Thursday, April 30, 2009

a arte da guerra...

Se alguém diz injúrias sobre você ao chefe, qual seria sua melhor saída? Certamente não é perder a cabeça... como a interessante figura ítalo-americana que conheci ontem.
Chegou em mim como se chega em qualquer pessoa, fácil, por acaso, puxando um papinho daqueles amigáveis mesmo, e em pouco tempo já me deixava a par de conspirações terríveis nos mais altos escalões da empresa! E ele?, Claro, ele por "saber demais", é mantido por perto, mas abandonado, sem perspectiva nenhuma de carreira!

Eu, para jogar o jogo amistosamente, fazia cara de espanto e indignação - espantado realmente estava, com tamanhas revelações - e no final, mui amistosamente e no topo de minha sapiência apenas livresca, aconselhei:
1 - Não discuta com o ignorante ao nível dele, pois quem assiste não sabe quem é quem;
2 - Procurar o chefe para se explicar seria levantar a poeira sem necessidade, se realmente tudo não passa de calúnia;
3 - Esperar para ver o que acontece não funciona, seria inação;
O melhor seria operar pelas bordas - conquistar os que confiam e tem a confianca do chefe e anular as fofocas do inimigo...

Tal papo fez me lembrar do livro "A Arte da Guerra", um maravilhoso tratado (embora militar) escrito durante o século IV a.C. por Sun Tzu, estrategista chinês, em que aborda aspectos estratégicos de guerra, de modo a compor um panorama de tudo o que deve ser abordado num combate racional. Diz a lenda que o livro foi usado por gente da pesada como Napoleão, Hitler e Mao.

Caracterizado por um caráter oracular, Sun Tzu incorpora um general cujas qualidades são o segredo, a dissimulação e a surpresa. A Arte da Guerra é hoje é largamente utilizado na "guerra da vida". O livro migrou das estantes dos estrategistas para as das pessoas comuns, que andam aplicando seus ensinamentos no dia-a-dia das empresas, em casa, nos relacionamentos...

Wednesday, April 29, 2009

Os porcos estão chegando!!!


Os porcos estão chegando, estão chegando os porcos!!! E principalmente pelo ar! "Fechem os portões do céu!"

A Alemanha também confirmou que os porcos (schwein) estão chegando! Já são nove os países com casos de porcos voadores...

Na Nova Zelândia (poaka), Israel (haser-fleisch), Escócia (muic-fheòil), Espanha (cerdo), Canadá (pork/porc), Estados Unidos (pork/cerdo), Costa Rica (cerdo), além do México (cerdo), onde tudo começou.

De onde veio o muro...


Embora meu gosto musical tenha evoluído (venha evoluindo) baseado em processos estéticos-intelectuais, sou fã do Pink Floyd desde que me conheço como ouvinte... e nos meus anos de ativista, muito boato se ouvia a respeito de discos, músicas ou artistas: sobre o The Wall do Pink Floyd, ouvia-se em certos circuitos que O Muro era uma alusão ao muro de Berlin, um confronto comunista/capitalista, enquanto outros diziam que era um trauma de guerra (Waters perdeu o pai durante a invasão Britânica de Âncio, na Itália), e outros juravam que não passava de uma história de amor! Eu acredito nas várias interpretações da palavra poética, e como sempre digo, uma vez publicado, o trabalho não pertence mais ao artista, mas ao seu público, que vai consumir e deglutir como bem lhe aprouver.


Mas como Roger Waters foi inspirado para a criação do The Wall, isso sim é interessante... Diz a lenda que foi durante um show em Montreal, no Canadá, em 06/07/1977 - "Azimuth Coordinator" - que Waters finalmente se encheu dos grandes públicos dos grandes concertos em estádios enormes. Enquanto tocavam "Pigs on the Wing", Waters simplesmente parou de cantar e gritou com a platéia briguenta e barulhenta (algo como) "Caralho, parem de soltar estas pôrras de fogos de artifícios, parem de gritar e berrar, eu estou tentando cantar! Eu não ligo se não querem ouvir, fodam-se, mas tenho certeza que tem muita gente aqui que quer ouvir. Por que vocês não calam a boca? Querem brigar vão lá pra fora e se matem. Se querem gritar e espernear vão lá pra fora, pois estamos tentando tocar música aqui, e as pessoas querem ouví-la. Eu quero ouví-la." E depois de ridicularizar o público com mais grosserias, chegou a cuspir na cara dos mais incontroláveis.

Mais tarde Waters declarou que este afastamento entre banda e público foi o que lhe inspirou a escrever "The Wall"

Tuesday, April 28, 2009

Branca de Neve e os 3 Porquinhos

E essa gripe suína que nem de porco vem... que coisa! Nem pra dar nome aos bois (!) o pessoal serve... deve ter interesse lobístico por trás disso, certamente, mas eu, cá pra nós, já não como carne de porco desde daquele escândalo da contaminação por mercúrio da carne suína irlandesa que foi negada na semana seguinte, depois da constatação de que a queda das vendas tinha sido brutal! Até "recall" fizeram - já viu recall para comida? A gente ouve muito falar em "recall" para automóveis, mas para comida foi a primeira vez! Porco? Eu? Nem palmeirense sou mais!!! Além do mais, dentre as carnes vermelhas a do porco sempre foi a mais amaldiçoada. Talvez pelo estilo de vida do pobrezinho...

E o Lula, na sua simplicidade cefalópode e lógica teutóide, pede pro povo orar por Dilma, que sem querer já virou a Branca de Neve do palácio - a preferida, com muita gente invejando sua posição, e agora rezando sim, mas não para que ela supere essa, mas que sucumba e desista da candidatura presidencial.

Só resta saber quem faz o papel do Espelho para o presidente Lula...

Uma boa notícia, enfim...


A dificuldade em se chegar a um acordo entre os representantes da Eurocâmara e os Governos da UE na noite passada, na rodada final de negociaciações, sugere que, depois de cinco anos de debates, seja abandonada definitivamente a controvertida proposta que queria estabelecer a jornada máxima de trabalho em 65 horas semanais...

Do lado de cima da Europa, torcemos para que a já famosa jornada de 35 horas semanais dos franceses seja uma realidade em todo o bloco - certamente geraria mais emprego, e deixaria as pessoas mais felizes! Ganharíamos menos, é claro, mas sempre haveria aquela possibilidade das horas extras para os interessados, que afinal, se fizerem jornada dupla chegarão às 70 horas semanais...

Friday, April 24, 2009

só porque hoje é sexta-feira...


... e porque eu lancei a TUDA com certa tranqüilidade (estou ficando craque nisso!!), e porque é sexta-feira, e porque não está chovendo (mas está bem nublado...), e porque é sexta-feira, e porque faltam só 11 dias pra Te voltar, e porque é sexta-feira, e porque eu vou sair mais cedo, e porque é sexta-feira, e porque eu não estou a fim de escrever, e porque é sexta-feira, é que eu postei este post...

Me perdoem os bons...

Thursday, April 23, 2009

o 30 que é 27, ou 28...


Mas uma pérola brasileira: a Receita Federal pediu aos contribuintes para que NÃO entregassem o IRSS nas últimas horas do prazo estipulado! Ora, se não podem cumprir o prazo, para que o prazo, afinal?

"Caros contribuintes, o prazo para entrega da declaração do Imposto de Renda é até a meia-noite do dia 30 de abril, MAS POR FAVOR NÃO ENTREGUEM PELA INTERNET NO DIA 30 DE ABRIL, POR FAFVOR!!! Nossos sistemas simplesmente não estão preparados para muitos acessos, então melhor mesmo é lerem que o prazo máximo é lá pelo dia 27 ou mais-tardar 28, OK?

Wednesday, April 22, 2009

Essa CBN...


Até quando essa fórmula de "fazer a pergunta que o comentarista quer comentar" da CBN vai vigorar? Será que ninguém reclama? Será que eles não se tocam do quanto falso soa este esquema? De quanto é chato ouvir o Heródoto Barbeiro, o Milton Jung ou o Carlos Alberto Sardenberg fazerem perguntas em tons ou de entendidos, ou de curiosos ou de indignados - sem aquela confiança de quem sabe do que está falando ou mesmo aquela espontaniedade de quem quer falar sobre aquilo - de um assunto que eles buscam "do nada", como se estivesse todo mundo falando a respeito! E os comentaristas são o "peroleiro" Gilberto Dimenstein, o despreparado Ethevaldo Siqueira, e a ultrapassada Miriam Leitão.

E o Max Gehringer definindo marketing hoje: tudo aquilo que torna o produto conhecido para ser comprado, hoje e sempre! Eu diria mais: e te convence que você precisa comprar mesmo o que você claramente não precisa!

Será que também temos que agüentar o Arnaldo Jabor cantando "Quem é que inventou o Brasil? / Foi seu Cabral, foi seu Cabral / No dia 22 de Abril / Dois meses depois do carnaval" ?!? Tenha dó! E dizer que o respeito pela mentira é uma coisa boa, que antes se tinha, e agora não se tem...

Acho que o Jabor deveria voltar a praticar um pouco daquilo que da qual já foi acusado no passado: republicar seus próprios textos como inéditos. Assim ele terá a change de acertar mais, ao escolher uma coisa do passado que seja boa e inteligente - o que está difícil atualmente!

Sendo a chamada da rádio "CBN - A Rádio que toca notícia", podemos dizer que essa música anda meio desafinada...

Monday, April 20, 2009

uma atualização nos índices...

Por ocasião da visita de um amigo à Dublin, conversávamos sobre os preços aqui na capital da República da Irlanda: proibitivos, ele me comentou! Principalmente porque vinha de Porto, em Portugal, onde bem sabemos se come e se bebe bem e mais em conta.

Mas e no Brasil, como é? Tambem não são proibitivos os preços?

A princípio pode parecer que não, mas se aplicarmos o mais novo índice Big-Mac (Fevereiro de 2009) veremos que o poder de compra local é muito (mas muito mesmo!) inferior do que a Europa. Vejamos:
Um Big-Mac no Brasil custa (em média) R$8.02. Na zona do euro custa em média €3.42. O salário mínimo no Brasil é R$415 (!) e na Irlanda, €1,400 (!!) - que é o resultado de €8,75 (por hora) multiplicado por 160 horas (8 horas por dia, 5 dias por semana, quatro semanas por mês). A pergunta a se fazer é "Quantos Big-Macs se compra com o salário mínimo?".
No Brasil:
415 / 8,02 = 51,75 Big-Macs

Na Irlanda:
1400 / 3,42 = 409,36 Big-Macs

E ainda assim, segundo a revista, o preço do Big-Mac no Brasil equivale a US$ 3.45, enquanto na zona do euro equivale a US$4,38. Nos Estados Unidos é US$3,54!

O Lula ainda precisa dar muito Big-Mac pro povo...

Friday, April 17, 2009

Os Limites da Ética

Ouvindo à CBN pela net, me deparo com o comentário do Max Gehringer sobre a ética que não me agradou muito não... É certo sim que não há meia-ética, da mesma maneira que não há meio-trouxa, meio-palhaço e meio-ladrão! Ladrão é o que rouba um centavo, assim como o que rouba um milhão, só muda a oportunidade, a quantidade e a coragem!

Contou uma historinha o Gehringer sobre um empregado que presencia um outro colega de trabalho combinando uma propina com o fornecedor para escolher seu produto. A testemunha, que não era do setor de compras, pensou logo em delatar o corrupto, mas depois repensou ao considerar a possibilidade de o superior também estar envolvido, além de não possuir provas concretas da conversa. O que fazer?!?

Aí o Max Gehringer, retoricamente, dá uma de analista e instiga o ouvinte a responder a pergunta com a seguinte questão: se um amigo seu lhe contasse que arrumou um jeito de dar uma maquiada no Imposto de Renda de maneira que pague menos ou até receba uma restituição, o que você faria? Você o denunciaria ao "Leão"?

Claro que não! Com a classe de políticos que temos no país, que compõe a sua própria ética e moral, onde o bem público é tratado como privado - privado de cada um - num descaso à população que passa longe da solidariedade, bom-senso e mesmo civismo. Só pra citar os recentes escândalos das passagens aéreas, que é de uma imoralidade vergonhosa, e de uma cara-de-pau sem a mínima vergonha de insultar a inteligência do mais inculto cidadão.

Querem-nos fazer engolir que levar mulher, filhos e amigos para a missão parlamentar em Miami está de acordo com o protocolo! Missão Parlamentar? Miami é um grande shopping center, e não uma Estado de negociações internacionais! E a família tem que ir junto? E ainda levar amigos?

Infelizmente, senhores políticos, vocês estão pedindo para que o povo sonegue o imposto, pois ninguém, no seu bom-senso e saúde mental, quer pagar para que os senhores viagem com a família e os amigos para Miami, resolver importantes assuntos de interesse do povo brasileiro...

E se alguém for apanhado na malha-fina, sempre poderá alegar que não está sonegando, mas apenas desviando o dinheiro para fins mais nobres!

Wednesday, April 15, 2009

7 dias

Hoje é dia de missa. Missa de 7º dia, mas um pouco diferente... a chamada shonanoka. A cultura japonesa - uma mistura não muito clara tampouco definida de budismo e shintoísmo - considera que a evolução do espírito se dá a cada 7 dias, rumo a um estágio superior. No 7º dia depois da morte, celebra-se o cumprimento da primeira etapa de uma longa jornada.

As homenagens continuam, com menos entusiasmo e importância metafísica, a cada 7 dias, até a missa do 49º dia, a shijuku-nichi. Após 7 semanas considera-se que o espírito já tenha cumprido todas as etapas e está pronto para o renascimento.

Depois disso, tem a missa do 100º dia, mas nem todas as famílias a celebram. A de 1 ano, isshu-ki, também é bem tradicional e segundo o budismo chinês representa o fim do período de luto pelo falecimento.

As demais missas representam uma homenagem periódica ao espírito, celebrando sua evolução constante. São comemoradas no 3º ano (sankai-ki), 7º ano (shichikai-ki), 13º ano (jusankai-ki), 17º ano (jushitikai-ki), 23º ano (nijusanaki-ki), 27º ano (nijushitikai-ki), 33º ano (sanjusankai-ki) e 50º ano (gojukai-ki).

Na tradição japonesa, a celebração de 50 anos de falecimento era comemorados com muita festa nos pequenos vilarejos rurais da antigüidade, pois acreditavam que o falecido se transformava num deus protetor daquela localidade

Na cosmologia shintoísta, há duas concepções diferentes para estruturar o mundo: a vertical e a horizontal.

Na vertical (mais aristocrática), fala-se em três mundos distintos, que em termos ocidentais seria o céu, a terra e o subterrâneo. Na concepção horizontal (mais popular), esta noção triássica é colocada lado a lado - a "Alta Planície Celeste", o "País do Meio" e o "País dos Mortos" - ou seja, deuses, mortais e os antepassados vivem no mesmo plano, cada qual no seu mundo.

Ao contrário do que o nome possa sugerir, o País dos Mortos, para o shintoísmo, é uma terra de delícias, onde habitam os espíritos purificados dos antepassados, que constantemente visitam o País do Meio, trazendo felicidade e protecção aos viventes. O shintoísmo atribui uma importância fundamental a este mundo.

No shintoísmo dos lares japoneses, há sempre um pequeno altar consagrado aos deuses e aos antepassados. Neste altar colocam-se amuletos e oferendas (saquê, arroz, sal) e recitam-se orações típicas shintoístas.

Muito arroz e saquê pra VOCÊ!

Monday, April 13, 2009

divagações sobre a morte - IV

- Marcelo, como você está bonito!

- Er... Eu não sou o Marcelo, dona Selma...

- Como você se parece com o Marcelo... você sabia? Ele estaria agora com quantos anos... Você está com quantos, meu filho?

- Vinte e quatro dona Selma...

- Ah... como você lembra o meu filho Marcelo!

Marcelo era meu amigo. Ouvíamos velhos vinis de rock 'n roll juntos, na época que certos álbuns só eram encontrados na versão importada, o que geralmente custava três vezes o preço do LP nacional. Ele particularmente adorava o Black Sabbath, e tinha alguns dos álbuns importados. Às vezes passávamos a tarde juntos, sonhando com uma banda e ouvindo muito rock 'n roll!

Desde que ele falecera num acidente de moto, aos 22 anos de idade, eu procurava evitar a dona Selma. Sempre que ela me via, se dava a chorar, abundante mas silenciosamente, como que se afogando em mágoas, dizia que eu lembrava o filho dela - fisionomias parecidas, a mesma idade, a mesma rebeldia do rock 'n roll - e às vezes passava a mão no meu rosto, com um olhar triste como só a morte de um filho pode causar a uma mãe, e dizia... ah, o meu Marcelo estaria tão bonito como você... eventualmente ela me chamava de Marcelo, o que acabava me constrangendo menos, pois sabia que ela estava numa espécie de transe.

O tempo passou, dona Selma deixou de trabalhar no hospital, e eu nunca mais a vi, nem ela nem ao Daniel, seu outro filho mais novo... mas poderíamos dizer que "a vida" não lhe foi generosa...

Sunday, April 12, 2009

divagações sobre a morte - III

Conversávamos sobre assuntos banais, quando alguém citou um documentário sobre pena de morte. Um padre americano com a teoria de que na hora da morte é possível captar na expressão do condenado se ele realmente é culpado ou não, e segundo ele, muitos inocentes vêem sendo executados.

Aí a discussão veio à tona: contra ou a favor? No time de cá, a defesa alega que há certos indivíduos cuja vida não vale o custo que causam ao sistema penitenciário (nos Estados Unidos há a prisão perpétua), enquanto os atacantes do lado de lá dizem que não deixa de ser um assassinato, a execução sumária - e sumária porque julgada por um grupo pré-determinado de pessoas, supostamente qualificadas a julgar quem deve viver ou morrer, como o polegar do imperador romano após as lutas de gladiadores: para cima, a misericórdia da vida, para baixo, a inescapável morte.

Qual a diferença entre matar e encarcerar pela a vida toda? Nenhuma, dirão uns, pois viver trancafiado não é vida... a única diferença é que o condenado tem uma oportunidade de se arrepender e aliviar sua alma. Sendo os EUA um país protestante/católico, talvez seja justamente isso que eles não querem...

Saturday, April 11, 2009

divagações sobre a morte - II

Eu acabara de chegar - era a minha vez de render minha irmã, que passara a noite ao lado de mãe. "Venho à noitinha, tá?" ela disse. Tudo bem, respondi.

Mãe dormia. Sua cama ao lado da janela, aberta, um sol bonito lá fora... era de manhãzinha. Peguei um café, fiz-lhe um carinho suave nas mãos... ela acordou. Olhou para a janela, disse "que dia bonito, filha...", É mãe, muito bonito... como mãe se sente hoje? "Me sinto bem... mas acho que eu já vou indo..."

Mãe olhou para mim, olhou para o dia maravilhoso lá fora, apertou minha mão e deu um longo e delicioso último suspiro...

divagações sobre a morte - I


Lembro-me que tinha 22 anos quando minha avó faleceu. Eu a tinha com grande amor e ela também me queria muito. Na época freqüentava bem a sua casa, pois usava a oficina do meu já falecido avô para os meus trabalhos artesanais - brincos, colares e pulseiras - além de ensaiar com a banda em sua garagem nas tardes de domingo.

Quando ela partiu, senti muito, muito mesmo, mas conforme o tempo ia passando, percebia, aos poucos, que eu não tinha profundidade suficiente para absorver tudo o que a minha avó tinha para me ensinar... e conviver com isso foi criando um vazio dentro de mim, potencializado pela tristeza de minha mãe - pensava: como uma mulher tão forte, segura e determinada como minha mãe pudera sucumbir em tão profundo poço? Certamente eu, na minha tristeza rasa e insignificante (comparada à tristeza complexa e consistente de minha mãe), estava perdendo muito do real entendimento daquela perda.

Como sua morte se dera alguns dias antes do natal, por anos presenciei seu lugar posto na mesa, seu prato e os talheres alinhados, durante as ceias de natal... minha mãe e minha tia numa tristeza profunda, como se tivessem acabado de voltar do enterro.

Eu tinha 22 anos... se velho ou jovem para ter a dimensão correta do que se passava, não posso dizer... acho que nunca estaremos preparados para perdas tão significativas... e se não é justamente esse o jogo da vida, que se poderia até dizer que não é lá um lugar muito justo de se viver, pois nos envolvemos, evolvemos, amamos pessoas, para que venha "a vida" a nos tirá-las...

Friday, April 10, 2009

morte...

... eis um tema que gera muitas discussões, diferentes opiniões, diversas crenças... mas sem dúvida é um tema que nos assusta, talvez nem tanto se se tratar da nossa própria morte, mas certamente se se tratar da morte de um ente querido.

Sempre que pensava sobre a morte, nos meus tempos de adolescente, me vinha à mente aquela música do Raul Seixas, Um Canto Para a Minha Morte... e ela realmente te faz pensar. Raul sempre foi lembrado como um artista que foi capaz de fazer todo mundo entender Nietzsche, devido à simplicidade de sua poesia...

Tem um documentário belíssimo chamado Nós que aqui estamos por vós esperamos, de 1998, dirigido pelo Marcelo Masagão que basicamente é uma leitura da "Era dos Extremos: o Breve Século XX", do Eric Hobsbawm, e mostra os contrastes entre as guerras, a banalização da violência, o desenvolvimento tecnológico, a esperança e a loucura das pessoas. O título vem do nome de um cemitério em Paraibuna, interior de São Paulo... na qual eu tive o prazer (foi um espanto!) de visitar pessoalmente.

Enfim, este documentário, entre tantas outras belezas, num determinado momento, mostra um piloto kamikaze em ação. Junto à cena, uma colagem de uma frase mais ou menos assim:
"Não é possível para uma mãe ver um filho seu morrer... vai contra as leis da natureza!"
Pura verdade! Se já é difícil pensarmos na morte de nossos pais, quem dirá eles na nossa!

Isso tudo é devido à triste ocasião da morte da Dona Rosa, o que me faz pensar no que vale a pena... Estar longe dos pais vale a pena? Para a Teresa, agora, certamente não. E pior de que não valer a pena, é perceber que não valeu a pena... já foi, já passou, e você falhou... inevitavelmente é esse o sentimento que nos vêem à mente: falhei! Não estive presente na morte da minha mãe! Embora saibamos que, mesmo estando no Brasil, as coisas podem acontecer de uma maneira que não estejamos presentes do mesmo modo, mas porque estamos afastados, isolados, desterrados, nos sentimos pior...

Eu sei o que é isso. Embora não saiba o que é passar por isso, só a idéia de passar por isso me assombra; é o meu maior fantasma!

Tenho fé na cosmogonia das coisas, e espero que eu tenha tempo de me redimir... me redimir das minhas ausências (ou das ausências que criei para mim), me redimir da palavra rude que disse num momento de exaltação, ou simplesmente ter um tempo extra para agradecer (de novo e novamente!) a tudo o que eles, meus pais, me proporcionaram, e que talvez, devido à minha juventude, inexperiência e tolice, não tenha me manifestado apropriadamente, para que entendessem todo o meu amor e toda a minha gratidão a eles...

Desculpem-me, meu pai e minha mãe, se me ausento, se me omito, se me escondo... sou apenas um tolo e imperfeito filho, tentando sobreviver à minha maneira (provavelmente errada), e ainda aprendendo sobre os reais valores dessa vida...

Amorzinho... alivie sua alma, seu espírito... sua mãe sabe de tudo, já o sabia em vida e agora além! Católico, Budista, Espírita ou Agnóstico - cosmológico - o mecanismo das águas manterá o moinho em movimento...

luv.u
e.du

Tuesday, April 07, 2009

Santa Ignorãça, Batman!!!


A oposição "branco" x "negro" faz parte de um ideário que tem marcado profundamente as relações socias nos últimos tempos. Lula, na sua simplicidade laica, acabou causando um certo mal-estar ao dizer que a crise foi culpa dos "loiros de olhos azuis", e que não conhece nenhum banqueiro negro ou índio. Mal-estar exatamente por remeter a conceitos raciais que queremos acreditar ultrapassados. Ao mesmo tempo seria muita hipocrisia acreditarmos que o fato de a ciência ter proclamado o fim do conceito discriminatório e classificativo de raças humanas, de longe significa que o mesmo não continue sendo usada como fator de diferenciação e de discriminação na vida real - o próprio IBGE utiliza o termo "população não-branca" em seus dados socioeconômicos.

Queremos crer que Lula quis chamar a atenção da população brasileira, fazendo-os crer que a crise atual que o país enfrenta não foi produzida no Brasil... Onde então?

Ora Lula, vá plantar batatinha lá em Caetés! Até eu sei que a culpa por essa putaria toda é e sempre foi dos bancos e dos economistas, abrigados pelas maravilhosas promessas do capitalismo desregulado e desenfreado. Agora vai querer que o povo engula que os banqueiros e os economistas brasileiros estão isentos da carnificina? Que não mergulharam suas colheres no pote de mel, quando este estava aberto - escancarado, na verdade! - e oferecendo seu melado a quem quisesse, sem custo tampouco risco? Que são apenas "vítimas" nesse "jogo sujo" que aqueles "loiros de olhos azuis" jogam em seu quintal-global, que é o terceiero mundo?

Eu ainda prefiro acreditar em papai-noel, saci-pererê e gnomos... além de leprechauns, é claro!

Friday, April 03, 2009

jogando o jogo

Pode-se dizer que a Arthurs Tavern de Nova Iorque seja a versão americana do The Mezz de Dublin, onde o palco é minúsculo, a música é fantástica, e os drinks são caros - não caríssimos mas acima do preço dos outros clubes.

Enquanto no The Mezz você sempre encontrará aquela religiosa multidão de adolescentes com mochilas nas costas procurando diversão gratuita, no Arthurs você encontra gente mais madura e com maior poder aquisitivo, poi embora a entrada seja gratuita, a casa impões uma política de no mínimo dois drinks por sessão de música - e os músicos tocam por uma hora, e fazem intervalos de 30 minutos.

Também, no The Mezz nunca ouvi jazz... rock'n roll, blues, country, folk, mas nunca jazz. No Arthurs não, o jazz começa logo às 19:00, e vai fundo até as 21:30, quando então entra a banda da casa - um sucesso, pelo visto! - com muito soul, funk e blues. Realmente a Noite pegA FOGO!

Eu te digo camaradinha, cá entre nós: só fui lá por causa do jazz, mas acabei encarando uma sessão da outra banda também, e tenho que admitir que os caras são bons! Mentalize aquele esteriótipo de músico de blues & soul americano que você sempre ouviu ou viu (!) por aí: negro, um pouco acima do peso, com aquele voizerão de trovão, e uma ginga nas cadeiras de dar inveja! Eram eles. Teresa iria A-MAR!

Soa bem? Sim, o SOM soa muito bem, mas só se você estiver disposto a pagar $7 dinheiros por uma cerveja, $8 dinheiros por um drink, $9 dinheiros por uma taça de vinho barato ou $11 dinheiros por uma dose de whisky. Dito isso, vejamos se o Arthurs Tavern ainda é um lugar justo de se ir... fiquei pensando nisso ontem, no intervalo de uma banda e outra: das 7 às 11 consegui me conter com uma taça de vinho, duas cervejas e um whisky. Não me leve a mal, não sou um beberrão desvairado não! Ia ficar no vinho apenas, mas o preço e a qualidade me desencorajaram; aí resolvi tomar um whiskinho, e o preço quase me derrubou da cadeira; aí tive que ficar na cerveja mesmo...

Vamos às contas: 9 (+ 1 gorjeta) + 11 (+ 1 gorjeta) + 7 (+ 1 gorjeta) + 7 (+ 1 gorjeta) = 38 dinheiros.

Outros bares de jazz cobram no mínimo $10 dinheiros de entrada, e a cerveja vai ser $5 dinheiros, o vinho provavelmente $7 dinheiros e o whisky $8dinheiros. Assim, gastaria 10 + 7 (+ 1 gorjeta) + 5 (+ 1 gorjeta) + 5 (+ 1 gorjeta) + 8 (+ 1 gorjeta) = $39 dinheiros.

E só porque hoje é sexta-feira e estou em Nova Iorque, eu vou lá de novo! Mas só até as 11, pois 11:30 tem show do Vinícius Cantuária no Jazz Standard... Vou queimar um charuto lá também!

Toque outra vez, Sam!

Thursday, April 02, 2009

versao brasileira, Telecine

Hoje tive a oportunidade de (re)assistir o clássico do cinema americano Casablanca, durante uma viagem a Nova Iorque (chique né? Só que é a trabalho...). Alguém pode pensar "mas que chato, filme preto-e-branco!", sem se dar conta de que é justamente esse o charme do filme, além é claro, da versão brasileira... Eu assisti a uma cópia dublada!

Alguém se lembra quando ao começar qualquer filme estrangeiro na TV ou no cinema - muito antes das legendas -, o narrador anunciava a empresa que havia feito a versão? "Versão brasileira AIC, São Paulo" ou "Versão brasileira Cinecastro, Rio de Janeiro e São Paulo" ou ainda "Versão brasileira Herbert Richers". No caso da cópia de Casablanca à qual assisti foi "Versão brasileira Telecine". Todas muito boas, diga-se de passagem.

Bateu uma baita nostalgia... aquele "versão brasileira..." me fez lembrar de velhos programas de TV, a tela coberta pelo papel celofane multicor, para dar um "colorido" ao aparelho preto-e-branco... Enfim, assistir ao filme despertou-me a curiosidade e fui procurar alguns fatos sobre o filme, e acabei por encontrar coisas interessantes, como por exemplo, você sabia que o título original de Casablanca chegou a ser "Everyone Come to Rick's" (Todo mundo vem ao Rick's)? E no script original é Rick quem abandona Isla quando descobre que ela já era casada?

Pois é... mudei completamente o rumo de sua existência daqui para frente, não é?