Tuesday, December 27, 2011

Jeremia não escrevia


Jeremia

Jeremia não escrevia. Jeremia pouco lia e nada escrevia. Isso durante onze meses e 3 semanas do ano. Sabe-se lá o que acontecia com Jeremia que em épocas natalinas, mais precisamente na semana que antecedia o natal, se dava a escrever, compulsivamente! Embora possa parecer bom, para Jeremia era um tormento! Jeremia escrevia para por para fora... por para fora todo aquele sentimento que, de repente, brotava em seu peito, e que ele chamava de sentimento anti-natalino, que era o oposto do espírito de natal.

Quando criança, Jeremia perguntara ao pai porque não se chamava Jeremias, e o pai respondeu “Pruque tu é um só”.

Assim era o natal de Jeremia: onde as pessoas sentiam amor, Jeremia sentia ódio, onde as pessoas sentiam compaixão, Jeremia sentia desdém, onde as pessoas sentiam solidariedade, Jeremia sentia indiferença. Mas quem conhecia Jeremia sabia que ele era uma pessoa boa. Por onze mêses e três semanas do ano, Jeremia era um exemplo de amigo, colega, vizinho. Mas quando chegava aquela semana, Jeremia se transformava... ficava desesperançado, amargo, frio, indiferente, e enquanto as pessoas se confraternizavam, Jeremia se isolava. Se isolava e escrevia Jeremia. Compulsivamente.

De pequeno Jeremia não entendia muito das coisas. Um dia perguntou para mãe se o seu Manuel da padaria havia lhe batido. A mãe estranhou e disse que não, por quê? Jeremia disse que depois que seu Manuel chegou e entrou no quarto com mãe, mãe não parou de gritar. Naquele dia Jeremia aprendeu que voltar da escola mais cedo com dor de barriga significava uma surra.

Escrevia Jeremia, Jeremia escrevia. Toda aquela amargura, tristeza, desesperança... tudo ia na escrita de Jeremia, que não via a hora disso tudo acabar. Jeremia escrevia sobre a ganância das pessoas e sua conduta moral, sobre seu caráter, sua falsidade...
(...)
Mas se são de solidariedade os tempos, de compaixão e amor ao próximo, por que não realmente pregamos esses sentimentos? Por que ainda viramos as costas para um pedinte, para depois sentirmos pena? Se não adianta dar esmolas, esmolar também não vai fazê-lo nem mais nem menos miserável, ele provavelmente sabe disso, na própria pele! Mas aquele trocado pode salvar-lhe o dia – seja para um prato de comida, seja para um trago de pinga. Quem aí vai julgar?!? O que incomoda mesmo é a presença... ah, se pudéssemos simplesmente eliminá-los! Sim, a eliminação é possível, mas não como faz a polícia de certos Estados, e sim de maneira humana! E sua arma, camarada, é a consciência – igualmente toda a força e toda a fraqueza do homem. Por isso, enquanto estiver se empaturrando de perú e cerveja, não precisa pensar que tem gente remexendo o lixo e morrendo de fome, não... seria muita hipocrisia, e de hipocrisia a humanidade já está cheia. Quando estiver enchendo o rabo de perú, desejando saúde, paz, prosperidade e harmonia para os seus amados amigos e familiares, não precisa nem se esforçar muito... apenas sinta, de verdade, e carregue esses sentimentos ano afora – eu sei, é difícil, mas garanto que vai lhe doer menos...
Nos textos, Jeremia, que nunca escrevia, punha para fora essas coisas, coisas de pai, mãe e família, que não lembrava direito, pois depois que o pai havia se matado, Jeremia muito jovem, passara o resto da infância e adolescência de orfanato em orfanato... vários. Dos irmãos Jeremia não sabia – só sabia que cada um teve um destino diferente.

Geralmente Jeremia queria ver o natal passar rápido, rasteiro, mas ultimamente a coisa vinha mudando, ano após ano! Jeremia percebia que quando escrevia, punha para fora sentimentos alheios aos outros, mas também percebia que, fora da época natalina, quando não escrevia, sentia sentimentos igualmente não compartilhados... E quando concientizou-se de que isso era mais penoso do que escrever, Jeremia deixou de querer que o natal não chegasse, para desejar que o natal não acabasse. Se ele pudesse, escreveria sem parar, numa espécie de manifesto sobre essa hipocrisia toda que alimenta as pessoas, e o próprio ciclo da vida.

Estranha figura era Jonatã, o pai de Jeremia. Não chorava, não sorria. De nada reclamava, e por ninguém sentia. Diziam que ficara assim por causa de Eleonora, mulher infiel. Não teve coragem de largá-la por causa dos filhos Jacira, Jeremia, Jildete, Joel, Juvenal e Agripina. Talvez não tanto por causa de Agripina, filha bastarda, que mais bastarda ficou quando a mãe morreu dando a luz a ela. Culpa Agripina não tinha, mas na cabeça de Jonatã, a filha bastarda era sua única desculpa.

Embora Jeremia não tenha conseguido conspirar com o universo e fazer com que o natal não acabasse, conseguiu um trato melhor: manter aquela amargura, aquele desprezo, aquele ceticismo, pelo resto do ano dentro dele, e agora só escrevia Jeremia... enlouquecido, Jeremia não comia, não bebia, não falava, não dormia... Ficou conhecido como o louco que escrevia.

Quisera Jeremia que o que escrevia mudasse o que toda gente sentia, mas Jeremia sabia que não passava de utopia, e assim escrevia Jeremia, escrevia, e apenas escrevia...

Friday, December 23, 2011

A Privatização do Natal

Foi-se o tempo em que Papai Noel recebia – e lia – todas as cartas pessoalmente! Esse tempo, camaradinha, já era, não existe mais! Deixou de ser verdade quando a esperaça do mundo foi trocada por um punhado de tostões numa operação esconsa qualquer, entre duas partes gananciosas o bastante para não considerarem as consequências alheias. Hoje em dia, Papai Noel não passa de uma marca, empossada por uma mega-empresa multi-planetária. E o bom velhinho, coitado… só não morreu porque é imortal – talvez essa sua grande sina; gerente de projeto da fábrica de brinquedos no polo norte (com filiais na China e na Índia), vive estressado, parecendo um zumbi, vai contra suas crenças, nega tudo o que anteriormente pregou... uma lástima! Hoje em dia, são tantas cartas, emails, Facebook, Twitter, Bebo, Google+, Orkut... que tudo é sistematicamente escaneado e interpretado por processos eletrônico! São milhões e milhões de pedidos que a produção da fábrica vem causando um desastre ecológico irreparável na calota polar!

Mas não é tudo... os Elfos também não são mais os mesmos. Nada restou das doces e alegres criaturas que conheciamos. Com o aumento da carga de trabalho em quantidades maltusianas, os pobres elfos não davam mais conta do recado, e tiveram que ser multiplicados através de técnicas rudimentares de clonagem, que por não estarem plenamente desenvolvidas acabaram por criar verdadeiras aberrações da natureza! Logo que nascem são submetidos ao trabalho, e quando atingem a pré-adolescência e começam a ter consciência da condição abominável em que se encontram, muitos deles simplesmente abandonam seus postos de trabalho e saem a vagar sem rumo pelas terras geladas do polo. Com sorte, morrem de frio, mas geralmente são devorados pelas renas assassínas – sim, as renas também sofreram os malefícios do meio; por serem consideradas obsoletas, foram trocadas por jatos supersônicos; abandonadas e sem terem como sobreviver, acabaram se tornando perigossísimos carnívoros predadores.

Pode ser difícil de acreditar que a situação tenha chegado a esse ponto, mas é a pura verdade! Informação recebida de fonte de confiança, diretamente infiltrada nos esquemas maléficos da Papai Noel Inc. – embora omitam o “Inc.” de toda divulgação oficial e apresentem-se apenas como Papai Noel.

Essa é a verdade, camaradinha... e a melhor coisa que você faz é plantar a consciência e o bom exemplo nas suas crianças; filhos e filhas, sobrinhos e sobrinhas, afilhados e afilhadas, netos e netas, e toda outra criança que você puder, porque se não mudarmos a coisa lá no comecinho, a tendência é de não mudarmos nunca!

Então nesse natal, não vá às compras! Não compre por impulso! Não consuma pela época do ano! Tenha uma pausa consciente e refletiva, e tente passar essa consciência para os seus. Se todos fizerem, a gente chega... se não lá, pelo menos perto!

Tenha um Natal feliz...

Thursday, December 22, 2011

O Reino Desunido

Fica cada vez mais claro que o provincianismo da soberania absoluta inglesa vai de encontro - ou seja, confronta-se - com a Europa moderna. Os inglêses do Século XXI já não sabem mais "o que" eles são. Se antes, ser inglês parecia ser a mesma coisa que ser britânico, começa a ficar cada vez mais claro que não é. Mas a grande crise é que os inglêses parecem não ter uma noção de clara de "inglesidade" separada da noção de "britanidade"! Eles não sabem lidar com múltiplas identidades, e se não aprenderem rápido, a crise da Inglaterra com a Europa continental só tende a piorar.

Os escoceses e galeses sabem quem são. Há séculos eles carregam duas identidades - a sua própria e a britânica. E parecem não se incomodar com uma terceira identidade - a europeia. Eles se sentem em casa numa Europa de múltiplas identidades! Juntamente com os catalães, os bascos, os flamengos, os valões, os corsos, os sardos e mesmo os bretões, os escoceses e os galeses estão desenvolvendo um desejo de emergir como um estado soberano!

Manter o Reino Unido unido nos próximos anos é o grande desafio. Na pior das hipóteses (pior para quem?), o mais provável é o desmembramento do Reino Unido, com a Inglaterra ficando de fora da União Européia e a Escócia e o País de Gales permanecendo na união.

P.S.: Ontem - 21/12/2011 - foi o dia mais curto do ano! É... inclusive saí mais cedo de casa, só para curtir melhoro dia!

Monday, December 12, 2011

E por falar nisso...

Se você está pensando em me dar um presente de natal, fique à vontade... com tanto que não me dê um iPad! Depois de ensinarem chipanzés a jogarem video-games, agora cientistas vão ensiná-los a usar um computador com touch-screen! Imaginem a confusão no trem e no metrô: como saber quem é quem?

Seria esse o primeiro sinal da profecia hollywoodiana do planeta dos macacos?

* * *

Sir Cameron de Avalon, conhecido pelas suas funções de primeiro ministro do Reino Unido - ao menos é o que se pensava - andou enfiando os pés pelas mãos. Numa manobra para agradar seus amiguinhos do partido, ao ter negado o pedido de concessões fiscais ao sistema financeiro londrino (justo a quem?), simplesmente pôs sua bola debaixo do braço e disse não brincar mais! Merkel e Sarkozy nem ligaram muito para a criança, pelo que parece...

Cameronzinho ainda tem tempo de voltar atrás e seguir o conselho do Sarkozy: "Cameron, você precisa levar as coisas a sério!"

* * *

Tem um amigo meu que acredita que o universo está sendo modelado... como um modelo de banco de dados. E assim que esta modelagem acabar, tudo no universo, absolutamente tudo, pode ser previsto.

Cá com os meus botões, me pego a pensar... tendo o universo já mais de 15 bilhões de anos, imagino eu que a modelagem deva durar mais ou menos o mesmo tempo... e só pra piorar as coisas, o negócio é dinâmico e muda o tempo (?) todo, se é que podemos associar um eixo temporal ao universo... ainda mais agora que descobriram o Kepler 22-b, o pessoal da modelagem vai precisar começar de novo...

Thursday, December 01, 2011

My (new) black beauty!


Um belíssimo Gibson SG Reissue Bass EB! Para fazer par com minha Les Paul Classic Standard (escondidinha ao lado dele...)