Algumas coisas andam acontecendo no mundo, como sempre... por mais que se tente ficar alienado das coisas, numa posição confortável, desligado dos acontecimentos, tentando assim importar-se apenas com aquilo que realmente te atinge quando te atingir, há coisas que não há como não serem ouvidas. O Egito, por exemplo... uma baita mudança se anuncia, que não se pode simplesmente não-olhar naquela direção. E a pergunta que se impõe é: seria essa rebelião uma rebelião laica ou um complô islâmico contra o ocidente?
Os europeus andam meio que "em cima do muro" na questão egípcia. Ora, se os europeus aplaudiram a queda do Muro de Berlin e comemoram a vitória da democracia no Leste europeu, porque desconfiariam da sociedade civil árabe? Seria por ser uma cultura totalmente diferente da ocidental, ou seria pelo fato de que, como em todo grupo, partido, governo, ou mera aglomeração humana, sempre há os que se apegam com unhas e dentes à suas causas, mas também há os que simplesmente aproveitam os holofotes para outros interesses?
A Europa é um grande bloco, com objetivos muito além de simples conflitos governamentais, ou incertezas quanto a regimes políticos. Não cabe a ela decidir o que é melhor para o Egito. Europa não são os Estados Unidos. Os EUA sim, metem seu grande nariz no negócio dos outros quando não são chamados. À Europa cabe apoiar e acolher, meramente, quando o povo - através de representação legítima - souber o que quer.
Pois bem, por incrível que pareça, há quem ache a questão egípcia não passa de uma luta organizada contra o ocidente - sendo, nesse contexto, ocidente definido como a representação branco-católica-americana. E claro, essa idéia absurda só pode ter se originado numa cabeça branca-cristã americana - categoria em que não me encaixo... não que ser branco ou cristão seja algo ruim. Aqui, é só uma infelicidade!
Da mesma maneira que há gentes que dizem-se saudosos da ditadura militar brasileira (O quê?!?!? - Sim, é verdade!!! - Não... - Sim... - Não acredito que... - Pois acredite, camaradinha, tem gente doida para ter os milicos de volta no poder! - Mas e todas aquelas torturas, cassações, assassinatos, coerções... - Pois é, mesmo assim... - Mas como?!?!? - Pois é...) há gente que sente falta de regimes ditadores em vários outros lugares do mundo! Inclusive o Egito! É a mesma inversão de valores que a moralidade bushiana sempre impôs mundo afora, abonada pelos ultra-direitistas americanos, que acham que liberdade se limita ao direito de não assistir aos comerciais entre a primeira e a segunda edição do jornal das 8...
Opinar todo mundo opina. Principalmente a direita americana, que na falta do que fazer se empenha em achar um suposto documento de Obama, onde conste o nome do hospital, do médico, do anestesista e das enfermeiras que fizeram seu parto, alegando que se não tiverem tal papel em mãos, significaria que Obama não seria americano, e portanto um presidente ilegítimo! Ora, ora... eu diria que se Obama não for americano, sorte dele... e do povo americano!
Se eu fosse me classificar, simploriamente, em direita ou esquerda, me diria esquerda... mas acredito ser imparcial o bastante para discernir o bom e o ruim das duas doutrinas. Sempre acho prazeroso ouvir ao extremista direitista facista chauvinista Olavo de Carvalho, em seu programa
True Outspeak. Não por ser chauvinista, mas por ser inteligente e de direita. Embora seja, infelizmente, reacionário.
Semana passada Olavo soltou uma pérola, daquelas do calibre de Gilberto Dimenstein - o meu perolista-mor. Disse Olavo, no contexto de homossexuais reclamarem da discriminação quanto à sua opção sexual, que "Os homossexuais estão com a faca e o queijo na mão!"
O que será que Olavo quis dizer com isso?
Ele continua questionando se alguém conhece um religioso que tenha espancado algum homessexual. Provavelmete não! Todos sabemos que a religião é castradora, e um religioso de verdade é temeroso de qualquer pecado, pois significa condenação! Assim, não é a moral que lhe conduz, mas a religião. Se amanhã, estupro deixar de ser pecado, ele poderá praticar... sem a mínima culpa!
Se são ou não são católicos os que recentemente espancaram homessexuais na Avenida Paulista, não importa. O que importa é que a intolerância ainda habita a sociedade, e deve ser combatida. Seja educando a tolerância nas escolas, seja exigindo que os pais eduquem seus filhos a serem tolerantes com o que é diverso. E dizer que educar a tolerância é incitar a homossexualidade é tão baixo como imbecil. Tolerância significa a boa disposição de aceitar opiniões opostas às suas. Mas parece que a única tolerância da direita, em geral, é a "Tolerância Zero", onde um suposto rigor crítico e absoluto não aceita o mínimo desvio.
Eu diria que os homossexuais têm o queijo na mão. A faca está na mão de outros.