Sunday, September 26, 2010

Eu quero falar Mirandês!

Muitas lhénguas ténen proua de ls sous pergaminos antigos, de la lhiteratura screbida hai cientos d'anhos i de scritores hai muito afamados, hoije bandeiras dessas lhénguas. Mas outras hai que nun puoden tener proua de nada desso, cumo ye l causo de la lhéngua mirandesa.
Eu, como um legítimo Miranda, das entranhadas aldeias do Conselho de Miranda do Douro, e que carrego a língua até no nome, deveria mesmo falar o Mirandês, não?!? Até curso online se pode achar! http://www.sendim.net/

O Mirandês é uma língua pertencente ao grupo astur-leonês, e segundo o "sítio" oficial do governo Portugês, o segundo idioma oficial do país! É falado numa área de aproximadamente quinhentos quilômetros quadrados, no extremo Nordeste de Portugal, ao longo da fronteira a sul de Alcañices, entre a ribeira de Angueira, a poente e sul, e o rio Douro, a nascente, num conjunto de aldeias dos concelhos de Miranda do Douro e Vimioso.

Os falantes do mirandês são em maior parte bilíngues ou trilíngues, pois falam o mirandês e o português, e por vezes o castelhano, e embora não mais de quinze mil pessoas falem a língua, eles ainda se dão ao luxo de se subdividirem em três dialetos - o central ou normal, setentrional ou raiano, meridional ou sendinês! E não bastasse isso, o sendinês, para complicar ainda mais, quer separar-se do mirandês e tornar-se uma "léngua oficiale". É o que trata o livro "La Proua de Ser Sendinês", de Emídio Pires Martins, lançado em 1999. Foi o primeiro livro escrito em sendinês, e funciona como um manifesto da língua.

Mas voltando ao mirandês... Língua de forte tradição oral passada de pais para filhos ao longo dos tempos, foi só em 1882 que José Leite de Vasconcelos, filólogo, arqueólogo e etnógrafo português, começou a investigá-la e a fixá-la em escrita. Na obra Flores Mirandesas, ele publica poesias suas e de Camões, contos, histórias, lendas, fábulas, provérbios, adivinhas, cantigas de amor, de humor, de devoção, etc.

Eis um poema de Vasconcelos em mirandês:
Lhéngua Mirandesa

Quien dirie qu’antre ls matos eiriçados
Las ourriêtas i ls rius d’esta tiêrra,
Bibie, cumo l chaugarço de la siêrra,
Ua lhéngua de sons tan bariados?

Mostre-se i fale-s’ essa lhéngua filha
D’un pobo que ten neilha l choro i l canto!
Nada por ciêrto mos cautiba tanto
Cumo la form' an que l’eideia brilha.

Zgraçiado d’aquel, qu’abandonando
La patri’ an que naciu, la casa i l huôrto.
Tamien se squeçe de la fala! Quando
L furdes ber, talbéç que stéia muôrto!
José Leite de Vasconcelos
In "Flores Mirandesas", pá.s 11-12
Livraria Portuense de Clavel & C.ª
1884 – Porto

A tradução eu deixo a cargo de cada um, mas antecipo: na TUDA de Outubro pode ser que apareça um textinho em mirandês traduzido para o português...

Mais textos em mirandês podem ser encontrados neste "sítio" de Lhéngua Mirandesa.

1 comment:

Jose Miranda said...

Jamais iria saber. Da proxima vez que formos a Portugal, daremos um jeito de visitar essas aldeias. Seria interessante, não?