela sua fatia do bolo”.

Tuesday, January 04, 2005

préVIXE

uma homenagem a Arnaldo Xavier
VIXE é um projeto que surgiu na Cabeça Pyndaíbica de Arnaldo Xavier, Souzalopes, Roniwalter Jatobá, Marco Rheys e eu. Discutimos muitas idéias, concordamos e discordamos em muitos pontos, acertamos a diagramação, a editoração, os textos, quem participaria, as capas – ah, a capa era um caso à parte para Arnaldo – mas não conseguimos acertar se a impressão seria com nossos próprios recursos, como manda o figurino pyndahíbico, ou se mandaríamos para uma gráfica, o que acarretaria custos extras.

VIXE é um projeto que Arnaldo não viu terminado, e na verdade ainda não está finalizado. Tantas dificuldades tivemos, ainda mais agora com a minha distância física e a ausência de Arnaldo, parece que os ânimos resfriaram um pouco mais.

Neste novo encontro – préVIXE – pretendemos primeiro homenagear nosso amigo, num brinde à amizade como sempre fizemos, e segundo, inaugurar a retomada dos trabalhos do que foi e ainda será o VIXE, na mesma concepção e contexto que, há quase dois anos atrás, começávamos a discutir e configurar, na mesa de um bar, entre vinhos e amigos...
Saúde Arnaldo!

Eduardo Miranda


  • quem tropeiro de que palavras
  • quem que de palavras tempeiro
  • de quem palavras que eu pé defumo
  • quem de palavras se arma sem arma
  • dura de couro quem vem de nagô
  • quem fala de nunca com olho mais oito
  • palavras de não que eu pé defumo

(souzalopes)



sempre guardou no peito
o repúdio doloroso
da pele e o pêlo
do preconceito imundo
que move o mundo

sempre foi ranzinza
muito ranzinza,
no dia do enterro chovia,
chovia muito.
nenhum de nós
colocou óculos escuros.
(marco rheis)


*
r. oda a dor
i. nevitavelmente
p. ara sempre

* *
neste ano
jazz-me-ei-te
em (26/1)2004 subtons

* * *
a recusa da prosa )
subsenhor sucumbe (
ékatómbe azul:
blue...
profundamente blue
(eduardo miranda)


ORIKI PARA ARNALDO XAVIER
quando você axévier dos emails da memória chegar
vai ser bom que não briguemos
como você brigou muitas vezes
por uma opinião
uma divergência
ou uma antipatia

melhor vai ser, xavier, deixarmos aflorar você daqueles seus versos
de que seu parceiro gereba nos deu notícia:
“o rio são francisco é uma lágrima doce
que desce pelo rosto de minas”

este arnaldo vai nos valer mais a pena agora
entre tantos que você foi

o cangaceiro e sua peixeira verbal
que lhe rendeu reações dos adversários
até pelas vias de fato
era um menino apaixonado por brincar de munganga
e fabricar palavras-bombas

o cangaceiro precisa descansar
de suas brigas contra os fantasmas do amor, das inimizades e da morte

axévier, agora você aprendeu de vez o que já sabia:
o que nos mata e nos torna assassinos cotidianos é nosso medo de amar
nossa economia de afeto
nosso apego às grades e algemas morais da formação deformada
que recebemos ao longo dos anos
o que nos mata e nos torna agentes dos pequenos assassinatos
é o cultivo da mágoa, do rancor, da raiva
o que nos faz suicidas e assassinos nas relações cotidianas
é desprezar a sabedoria do perdão
que não é palavra apenas
dita da boca pra fora
mas aquela onda que vem de dentro
inunda de boa vontade nosso interior
espalhando luz à nossa volta

o cangaceiro xavier já aprendeu para sempre:
é mais que urgente a necessidade de aprendermos amar diferente
de assumirmos a nossa
e a liberdade do outro
pois tudo passa
e o passado precisa ser nosso amigo
para que possamos recebê-lo com prazer
em suas constantes visitas

o arnaldo dos muitos amigos
o arnaldo de algumas mulheres
o arnaldo dos filhos assumidos e não assumidos
o arnaldo dos projetos para descaotizar o trânsito de são paulo
o arnaldo gélèdés
o arnaldo salve o corinthians
o arnaldo phyndaíba
o arnaldo das múltiplas parcerias
o arnaldo que ninguém conhecia
nem sempre disse
mas sabia
que jamais o outro será o que nós queremos que ele seja

por isso a sua “transnegressão”
por isso, perguntava: “por que o horizontal não pode dormir com o vertical?”
e dizia: “cumpad, eu não tenho ódio não”
quando acossado em uma conversa dura no deserto das armas

agora
além de seus textos convidativos para a viagem pelo desafio da linguagem
e da negritude
você é luz de memória
é luz de metáfora
pois que muitas vezes por medo de dizer “eu te amo”
acabamos por murmurar “eu te odeio”
e o que se diz quase sempre não é o que gostaríamos de ter dito
e por causa do interdito
o sentido mora no escuro
do olhar, da pele, do espanto, da dúvida
e só vem à tona quando a ele emprestamos a nossa luz

assim
obesos de mentiras
ou jejuamos
ou teremos que fazer doloridas lipoaspirações
sem contar o incômodo de sustentar por anos a fio
o peso do orgulho, da vaidade, do ciúme, da inveja e do ódio

axévier,
que este luto não seja mais uma luta de nossas contradições de viver
e sim um desprendimento de tudo
uma profunda e pacífica
meditação

é mais que urgente
que aprendamos a amar diferente
antes que seja tarde

quando você, axévier, chegar em nossos emails de memória
haveremos de ter o coração aberto
para recebê-lo com o nosso abraço
e servi-lo uma refrescante água de coco
aquela
da mais profunda sensibilidade da nossa paz
e leveza

que tua passagem e lembrança
nos sejam
um bálsamo
para continuarmos a viagem.

(cuti)


1.

orum o
palíndromo atravessado
na frente dos sem-narinas
o orum não oscila
entre ser algo
ou nada
não queda à mão
mas o pensamento o
pensamenta tanto
e da tal modo
que às vezes até consegue
deter num fotograma
o cine-orum
em termos de
rente afrografia
emprestada ao silêncio
do corpo

2.

negror de transegum
axévier hipérion é
meu hipograma meu
paragrama
cerco
de obsessões acústicas
encosto que se anagramatiza
fora da consecutividade da
cláusula temporal

programa de negro
software rasgacéu
achega de
xangô multilingual

na
quebrada
de xangô xangô
de cara
com o arnaldo

xingou e foi
xingado
(ronald augusto)


Adeus, poeta!

Faleceu, no começo da tarde de 26 de janeiro, o poeta Arnaldo Xavier. Um infarto fulminante o vitimou, novo ainda, aos 57 anos, um dia após acompanhar a passagem dos 450 anos de São Paulo, megacidade que o acolheu no final dos anos 60.
Nascido no bairro de Santo Antônio, em Campina Grande, na Paraíba, Arnaldo publicou livros como a Rosa da Recusa, de 1979, e foi parceiro do compositor baiano Gereba em muitos títulos musicais, como “Forró da Baronesa”, “Nas asas do Velho Chico” e “Arrasta-pé da Fiel”. Seu último trabalho na música foi justamente um frevo em torno do aniversário de São Paulo. Sobrevivia como funcionário da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) da prefeitura de São Paulo.
Conheci Arnaldo Xavier em meados dos anos 70, nos bares paulistanos, em plena ditadura militar. De lá para cá fomos amigos inseparáveis, unidos, sobretudo pela literatura e atuações em defesa da democracia e da igualdade social no país.
Com o também poeta Aristides Klafke e Arnaldo fundamos as Edições Pindaíba, uma editora marginal que editou inúmeros artistas. Uma das últimas publicações foi a antologia Contralamúria, de 1994. Com 382 páginas e reunindo 73 autores, era uma sincera homenagem ao afeto. À festa. À alegria. Era, em suma, uma salada mista e ecumênica para comemorar os vintes anos da editora.
Com a sua morte, ficou, no entanto, um projeto que um dia sonhávamos fazer. Era uma antologia que iria reunir diversos escritores contando como viram São Paulo pela primeira vez. Arnaldo me mostrou suas primeiras anotações:
“Era fim de outubro, 1969. Vista ao longe da rodovia Anhanguera, a cidade estava encoberta por uma neblina reluzente e nervosa, a garoa? As silhuetas compostas pelos prédios configuravam São Paulo, como a boca de um gigante, cujos dentes ameaçavam morder rubras nuvens dispersas ante os primeiros e tímidos raios de um sol de quase dezembro. Lá estava São Paulo, gigante deitado sobre o planalto de Piratininga, molhando os pés enfumaçados ora em Cananéia, ora em Itanhaém, ora em Ilhabela. Diante daquele primeiro olhar, a enorme boca foi pouco a pouco se traduzindo em ruas, avenidas, pontes e viadutos. Ali estava, flácido e sujo, o rio Tietê, expondo as fraturas de seu destino de locomotiva e de promessa de dias melhores”.
Nosso grupo Pindaíba perdeu um poeta – e amigo. Segundo seu conterrâneo, o escritor e jornalista paraibano José Nêumanne Pinto, Arnaldo morreu fazendo aquilo que mais gostava de fazer na vida: escrever. Foi enterrado num lugar onde escolheu em vida: no cemitério da Consolação, onde repousam os restos mortais de um batalhador que ele admirava, o jornalista abolicionista Luiz Gama.

(roniwalter jatobá)

Nasceu na Paraíba
à luz do bexiga
pariu-se o poeta
talvez o último
autêntico, fiel,
Idealista
pela essência,
por seus pensamentos,
pelo espírito...
hoje partiu
abrupto, imprevisível...
como a vida é
a morte imita
deixa o compromisso, o exemplo,
a palavra indecifrável
deixa família, saudades, amigos...
leva um abraço
do eterno, para o eterno
amigo Doriva.
(dorival fontana)

azulejos

“Estou curado de você:
Adoeci por outro alguém”
(Lande Onawale)

"Rejubila-se a alma repatriada. A memória pode falhar, mas no coração não há nada esquecido. Volto. Voltar é uma forma de renascer. Ninguém se perde na volta."
(José Américo de Almeida)

"Como disse Whitmam, a solidão é um grito que não ouve.Tô cá, calado, quieto desejando ver o tempo passar como uma estrela cadente, mas ele teima em ser lento.
(Arnaldo Xavier)

"Poesia é coisa de pobre pois economiza palavras."