Tuesday, December 27, 2011

Jeremia não escrevia


Jeremia

Jeremia não escrevia. Jeremia pouco lia e nada escrevia. Isso durante onze meses e 3 semanas do ano. Sabe-se lá o que acontecia com Jeremia que em épocas natalinas, mais precisamente na semana que antecedia o natal, se dava a escrever, compulsivamente! Embora possa parecer bom, para Jeremia era um tormento! Jeremia escrevia para por para fora... por para fora todo aquele sentimento que, de repente, brotava em seu peito, e que ele chamava de sentimento anti-natalino, que era o oposto do espírito de natal.

Quando criança, Jeremia perguntara ao pai porque não se chamava Jeremias, e o pai respondeu “Pruque tu é um só”.

Assim era o natal de Jeremia: onde as pessoas sentiam amor, Jeremia sentia ódio, onde as pessoas sentiam compaixão, Jeremia sentia desdém, onde as pessoas sentiam solidariedade, Jeremia sentia indiferença. Mas quem conhecia Jeremia sabia que ele era uma pessoa boa. Por onze mêses e três semanas do ano, Jeremia era um exemplo de amigo, colega, vizinho. Mas quando chegava aquela semana, Jeremia se transformava... ficava desesperançado, amargo, frio, indiferente, e enquanto as pessoas se confraternizavam, Jeremia se isolava. Se isolava e escrevia Jeremia. Compulsivamente.

De pequeno Jeremia não entendia muito das coisas. Um dia perguntou para mãe se o seu Manuel da padaria havia lhe batido. A mãe estranhou e disse que não, por quê? Jeremia disse que depois que seu Manuel chegou e entrou no quarto com mãe, mãe não parou de gritar. Naquele dia Jeremia aprendeu que voltar da escola mais cedo com dor de barriga significava uma surra.

Escrevia Jeremia, Jeremia escrevia. Toda aquela amargura, tristeza, desesperança... tudo ia na escrita de Jeremia, que não via a hora disso tudo acabar. Jeremia escrevia sobre a ganância das pessoas e sua conduta moral, sobre seu caráter, sua falsidade...
(...)
Mas se são de solidariedade os tempos, de compaixão e amor ao próximo, por que não realmente pregamos esses sentimentos? Por que ainda viramos as costas para um pedinte, para depois sentirmos pena? Se não adianta dar esmolas, esmolar também não vai fazê-lo nem mais nem menos miserável, ele provavelmente sabe disso, na própria pele! Mas aquele trocado pode salvar-lhe o dia – seja para um prato de comida, seja para um trago de pinga. Quem aí vai julgar?!? O que incomoda mesmo é a presença... ah, se pudéssemos simplesmente eliminá-los! Sim, a eliminação é possível, mas não como faz a polícia de certos Estados, e sim de maneira humana! E sua arma, camarada, é a consciência – igualmente toda a força e toda a fraqueza do homem. Por isso, enquanto estiver se empaturrando de perú e cerveja, não precisa pensar que tem gente remexendo o lixo e morrendo de fome, não... seria muita hipocrisia, e de hipocrisia a humanidade já está cheia. Quando estiver enchendo o rabo de perú, desejando saúde, paz, prosperidade e harmonia para os seus amados amigos e familiares, não precisa nem se esforçar muito... apenas sinta, de verdade, e carregue esses sentimentos ano afora – eu sei, é difícil, mas garanto que vai lhe doer menos...
Nos textos, Jeremia, que nunca escrevia, punha para fora essas coisas, coisas de pai, mãe e família, que não lembrava direito, pois depois que o pai havia se matado, Jeremia muito jovem, passara o resto da infância e adolescência de orfanato em orfanato... vários. Dos irmãos Jeremia não sabia – só sabia que cada um teve um destino diferente.

Geralmente Jeremia queria ver o natal passar rápido, rasteiro, mas ultimamente a coisa vinha mudando, ano após ano! Jeremia percebia que quando escrevia, punha para fora sentimentos alheios aos outros, mas também percebia que, fora da época natalina, quando não escrevia, sentia sentimentos igualmente não compartilhados... E quando concientizou-se de que isso era mais penoso do que escrever, Jeremia deixou de querer que o natal não chegasse, para desejar que o natal não acabasse. Se ele pudesse, escreveria sem parar, numa espécie de manifesto sobre essa hipocrisia toda que alimenta as pessoas, e o próprio ciclo da vida.

Estranha figura era Jonatã, o pai de Jeremia. Não chorava, não sorria. De nada reclamava, e por ninguém sentia. Diziam que ficara assim por causa de Eleonora, mulher infiel. Não teve coragem de largá-la por causa dos filhos Jacira, Jeremia, Jildete, Joel, Juvenal e Agripina. Talvez não tanto por causa de Agripina, filha bastarda, que mais bastarda ficou quando a mãe morreu dando a luz a ela. Culpa Agripina não tinha, mas na cabeça de Jonatã, a filha bastarda era sua única desculpa.

Embora Jeremia não tenha conseguido conspirar com o universo e fazer com que o natal não acabasse, conseguiu um trato melhor: manter aquela amargura, aquele desprezo, aquele ceticismo, pelo resto do ano dentro dele, e agora só escrevia Jeremia... enlouquecido, Jeremia não comia, não bebia, não falava, não dormia... Ficou conhecido como o louco que escrevia.

Quisera Jeremia que o que escrevia mudasse o que toda gente sentia, mas Jeremia sabia que não passava de utopia, e assim escrevia Jeremia, escrevia, e apenas escrevia...

Friday, December 23, 2011

A Privatização do Natal

Foi-se o tempo em que Papai Noel recebia – e lia – todas as cartas pessoalmente! Esse tempo, camaradinha, já era, não existe mais! Deixou de ser verdade quando a esperaça do mundo foi trocada por um punhado de tostões numa operação esconsa qualquer, entre duas partes gananciosas o bastante para não considerarem as consequências alheias. Hoje em dia, Papai Noel não passa de uma marca, empossada por uma mega-empresa multi-planetária. E o bom velhinho, coitado… só não morreu porque é imortal – talvez essa sua grande sina; gerente de projeto da fábrica de brinquedos no polo norte (com filiais na China e na Índia), vive estressado, parecendo um zumbi, vai contra suas crenças, nega tudo o que anteriormente pregou... uma lástima! Hoje em dia, são tantas cartas, emails, Facebook, Twitter, Bebo, Google+, Orkut... que tudo é sistematicamente escaneado e interpretado por processos eletrônico! São milhões e milhões de pedidos que a produção da fábrica vem causando um desastre ecológico irreparável na calota polar!

Mas não é tudo... os Elfos também não são mais os mesmos. Nada restou das doces e alegres criaturas que conheciamos. Com o aumento da carga de trabalho em quantidades maltusianas, os pobres elfos não davam mais conta do recado, e tiveram que ser multiplicados através de técnicas rudimentares de clonagem, que por não estarem plenamente desenvolvidas acabaram por criar verdadeiras aberrações da natureza! Logo que nascem são submetidos ao trabalho, e quando atingem a pré-adolescência e começam a ter consciência da condição abominável em que se encontram, muitos deles simplesmente abandonam seus postos de trabalho e saem a vagar sem rumo pelas terras geladas do polo. Com sorte, morrem de frio, mas geralmente são devorados pelas renas assassínas – sim, as renas também sofreram os malefícios do meio; por serem consideradas obsoletas, foram trocadas por jatos supersônicos; abandonadas e sem terem como sobreviver, acabaram se tornando perigossísimos carnívoros predadores.

Pode ser difícil de acreditar que a situação tenha chegado a esse ponto, mas é a pura verdade! Informação recebida de fonte de confiança, diretamente infiltrada nos esquemas maléficos da Papai Noel Inc. – embora omitam o “Inc.” de toda divulgação oficial e apresentem-se apenas como Papai Noel.

Essa é a verdade, camaradinha... e a melhor coisa que você faz é plantar a consciência e o bom exemplo nas suas crianças; filhos e filhas, sobrinhos e sobrinhas, afilhados e afilhadas, netos e netas, e toda outra criança que você puder, porque se não mudarmos a coisa lá no comecinho, a tendência é de não mudarmos nunca!

Então nesse natal, não vá às compras! Não compre por impulso! Não consuma pela época do ano! Tenha uma pausa consciente e refletiva, e tente passar essa consciência para os seus. Se todos fizerem, a gente chega... se não lá, pelo menos perto!

Tenha um Natal feliz...

Thursday, December 22, 2011

O Reino Desunido

Fica cada vez mais claro que o provincianismo da soberania absoluta inglesa vai de encontro - ou seja, confronta-se - com a Europa moderna. Os inglêses do Século XXI já não sabem mais "o que" eles são. Se antes, ser inglês parecia ser a mesma coisa que ser britânico, começa a ficar cada vez mais claro que não é. Mas a grande crise é que os inglêses parecem não ter uma noção de clara de "inglesidade" separada da noção de "britanidade"! Eles não sabem lidar com múltiplas identidades, e se não aprenderem rápido, a crise da Inglaterra com a Europa continental só tende a piorar.

Os escoceses e galeses sabem quem são. Há séculos eles carregam duas identidades - a sua própria e a britânica. E parecem não se incomodar com uma terceira identidade - a europeia. Eles se sentem em casa numa Europa de múltiplas identidades! Juntamente com os catalães, os bascos, os flamengos, os valões, os corsos, os sardos e mesmo os bretões, os escoceses e os galeses estão desenvolvendo um desejo de emergir como um estado soberano!

Manter o Reino Unido unido nos próximos anos é o grande desafio. Na pior das hipóteses (pior para quem?), o mais provável é o desmembramento do Reino Unido, com a Inglaterra ficando de fora da União Européia e a Escócia e o País de Gales permanecendo na união.

P.S.: Ontem - 21/12/2011 - foi o dia mais curto do ano! É... inclusive saí mais cedo de casa, só para curtir melhoro dia!

Monday, December 12, 2011

E por falar nisso...

Se você está pensando em me dar um presente de natal, fique à vontade... com tanto que não me dê um iPad! Depois de ensinarem chipanzés a jogarem video-games, agora cientistas vão ensiná-los a usar um computador com touch-screen! Imaginem a confusão no trem e no metrô: como saber quem é quem?

Seria esse o primeiro sinal da profecia hollywoodiana do planeta dos macacos?

* * *

Sir Cameron de Avalon, conhecido pelas suas funções de primeiro ministro do Reino Unido - ao menos é o que se pensava - andou enfiando os pés pelas mãos. Numa manobra para agradar seus amiguinhos do partido, ao ter negado o pedido de concessões fiscais ao sistema financeiro londrino (justo a quem?), simplesmente pôs sua bola debaixo do braço e disse não brincar mais! Merkel e Sarkozy nem ligaram muito para a criança, pelo que parece...

Cameronzinho ainda tem tempo de voltar atrás e seguir o conselho do Sarkozy: "Cameron, você precisa levar as coisas a sério!"

* * *

Tem um amigo meu que acredita que o universo está sendo modelado... como um modelo de banco de dados. E assim que esta modelagem acabar, tudo no universo, absolutamente tudo, pode ser previsto.

Cá com os meus botões, me pego a pensar... tendo o universo já mais de 15 bilhões de anos, imagino eu que a modelagem deva durar mais ou menos o mesmo tempo... e só pra piorar as coisas, o negócio é dinâmico e muda o tempo (?) todo, se é que podemos associar um eixo temporal ao universo... ainda mais agora que descobriram o Kepler 22-b, o pessoal da modelagem vai precisar começar de novo...

Thursday, December 01, 2011

My (new) black beauty!


Um belíssimo Gibson SG Reissue Bass EB! Para fazer par com minha Les Paul Classic Standard (escondidinha ao lado dele...)

Thursday, November 17, 2011

Morrer de escrever


Sempre que tenho uma idéia não desenvolvida me questiono quando irei tomar vergonha na cara e me dedicar à literatura em tempo integral... nem tanto vergonha na cara, e sim colhões!

Como trocar a comodidade e segurança da féria mensal pela incerteza da literatura? Sim, precisa de muito colhão para viver de literatura, mas muito mais colhões ainda para morrer de literatura!

Por enquanto eu passo...

Thursday, November 03, 2011

Movember-me!


Você, que me vê regularmente, deve ter reparado naquela mancha estranha entre meu nariz e minha boca... é uma tentativa desesperada de crescer um bigode! Para o Movember, sabe?!?

Pois é... tá difícil! Esse bigode precisa de incentivo! Como? Fácil: vá até a minha página do Movember http://ie.movember.com/mospace/2084492 e doe algo! Qualquer quantia serve!

Tuesday, November 01, 2011

É Movembro!


Todo ano, durante o mês de Novembro, o Movember é responsável pelo surgimento de bigodes em milhares de rostos de homens, pela Irlanda e mundo afora. O objetivo é angariar fundos e conscientizar as pessoas para a saúde dos homens, especialmente câncer de próstata. Para isso, no primeiro dia de Novembro, homens de rostos bem barbeados, suportados por suas mulheres, increvem-se no Movember.com com o objetivo de levantar fundos para essa causa.

Esse ano, eu estou lá...

Sunday, October 16, 2011

A Adega de Edgar


Já era tarde, mas mesmo assim Edgar resolveu abrir outra garrafa de vinho. Costumava dizer que o vinho vinha na dose certa para a pessoa, em garrafas de 750 mililitros. Dizia isso para justificar o fato de que, ao abrir uma garrafa, Edgar a terminava, sem problema algum. E ainda ficava bem... seus amigos é que ficavam impressionados e sempre comentavam, "Nossa Edgar, você tomou a garrafa todinha!" "Claro, ela vem na dose certa...", respondia. Já houvera ocasiões em que sozinho entornara 2 garrafas... em outras ocasiões - mais raras, é verdade - Edgar entornara três! Um recorde, se é que podemos chamar de recorde, já que Edgar particularmente não se interessava por isso.

Levantou-se com dificuldade do sofá, derrubando o controle remoto do DVD, que ao cair no chão, acabou por pausar o filme que Edgar assistia, "Encruzilhada de Bestas Humanas", de Rainer Werner Fassbinder. Edgar comprara este filme por recomendação de um falecido amigo escritor, Dario... Dario cometeu sucídio dias após ter assistido ao filme. Antes, porém comentara sobre uma lenda urbana ao redor do filme, um casal cuja garota havia matado o namorado, fanático por Fassbinder, após uma sessão desse filme... segundo Dario, saira na imprensa na época, Laura e Gabriel, mas Edgar não se lembrava. Na verdade Edgar não se interessava muito por cinema, mas depois do suicídio do amigo desenvolveu uma fixação por suicídios e suas causas, tentando entender o que passa na cabeça de um suicida. Por isso comprara o Encruzilhada...

Sacou do saca-rolhas, daqueles antigos que só garçons em bodegas de vinho usam. Detestava os saca-rolhas encrementados, que você apoia a garrafa sob eles e só abaixa o sacador... pronto, a rolha é mecanicamente arrancada numa precisão indiferente. Não Edgar, um verdadeiro apreciador de vinhos! Essas coisas não passam de bugigangas para novatos, coisa da moda, dizia. Como tudo no mundo, consumir vinho também acabou por virar moda entre a classe média em ascenção, e cada um precisava, desesperadamente, apreciar mais do que o outro, e para isso gastam seu dinheiro sem valor em saca-rolhas maiores e mais sofisticados, em vistosos coolers, no maiores e mais sofisticados gabinetes para armazenamento... é a era do amadorismo, dizia Edgar! Hoje em dia, todo mundo pode comprar uma máquina fotográfica e brincar de fotógrafo artístico! Ou gravar um CD, fazer um filme... Youtube, MySpace, Facebok, e essa merda toda! Mas não Edgar. Edgar não era destes, e preferia investir seu valioso dinheiro em vinhos de qualidade, baseado em suas incansáveis pesquisas e leituras - o verdadeiro caminho para o conhecimento. Edgar acompanhava anualmente o desenvolver das safras francesas, nas regiões e terroirs de sua preferência. Para cada região tinha seus terroirs, em Côtes du Rhône, por exemplo, Edgar gostava do terroir Chateauneuf-du-Pape e Gigondas; em Beaujolais, gostava de Fleurie; em Bordeaux, Graves, Margaux, Pauillac, Pomerol e Cahors; em Burgundy, Chablis, Macon e Pouilly-Fuisse; em Languedoc-Roussillon, Corbieres, Fitou e Minervois; em Loire, Muscadet, Pouilly-Fume e Sancerre.

Edgar também apreciava os vinhos italianos, principalmente os da região de Veneto - Amarone della Valpolicella - Piedmonte - Barolo - e Toscana - Brunello di Montalcino. Os espanhóis também não ficavam para trás, Montsant, Priorat e Somontano, além de Navarra e Ribera del Duero. E seria injusto não citar os portugueses, que muito agradam Edgar, do Douro, Bairrada e Alentejo.

Baseados nestas informações todas, poderíamos dizer que Edgar era um apreciador de vinhos do velho mundo, e estaríamos corretos, mas o que não poderíamos dizer é que Edgar nunca se interessara pelo novo mundo. Edgar já esteve em feiras vinículas e gastronômicas na Argentina, no Chile, nos EUA, na África do Sul, na Austrália e na Nova Zelândia. Há coisas de qualidade, reconhecia, mas faltava algo... tempo, talvez.

Convêm dizer que, depois da primeira garrafa, o controle de qualidade de Edgar ficava prejudicadíssimo. Não só para o vinho, mas para tudo. Experiente bebedor que era, Edgar sabia que depois da primeira garrafa - geralmente um belo vinho - a seguinte deveria ser de qualidade inferior. Neste caso, as seguintes... O que Edgar buscava na quarta garrafa já não encontrara na terceira e tampouco na segunda! Não tinha mais nada a ver com apreciação de vinhos - era pura bebedeira!

Edgar se levantara para pegar o saca-rolhas antes memso de selecionar o vinho. Munido do saca-rolhas percebeu que lhe faltava a garrafa. Sentiu-se tolo, sorriu para si mesmo e caminhou em direção ao seu gabinete que comportava 52 vinhos. Por vezes Edgar se questionava se não era pequeno demais o gabinete. Pegou-se pesquisando gabinetes de 120, 240 garrafas, mas logo desistiu... algo dentro dele dizia para não comprar.

Cambaleante, Edgar abriu a porta do gabinete para horrorizado constatar que só lhe restava uma garrafa de vinho! Espantado e incrédulo - jurava que o gabinete estava com mais da metade, apenas uma garrafa atrás - e sem saber descrever exatamente o que sentia, Edgar pega a garrafa e tenta ler o rótulo, mas não acredita no que vê... ou pensa que vê: o lendário Château d'Yquem 1811, a chamada Safra do Cometa! Uma raridade de colecionador!

Ranzinza que era quando ficava um pouco alcoolizado, Edgar pragueja, "Mas que merda... vinho branco de sobremesa?!?". Além de não ser muito inteligente abrir um vinho bom depois da segunda garrafa, muito menos inteligente seria abrir um vinho cotado a 75.000 libras esterlinas - considerado o vinho mais caro do mundo! Edgar sabia não ter esse vinho em sua adega, mas atônito que estava, isso era apenas um detalhe.

Decidido a abrir a quarta garrafa de vinho, Edgar vai até o mercado da esquina e constata que a sessão de bebidas estava fechada - uma das muitas hipocrisias nos mecados locais, fechar a sessão de bebidas após as 22:30.

Volta pra casa sem opção a não ser abrir o Château d'Yquem, que conscientemente sabe não possuir! Na primeira tentativa de sacar a rolha, ela praticamente se desfaz! Edgar acaba de empurrá-la garrafa adentro, e munido de um coador entorna uma taça generosa do vinho, para constatar que o mesmo estava estragado!

Alucinado, e agora com uma necessidade alcoólica que já se tornou molecular, Edgar começa a revirar todas prateleiras em busca de algo alcoólico - qualquer coisa - mas nada! Nada restara, a não ser... Edgar corre para a área de serviço do apartamento e revira desesperadamente a dispensa que fica debaixo do tanque. "Onde... onde estará aquele litro de Zulu..."

Com o litro de álcool nas mãos, Edgar olha para os lados, sem jeito, como se quisesse se desculpar pelo seu ato... mas Edgar morava só, e aquela era só mais uma daquelas noites intermináveis das suas semanas, em que costumava alcoolizar-se na tentativa de acelerar os tiques e os taques do maldito relógio... sempre em vão!

Edgar corre para a cozinha aos cambaleios, protegendo o litro de Zulu como se sua vida dependesse dele. Pega um copo, dispensa água e gelo, despeja uma boa dose do álcool e o entorna! Faz uma careta de quem não gostou mas repete a dose uma, duas, três vezes!

* * *

Dona Marluce, a vizinha do 203, acorda de repente com um grito horrível vindo do apartamento ao lado - "É do apartamento do seu Edgar!" Veste sua camisola e quando abre a porta do corredor vê Juvenilda, a empregada de Edgar, passar correndo, ainda aos gritos!

Dona Marluce entra no apartamento de Edgar e depara com a cena: Edgar caído no chão da sala, a boca espumada, e uma garrafa de veneno de rato nas mãos. A porta da adega estava escancarada, e 33 garrafas de vinho estavam espalhadas pelo chão da sala. Ao lado de Edgar, 4 garrafas de vinho, 3 vazias e uma aberta, faltando apenas uma taça.

Dona Marluce recolhe todas as 33 garrafas e as acomoda em três sacolas. Antes de se retirar com as sacolas para o seu apartamento, senta-se no sofa, pega a taça abandonada praticamente cheia, olha contra a luz através do vinho branco e licoroso... pega a garrafa quase cheia e lê em voz alta, "Château d'Yquem, Lur-Saluces, 1811". Pensativa, dona Marluce matuta com seus botões, Chatô di quem? Saluce? Uai, será qui é daquela minha colega lá di Minas?" Dona Marluce dá um longo gole no vinho com o qual acredita ter algum tipo de ligação, e comenta, "Ô trem bão... docin, docin, esse vinzin!" Mete-o numa das sacolas e deixa a cena.

Wednesday, October 12, 2011

Excusez-moi mon anglais...


Curioso como certas expressões soam bem em certas línguas. Por exemplo, a expressão "excuse me my french". "Desculpe o meu francês" é uma frase usada para disfarçar palavrões. A frase é usada numa tentativa de se desculpar pelo uso de palavrões, sob o pretexto de as palavras serem parte de uma língua estrangeira, no caso o francês.

"Excuse me my french, but you are an asshole", ou "perdoe o meu francês, mas você é um cuzão." Soa bem, não? Esses ingleses... agora, será que os franceses, calmos e pacienciosos como são (!!), não têm uma frase do tipo? Aposto que sim, e deve soar algo como...

Encule vous!!! Excusez-moi mon anglais...

Monday, October 10, 2011

Esqueçam o que escrevi!


Com esta frase, Fernando Henrique Cardoso mandou às favas todo seu passado intelectual, em detrimento às novas doutrinas socio-econômicas a que ele, como Presidente da República, se submetia.

Passada a decepção, o que fazer? Queimar todos os livros de Fernando Henrique! Pois foi o que fiz, lá nos idos de 1997.

Minha grande dúvida agora é se quebro os discos do Bob Dylan! Sim, o grande Bob, o deus do folk pela sua música, o guru pela sua poesia e literatura, e agora também o virtuoso pela sua pintura... já era!

Depois de um show medíocre que assisti de Bob, em 2009 aqui em Dublin, onde Bob entrou mudo e saiu calado - já postei a descepção aqui - Dylantante - Bob não melhorou... aliás, parece que piorou, e os shows vão ficando cada vez mais distantes e irreconhecíveis... será de propósito?

O negócio é que Bob gostou da Irlanda... tanto gostou que dá 2 shows por ano! Ah, quanta inocência! Bob gostou dos euros que os irlandeses generosamente pagam para vê-lo: €60-€90! Para ver aquela merda que ele vem apresentando? Pois lá vem ele de novo, agora com Mark Knofler tira-colo, tentando dar mais credibilidade ao desacreditado ato...

Só digo uma coisa: vai pra casa Bob, vai... e aproveita a aposentadoria!

Sunday, October 09, 2011

O Exercício da Tradução


Na TUDA eu exercito duas de minhas paixões, línguas e poesia - aliás, justo dizer que minha paixão por línguas veio através da paixão pela poesia. Era uma impressão de me dava, e ainda me dá, ao ler poemas traduzidos de outros idiomas, que eu poderia fazer diferente... não melhor ou pior - o que só se descobre depois da empreitada - mas diferente.

Essa sensação me levou aos exercícios de tradução, ainda muito cedo, nos meus vinte e poucos anos, e inglês e espanhol eram as línguas-fonte na época. Tais exercícios foram despertando em mim um prazer em decifrar - não é isso a tradução? E decifrando fui me acercando cada ve mais das chamadas "soluções poéticas" para os textos, fugindo da rigidez do sentido literal para valorizar características poéticas (rima, métrica, ritmo) e culturais (contexto social, cultural e antropológico adaptados à língua-alvo).

Tal exercício acabou por despertar em mim a curiosidade por outras línguas. Além do inglês e do espanhol, o francês e o italiano rapidamente passaram a fazer parte do meu repoertório, e mais tardiamente - e arduamente - o japonês (que consequentemente me trouxe o chinês) e o russo (que me proporcionou o contato com as línguas do alfabeto cirílico, como o bielorrusso e o ucraniano).

Com a minha mudança para a Europa meu horizonte se expandiu ainda mais! Aqui passei a ter contato direto com diversas línguas e culturas, e passei a entender melhor as fronteiras linguísticas e culturais - ou a falta delas - entre línguas próximas, de países vizinhos ou no próprio país; os diversos idiomas do reino da Espanha, os diferentes tipos de italiano falados Itália adentro, as particularidades do português e suas sub-línguas anciãs, os diversos dialetos alemães, o francês crioulo, o contato com outras línguas indo-européias de base cirílica, como o búlgaro, o sérvio, o mongol, o uzbeque e o checheno, etc, etc, etc...

Aí me perguntam:
-- ... mas você fala Polonês?
-- Não, respondo.
-- Você fala Basco?
-- Nem em sonho...
Aí, com aquele ar de desconfiança, disparam:
-- Então como você pode traduzir do Polonês, do Basco, e dessas tantas outras línguas que você não fala?
-- Simples... basta ter em mãos as ferramentas do meu famoso Kit básico para traduzir poesia de uma língua que você não fala ou não domina (língua-fonte) para uma língua que você domina (língua-alvo) !
Confira:
    Essenciais:
  • Um bom dicionário língua-fonte - língua-fonte
  • Um bom dicionário língua-fonte - língua-alvo
  • Um bom dicionário de verbos da língua-fonte
  • Um compêndio gramatical da língua-fonte
  • Desejáveis:
  • Conhecimento social e cultural do país, da época e do autor
  • Alguém que fale a língua-fonte para trocar idéias
Munido disso tudo, camaradinha, basta muita paciência e adoração por quebra-cabeças e decifração de códigos... e voilá!

Manda lá pro TUDA que eu publico!!!

Minhas traduções no TUDA:
http://tuda-papeleletronico.blogspot.com/search/label/EMtrad

Friday, October 07, 2011

Deu lá, no blog da Atelie...


Em entrevista ao Blog da Ateliê, o tradutor, músico e poeta falou da relação de “amor e ódio” entre Joyce e Dublin. Eduardo Miranda chegou à final do Concurso de Tradução Bloomsday 2011 e publicou sua tradução na revista eletrônica TUDA.

Como foi seu primeiro “encontro” com a obra de James Joyce?
Joyce me chegou primeiro através de Ulisses, ainda muito jovem – praticamente ilegível para mim na época. Depois fui cronologicamente retrocedendo: Retrato do Artista Quando Jovem, Dublinenses, e depois a poesia… mas foi em Dublin que tive a oportunidade de me envolver mais com a literatura e a cultura irlandesa – inclusive com a língua irlandesa – e consequentemente com James Joyce. Foi aqui em Dublin, durante a comemoração dos 100 anos de Ulisses,  que pude percorrer o caminho que Leopold Bloom percorreu, no mesmo passo que o livro.
Fale um pouco sobre a obra e vida de James Joyce, segundo a sua experiência.
Na verdade foi depois da minha mudança para Dublin por motivos de trabalho que vim a me interessar mais pela obra de Joyce – e tudo em Joyce é Dublin! E entender essa relação de amor e ódio foi um desafio… Joyce deixou claro em vida que não gostava de Dublin. Stephen Joyce, neto e curador da obra de Joyce, faz questão de afirmar que seu avô não gostava da cidade. Tampouco ele simpatiza com Dublin, e desaprova toda tentativa de citar a obra do avô, seja para turismo, nomeação de monumentos, ou mesmo comemorações. O único lugar onde é permitido citar a obra de Joyce é no James Joyce Centre, durante as comemorações do Bloomsday, festival que acontece todo dia 16 de Junho e que comemora as aventuras de Bloom.
Como é traduzir James Joyce?
Primeiramente acho que todos os que se submeteram ao desafio de traduzir o Finnegans Wake – e não só os finalistas – já são heróis pela própria ousadia. Para mim foi uma tarefa trabalhosa, tanto que consumiu quase todas as minhas horas livres de uma semana inteira! Mas ao mesmo tempo foi excitante e divertida… uma aventura e tanto! E o fato de morar em Dublin e de ter um certo conhecimento da língua irlandesa – mesmo que parco –  fez com que eu me sentisse, de certa maneira, mais próximo dos contextos joyceanos, e acho que acabou ajudando um pouco a transposicão multi-dimensionais do texto… além, é claro, de um pouco de intuição e muita poesia!
Fale um pouco de você e do seu trabalho.
Não sei se posso chamar de trabalho, no sentido convencional da palavra. É mais como um hobby, só que levado muito à sério… extremamente! Mas o tempo é que não ajuda muito. Como tenho o meu trabalho na área de Tecnologia da Informação, acabo dedicando apenas o tempo que sobra às outras atividades. Trabalho e família vêm primeiro e, às vezes, o que sobra não é muito. Tento ser constante na TUDA, uma e-zine de poesia, literatura e arte que publico mensalmente, já há 3 anos. É lá que publico minhas traduções. Minhas poesias, meus contos e outros textos podem ser acessados à partir de um “portal” que mantenho, o edotm.info. Já na música, tenho um projeto experimental e multi-instrumental, à distância, chamado The Virtual EM3, e uma banda real, o Wellfish. Conforme o tempo permite, vou “trabalhando”….
Eduardo Miranda

Confira no blog da Ateliê: http://blog.atelie.com.br/2011/09/eduardo-miranda-respira-james-joyce-em-dublin/

Tuesday, September 20, 2011

de deuses e economia

Grécia, terra dos deuses e dos prazeres terrenos, lugar onde o homem ousou se nivelar com os deuses, e dialogar à sua altura. Deuses e mortais habitavam o mesmo plano, nos primeiros dias do mundo... Está tudo lá, na Metamorfoses de Ovídio, divididos em dois grupos temáticos: contos de amor, e contos de punição. Assim era com os deuses: amor ou ódio.

O mais importante dos deuses da Grécia antiga era Zeus, o rei dos deuses, que era casado com sua irmã Hera. Os outros deuses que compunham os 12 deuses do Olímpico eram Demeter, Hades, Ares, Poseidon, Atena, Dionísio, Apolo, Ártemis, Afrodite, Hefesto e Hermes. Além deles, os gregos também tinham outras crenças místicas, como as ninfas, os semi-deuses, e outras criaturas mágicas.

Mágicas à parte, nem mágica ajuda quando se trata da situação econômica grega - ou européia, em geral. Eu, que vou para uma semana em terras aquéias - ou helênicas -, sei que entro lá com euros no bolso, mas não sei se saio com euros ou drachmas... tampouco sei se precisarei fazer câmbio para punts ao entrar na Irlanda!


Zeus me livre!!!

Sunday, September 18, 2011

patriotismo burro

Saiu esta semana uma biografia não autorizada de Sarah Palin, a potencial candidata a presidência dos Estados Unidos pelo Tea Party, a direita-burra estadosunidense! Nesta biografia, o autor Joe McGinnis revela que Palin, que vive apregoando exacerbados valores morais e familiares, fumou maconha na universidade, cheirou coca com o marido e amigos, e teve um caso - ainda que relâmpago - com o sócio do marido. Verdade ou mentira, pouco importa. A relevância que o passado pessoal tem na hora do voto é o que conta... ou melhor, é o que não deveria contar. Se mesmo um países menos neurótico e imbecilizado - vide caso Lula x Collor em 1988, quando o filho ilegítimo de Lula foi fator definitivo nas eleições - tais revelações "bombásticas" funcionam como favas ao gado, imagine nos EUA, onde o patriotismo americano é tão forte e presente, que tal povo, representado por uma certa facção política (o tal do Tea Party) é capaz de votar contra tudo o que Obama proponha, mesmo sendo claramente bom para o país e para o povo!

Isso sim é patriotismo, não! E qualquer semelhança com manobras políticas de um certo país tupiniquim, podes crer... é mera coincidência!

Monday, September 12, 2011

Oxfam 2011


Neste final de semana aconteceu a caminhada da Oxfam Ireland, o Trail Trekker 2011! Aquela mesma que eu fiz ano passado... No mínimo uma experiência e tanto, no máximo uma loucura! Vinte e tantas horas caminhando, com intervalos de 15, 20 minutos a cada duas horas, comendo barrinhas de cereais, de chocolate e chips, bebendo lucozade... uma delícia!

A causa é bem nobre, entretanto...

Parabéns ¦a galera do "Are We There Yet" 2011, Eduardo Giuliani, Iduae Hoelscher, Peter James e Con Hanrahan.

Rumo a 2012!!!

Sunday, September 11, 2011

110911


Dez anos do famigerado 911 - "nine-eleven" (devido ao modo como os americanos notam datas, mês-dia-ano) - o covardehorrendoterrível atentado de 11 de Setembro de 2001. Na ocasião, bem me lembro, estava no datacentre do Citibank, e por volta do meio-dia, 1 da tarde, recebemos a notícia. Fomos todos na sala de operações acompanhar as imagens, quase inacreditáveis, pela telinha. Fomos mandados para casa naquele dia, pois o Citibank, como todas as outras empresas americanas mundo afora, cerraram suas portas com medo de atentados... seria o primeiro sinal de vitória do terrorismo sobre o mundo-livre!

Tanto se falou na época, tão explorado foi o tema que parece que nada mais precisa ser falado. A mudança dos paradigmas, a divisão do mundo, o fim da liberdade... especulações não faltaram, umas reais, outras sensacionalistas, como tudo na imprensa. Na época eu não tinha um blog - uma tecnologia que ainda gatinhava - mas lembro das discussões acirradas sobre o assunto... inclusive um conhecido, ex-amigo, poeta, acreditou ter escrito o poema definitivo sobre o 911. Desnecessário dizer que apenas ele e talvez a namoradinha da época acharam o poema genial. Coisa de publicitário...

Rancores à parte, falar sobre o 911 no 110911 pareceu-me, à princípio, mero oportunismo. Ainda mais considerando-se todo o alvoroço americano - e de certa forma europeu - em torno da data: "aberturta" do Marco Zero e visita do presidente Obama e do ex-presidente "Dábliu" Bush, debates da situação Árabe-Americana, ampla cobertura da mídia escrita, falada e olhada... just too much!

Porém (dizem os puristas ser errado começar um parágrafo com porém, mas depois de Paulinho da Viola, é liberdade poética), convém lembrar as pequenas coisas, como bem lembrou Conor O'Clery, correspondente internacional do Irish Times que morava em Manhattan na época. Eu já conhecia Manhattan e as Torres Gêmeas de minha primeira visita a Nova Iorque em 1995. Revisitei-as em 1998 e 1999, para depois visitar o que restou delas em 2002, ocasião em que fazia um treinamento em Nova Iorque, pertinho do Marco Zero... e estar lá sem as torres foi no mínimo estranho. Além do óbvio - o horror do ato e suas consequências - as tais da pequenas coisas que as pessoas que conviveram na área sentiram, a imensa área de conveniência que era embaixo das Torres Gêmeas, as inúmeras bancas de jornais, os cafés, desde Starbucks até lojinhas administradas por famílias, com bagels fresquinhos todas as manhãs, aquele cafezinho caseiro, sem falar nos barbeiros, cabelereiros, chaveiros, engraxates, mercadinhos, pequenos restaurantes... um pedaço de história para cada frequentador diário daquele World Trade Center... e eu apenas convivi algumas semanas em esparsas visitas!

Assim, camaradinha, nesse 110911, ao invés de consumir toda essa super-produção que a mídia vai te empurrar goela abaixo, na TV, no rádio e nos jornais, tente se lembrar das pequenas coisas... aquelas aparentemente irrelevantes, ou inexpressivas, ou mesmo insignificantes, que no fundo fazem a diferença, simplesmente por te lembrarem que você está vivo para observá-las!

Saturday, September 10, 2011

A culpa é do chefe


Sabe aquela estado de motivação em que você vê soluções para todos os problemas, tem idéias geniais para tudo, quer fazer tudo, resolver tudo... bem, esse sou eu em um novo emprego. Nem precisa ser novo emprego, pode ser apenas uma nova posição, e pronto, Dona Motivação, com seus longos dedos de unhas vermelhas e anéis faustosos, me presta uma prazerosa visita, que geralmente - e infelizmente - dura pouco. Por quê?

Como sugere o título, a culpa é do chefe... e é mesmo! O papel do chefe além de prestar contas ao andar de cima, é motivar! Se todo chefe motivasse seus subordinados todos trabalhariam melhor - chefes e subordinados - mas parece que certos indivíduos ao serem promovidos a chefes esquecem dessa premissa. Alguns, bons profissionais até, enquanto subalternos, ao subirem os degrais da chefia, tornam-se pessoas completamente diferentes... mudam da água para o vinagre, sem ao menos passar pelo vinho. Eu mesmo tive duas péssimas experiências no passado, na falecida Eletropaulo... deixa pra lá!

Tudo para dizer que a motivação e o bom desempenho do funcionário depende do chefe sim - além, é claro, da competência do indivíduo para a função! Eu, ultimamente, ando motivado... Só espero que Dona Motivação faça longa morada desta vez!

Tuesday, September 06, 2011


É, ando meio afastado de tudo, blog, rede social... menos dos amigos! É que tem tanta coisa acontecendo que o tempo para sentar e escrever algo interessante está escasso, mas eu estou voltando... como dizia o Chico:

Pode ir armando o coreto
E preparando aquele feijão preto
Eu tô voltando
Põe meia dúzia de Brahma pra gelar
Muda a roupa de cama
Eu tô voltando
Leva o chinelo pra sala de jantar
Que é lá mesmo que a mala eu vou largar
Quero te abraçar, pode se perfumar
Porque eu tô voltando
Dá uma geral, faz um bom defumador
Enche a casa de flor
Que eu tô voltando
Pega uma praia, aproveita, tá calor
Vai pegando uma cor
Que eu tô voltando
Faz um cabelo bonito pra eu notar
Que eu só quero mesmo é despentear
Quero te agarrar
Pode se preparar porque eu tô voltando
Põe pra tocar na vitrola aquele som
Estréia uma camisola
Eu tô voltando
Dá folga pra empregada
Manda a criançada pra casa da avó
Que eu to voltando
Diz que eu só volto amanhã se alguém chamar
Telefone não deixa nem tocar
Quero lá, lá, lá, ia, porque eu to voltando!

Saturday, July 23, 2011

Um brasileiro chamado Gérson

O meio-campistas Gérson, conhecido como "Canhotinha de Ouro", foi um do melhores meio-campistas de toda a história do futebol brasileiro. Campeão do mundo pela célebre Seleção de Ouro de 1970, ao lado de Pelé, Tostão, Rivelino, Jairzinho, Gérson é lembrado não apenas pelo seu valor esportivo, mas também por ter seu nome associado a uma das poucas leis que são realmente respeitadas pelos brasileiros, no Brasil ou mundo afora. Ao lado da Lei da Gravidade (inexorável) e da Lei de Murphy (imprevisível), a Lei de Gérson rege que "É preciso levar vantagem em tudo, certo?".

Hum... certo. Embora não seja uma lei escrita, a Lei de Gérson deu à malandragem, à esperteza e ao famigerado "jeitinho brasileiro" um enunciado definitivo na frase que Gérson pronuncia na propaganda de televisão veiculada em 1976 para os cigarros Vila Rica. No comercial, Gérson diz que Vila Rica "É gostoso, suave e não irrita a garganta". E continua: "Por que pagar mais caro se o Vila me dá tudo aquilo que eu quero de um bom cigarro?". E finalmente, com um sorriso malicioso pregado na cara, solta a pérola que, descontextualizada, tornou-se o bordão definitivo do pior cancro cultural dos brasileiros, justificativa oportunista para espertalhões sem ética ou moral: "Gosto de levar vantagem em tudo, certo?".

Certo... E hoje em dia, gente que não conheceu Gérson e tampouco ouviu falar da Lei de Gérson tem como premissa levar vantagem em tudo. Isso é malandragem, e em certos casos é bandidagem mesmo. Praticar a lei e dizer que não pratica é mentira. Praticar e dizer que tal prática não faz mal a ninguém é ignorância. Praticar às escondidas e apregoar os malefícios da lei é hipocrisia.

É... doa a quem doer, camaradinha.
Assista ao comercial do Villa Rica no youtube.

Monday, July 18, 2011

A Lógica Binária

A lógica binária - ou bolleana - é aquela do 0 ou do 1, do tudo ou do nada, do sim ou do não... é onde não há o meio-termo - o aspecto quântico da superposicão de estados. Na lógica binária ou você é 1, ou você é 0. O problema é definir o que é 1 e o que é 0.

Para tornar o abstrato um pouco mais concreto, deixemos 1s e 0s de lado - a definição do número 0 já é um complicador em sí só - e falemos do bem e do mal. Seja em religião, direito ou pura filosofia, bem e mal sempre terão um espectro oposto e dualístico, onde os positivos te conduzem a uma direção e os negativos à outra.

Por definição filosófica, bem e mal são absolutos, já que o objeto (a moral) que anunciam é válido independentemente do sujeito (que ou quem o pratica). Assim, afirmar que roubar é errado, é uma declaração absoluta que independe do sujeito - não é correto para ninguém roubar, e não só para certas pessoas.

Se atribuirmos a bondade ao desenvolvimento pessoal do indivíduo, a maldade seria o resultado de uma condição humana imperfeita. Se tanto o bem quanto o mal podem ser aprendidos simplesmente como consequência da estrutura cultural e social (um conceito pré-socrático, desnudado da moral rígida socrática e pós-socrática por Nietzsche em Para Além do Bem e do Mal), se são "aprendidos" podem também serem "esquecidos". Mas se não houver um "freio" - seja moral, social ou religioso - para o mal, dificilmente alguém que se beneficie desse mal desejará "desaprendê-lo", e conduzirá assim sua própria ética da vantagem pessoal em detrimento do próximo, o que num certo país da América do Sul é chamado de "jeitinho brasileiro".

Neste país também tido como terra de ninguéns, e sim de espertinhos, certos deles pregam que ensinar a moral do roubo não caracteriza roubar. E se defendem dizendo que os outros (de outros países) também fazem - o que é bem justificável. Dizem ainda que tais "dicas" são para que você "fique esperto" e não caia nos golpes. Por exemplo, ensinam como se faz para calotear sua conta de gás, de energia e de telefone, além de incentivar o calote na fatura do cartão de crédito... Claramente um serviço de utilidade pública, em que você, banqueiro, dono de empresa de energia ou de telecomunicações, lendo aquele purgatório social da internet, saberá se prevenir desses fulaninhos!

E o pior de tudo é que daqui do meu exílio voluntário, percebo que esses tais entidades brotam mundo afora, pregando tais ensinamentos, maravilhados, deixando todos bem alertas de que lá naquele paisinho a coisa é assim: bobeou dançou! E que com aquela gentinha não se mete, pois você pode se dar mal!

Fácil entender por que, embora muita gente lute contra, aquele país não vai para a frente.

Friday, July 08, 2011

Penicão


Tem gente que chama a Irlanda de Fazendão! Um apelido carinhoso? Pode ser... mas pejorativo também. Ao menos pejorativo para ser propagado na comunidade de uma rede social, mais especificamente no Orkut, a latrina da internet. Aí eu me pergunto... não gosta daqui? Ora vá embora! Mas essa é uma outra discussão...

O Brasil pode estar muito bom, o Brasil pode estar muito bem... economicamente falando. Muitos brasileiros estão voltando para o Brasil devido á alavancada econômica do país, mas é o resto? Para aqueles que deixaram o país por dificuldades financeiras, não seria apenas uma ilusão de que a vida lá tenha melhorado?

A economia é apenas um dos problemas brasileiro - talvez o mais fácil deles. Ainda acho que o grande desafio é educacional. Na educação está o sucesso da prosperidade do país, sua sustentabilidade, preparando pessoas para serem primeiro cidadãos, depois estudantes, empregados, empregadores, empresários.. e até mesmo desempregados. Mas infelizmente a educação não é uma prioridade brasileira, nem mesmo num governo de esquerda supostamente mais voltado para o social. Se não se investir em educação - um investimento para ser saldado em 20, 30 anos - continuaremos a produzir ao menos dois cancros sociais, a violência e a cultura do levar vantagem em tudo. Enquanto o Brasil estiver produzindo indivíduos adeptos dessas duas práticas, não passaremos de um grande penico, transbordando merda por todos os lados!

Thursday, July 07, 2011

A ética da vantagem

Tem um anúncio da Rádio CBN que diz "Ética é uma só: ou você tem ou você não tem". Eu estenderia isso á Moral também! Moral e Ética geralmente se confundem - uma é relativa aos costumes, a outra à conduta - e uma acaba abrangundo a outra. Podemos dizer que a Moral é moldada nos hábitos, costumes, usos, regras e assimilação social dos valores; já da Ética, podemos dizer que é baseada primeiro na interioridade do ato humano, naquilo que gera uma ação genuinamente humana e que brota a partir do âmago do agir. Uma vez impulsionado, esse agir se baseia nos hábitos, costumes, usos, regras e assimilação social dos valores.

Tem gente que se confunde, sim, mas tem gente que não sabe nem do que se trata! Amigo meu, Gerson Brasileiro, teve o toca-fita (sim, faz tempo...) do carro roubado... adivinha o que ele fez? Foi na feirinha lá do Largo Treze comprar outro, "baratinho". Baratinho porque são ou roubados ou contrabandeados. Ele simplesmente alimenta o ciclo, mas não percebe!

E isso vale para tudo: troco errado, achar carteira com dinheiro dentro, pagar impostos, atravessar semáforo no vermelho, roubar na partida de baralho (truco pode!),  trapacear, levar vantagem, ser desonesto...

É camaradinha... haja "jeitinho brasileiro" e "lei do gerson" para enfiar isso na cabeça dessa gente!

Friday, June 24, 2011

Rock in opposition de primeira!

Lá no The Guardian chamaram isso de jazz, disseram que mistura Duke Ellington com marcha fúnebre de New Orleans, entre poemas de Federico García Lorca, William Blake e Herman Hesse.

Bem, o cara é um crítico musical, e eu até posso perceber um pouco desses elementos todos em The Cortège, ou O cortejo, mas esta gravação de 1982 de Mike Westbrook tem muito de música de câmara, Varèse, Stravisnky, Bartók, Schoenberg, e mais contemporâneamente lembra Univers Zero, Art Zoyd, Present, Art Bears, Henry Cow... toda a nata do rock in opposition!

Vale muitíssimo ouvir! Tanto pelo jazz, como pelo rock in opposition ou pela música de câmara! Eu ouvi pelo Spotify, e você?

Friday, June 17, 2011

A New Contract

Só porque é sexta-feira...

Feel Good, James Brown



I feel good, I knew that I would, now
I feel good, I knew that I would, now
So good, so good, I got you

Whoa! I feel nice, like sugar and spice
I feel nice, like sugar and spice
So nice, so nice, I got you

When I hold you in my arms
I know that I can't do no wrong
and when I hold you in my arms
My love won't do you no harm

and I feel nice, like sugar and spice
I feel nice, like sugar and spice
So nice, so nice, I got you

When I hold you in my arms
I know that I can't do no wrong
and when I hold you in my arms
My love can't do me no harm

and I feel nice, like sugar and spice
I feel nice, like sugar and spice
So nice, so nice, well I got you

Whoa! I feel good, I knew that I would, now
I feel good, I knew that I would
So good, so good, 'cause I got you
So good, so good, 'cause I got you
So good, so good, 'cause I got you

Thursday, June 16, 2011

Diaflor

Finnegans Wake, by Paulo Rocker
correnterrio, depois de Adão e Eva, do corredor da costa até a barriga da baía, uma cômòdus vicus estrada de extremavoltas nos conduz de volta ao Hacanga Castelo e Entornos
Este é o primeiro parágrafo da minha tradução dos 5 primeiros parágrafos do Capítulo I de Finnegans Wake de James Joyce.

Para quem não sabe, Finnegans Wake, ou Fubeca Desperta, na minha tradução, é o último romance de Joyce, publicado em 1939. É considerado um marco do romance moderno e experimental, por conter elisões e palavras composta em inglês e outras línguas, buscando uma multiplicidade de significados. Sua tradução para qualquer língua é complicadíssima, e qualquer tentativa é uma ousadia, desde o primeiro parágrafo do romance.

Ainda para quem não sabe, o Bloomsday é uma data comemorativa em homenagem ao livro Ulisses, de James Joyce, que relata a odisséia do personagem Leopold Bloom durante 16 horas do dia 16 de junho de 1904. É bem comemorada na Irlanda e modestamente em alguns países, inclusive o Brasil. É a única data fictícia comemorada no mundo, por amantes de literatura.

Minha tradução dos dois primeiros parágrafos do Capítulo I de Fubeca Desperta é finalista do Concurso de Tradução Bloomsday da Ateliê Editorial. Vote em mim aqui!!!

A tradução dos 5 primeiros parágrafos do Fubeca Desperta estará na TUDA de Julho.

Haveam todalls um muibomui Bloomsday!

Wednesday, June 15, 2011

I might drop one...

... but it was close!

Run baby, run...
Muita discussão ao redor das taxas pagas no mercado de trabalho para Informática...

Recentemente uma matéria na Veja (aka Óia) publicou uma matéria com a média mínima e média máxima de salários para várias áreas de Tecnologia da Informação. A matéria que despertou uma discussão acirrada entre os que acham os números irreais - a grande maioria - e aqueles que acham que os valores estão condizentes com o mercado (inclusive este que vos escreve).

Desde que os ianques implementaram a máxima de que a informação referente a quanto você ganha é mais importante do que a sua senha bancária, ficou fácil para as empresas negociarem salários individualmente, passando por cima de associações e sindicatos. Antigamente, quando isso não era segredo, os valores eram bem alinhados, e as eventuais diferenças eram geralmente devidas à experiência dos indivíduos... mas hoje não! Fulano trabalha ao lado de Cicrano, fazendo a mesma coisa que Cicrano faz, mas pode estar ganhando quase o dobro que Fulano... isso porque Fulano, desconhecedor do "mercado" ou apenas precisando mais desesperadamente de um trabalho que Cicrano, aceitou menos, e não quis arriscar com negociações.

Aqui na Europa é a mesma coisa... cito dois exemplos extraídos de uma ferramenta de cálculo salarial que está bem próxima da realidade. Analisei um salário de um Arquiteto e de um Consultor genérico, ambos com a mesma experiência e os mesmos conhecimentos:


Os dois valores médios se aproximam, mas se considerarmos os salários-base, há uma diferença grande... e para ambas simulações os dados informados eram de um profissional bem experiente. Assim, um Arquiteto Sênior pode ganhar 45,000 por ano, enquanto o outro ganha 95,000 - mais que o dobro!

Ah... esse "mercado"!

Saturday, June 11, 2011

The Day After...

Starry Night In Dublin, by John Nolan
Eu posso até estar "viajando", mas viajando mesmo... na maionese, na manteiga, em Dublin, no Rhône, no escambau... mas se este negócio vingar, amigão... ah, eu vou dar muita risada à toa, ah se vou!!!
come baby, come...

Friday, June 10, 2011

Um Quadro Impressionista

Shimmer, by Marcus Krackowizer
Sabe aqueles momentos em que você se sente como que se estivesse em suspensão, na espera, na ansiedade de receber algo, de fazer algo, de participar de algo, mas este algo parece já ter ido, passado deste momento para algum outro momento no passado, e a possibilidade de recuperá-lo fica mais longe conforme você pensa nele?

Esta é a impressão.

Imagine uma luz, brilhante, intensa mas sem ser ofuscante, que se apresenta para você de repente, no meio daquele ambiente escurinho, quentinho, cheirosinho, aconchegantezinho em que você se colocou nos últimos tempos... mas essa luz, você pensa, o que será? Será ela mais fresca que o meu escurinho? Mais fedida? Desconfortável, talvez? Eu até que enfrentaria essa luzinha aí, fosse me dado a garantia de poder apagá-la a qualquer momento e voltar para o meu escurinho confortável...

Esse é o quadro.

Hoje, sexta-feira, minha missão é pintar um quadro impressionista de ser... e te digo, camaradinha, There Will Be Blood !!!

Tuesday, June 07, 2011

Gráinne Duffy – Out Of The Dark


É uma pena que a grande mídia não se interesse por pequenas pérolas. Gráinne Duffy, uma cantora, compositora e guitarrista irlandêsa que lançou seu primeiro álbum, "Out of the Dark", em novembro de 2008, tem recebido ótimas críticas de uma série de revistas de prestígio, e esta semana chegou aos meus ouvidos através de uma matéria tardia no The Sunday Times.

Numa recusa heróica de entrar para o mainstream das grandes gravadoras, ela declarou "tocar o que bem entender". Por sorte, podemos conferir no Deezer o que isso seja...

Friday, June 03, 2011

Cadê Wally?


Wally estará em Dublin de 16 a 19 de Junho, como parte do Campeonato Mundial de Performance de Rua - Street Performance World Championship.

Vem ser um Wally você também, vem!!!

Detalhes aqui:

Thursday, June 02, 2011

No Estrelar dos Ovos...


A rainha Elizabete II e Barack Obama são mais imortantes do que os cidadãos comuns irlandeses, Slobodan Milosevic responderá por crimes contra a humanidade em Hague, a Microsoft lançará o Windows 8, o uso de telefone celular pode causar câncer no cérebro das pessoas, Candwiches já podem ser comprados em supermercados, a internet não é um lugar seguro de se viver, a guerra dos tablets e dos smartphones não fará do mundo um lugar mais justo, depois de provar não ser Portugal a Irlanda precisa provar não ser a Grécia, ninguém é indispensável a não ser você mesmo, os pepinos andam matando gente, a economia é um bicho sem-cabeça, mula é a mãe...

Abóboras, bolas...

Friday, May 27, 2011

Sshhhh...

Trabalha, trabalha, nego
Terra Seca, Ary Barroso

Andam questionando meu silêncio...

Seria político? Uma concessão ao governo de Enda Kelly, que primeiro quis abolir o ensino do irlandês das escolas, aumentou as taxas dos trabalhadores de salários ditos baixos, e vergonhosamente parodiou Obama, ao lado do próprio Obama?

Seria cultural? Um protesto à banalização do cinema em detrimento do culto da celebridade, ccada vez mais presente em lugares nunca antes imagináveis, como Cannes? Um manifesto poético contr os grupos de amigos que é a poesia irlandesa, com seus livros plastificados e revistas inexpressivas sendo publicadas em coquetéis badalados a vinho branco, enquanto gente de expressão se confina a um livro a cada dez anos? Ou um grito silencioso contra a supervalorização do rock 'n' roll em detrimento de outros gêneros, claramente observado na programação das rádios e nos calendários culturais país afora?

Seria financeiro? Uma adesão moral ao movimento de blogueiros fanceses que resolveram se negar a dar informação gratuita, alegando que a grande mídia - a mídia paga - aproveita-se da blogosfera para obter in,formação gratuita e transformar em artigos pagos?

Não, não, é só trabalho mesmo! Mas como hoje é sexta-feira...

Friday, May 06, 2011

Pegaram mesmo o Osama


Finalmente "os do lado de lá" confirmaram a morte do Bin Laden. Relutantes, condenavam os "infiéis" que de cara acreditaram nos ianques... mas hoje pela manhã engoliram sua crença e confirmaram a morte do chefe-mor e mentor do 9/11.

E tem gente falando por aí e por aqui que a morte de Osaminha não muda nada no cenário mundial do terror! Que Osaminha era apenas um "símbolo", uma idéia, como se muito mais do que uma idéia fosse preciso para aterrorizar o mundo todo, se apenas a possibilidade de que estejam planejando um ataque já não seja suficiente para tirar o sossego muita gente!

O problema é que em termos de terrorista, Osama Bin Laden era a celebridade do momento, e como toda celebridade, atrai atenção, notícias e popularidade... a guerra contra o terror que o bushinho iniciou terá agora que direcionar seus holofotes para algum outro lugar, e, busca de outra celebridade para condenar!

Thursday, May 05, 2011

Uma vela para Santo Onofre


Santo Onofre, conhecido padroeiro dos cachaceiros, iluminou meu caminho mais uma vez! Não que eu seja cachaceiro, isso não!!! Mas como os assuntos eram relacionados com vinhos, Baco (ou Dionísio) que me perdoem, mas tenho que acender uma vela para o santo!

Explico: tiramos alguns dias de folga para uma incursão catalana aos prazeres do prato e do copo, e como tudo o que é planejado acaba perdendo a graça, estávamos nós lá em Tarragona querendo visitar algumas vinícolas para provar vinhos feito por pequenos produtores, mas sem nenhuma idéia de onde ir... Munidos apenas com um mapa genérico da região de Priorat (Denominación de Origen Calificada del Priorat), chegamos a Gratallops e nos hospedamos no Hostal Elvira, uma pequena pousada associada a uma bodega e a uma botiga, cuja proprietária nos informou da 16a Fira del Vi - Mostra de Vins de les DO's de la Comarca del Priorat.

Já viu, né? Para quem queria provar vinhos de duas ou três bodegas, poder encontrar praticamente quase todos os produtores de Priorat e Montsant reunidos num mesmo lugar, é muita sorte... e santo forte!

É a segunda vez que me agracia Santo Onofre... a primeira foi em Johannesburg, Africa do Sul, quando tive a oportunidade de visitar a Jo'Burg, uma feira onde todos os produtores de vinho do país estariam reunidos.

Ô Santo Onofre...

Friday, April 22, 2011

Santa?


Chegou a Semana Santa... Aqui na Irlanda, comemora-se o "Good Friday" em dobro: religiosamente os cristãos lembram o julgamento, paixão, crucificação, morte e sepultura do Cristo; politicamente, pelo Acordo de Belfast, ou Acordo da Sexta-feira Santa, tratado assinado em Belfast em 10 de Abril de 1998 pelos governos Britânico e Irlandês, com apoio do povo - do norte e da república - manifestado em referendo.

Mas o que ninguém quer - ou gosta - de dizer é que também é um dos dias onde o povo irlandês exerce a hipocrisia de forma sofisticada: como é o dia em que nenhum comércio abre, a noite anterior se torna uma verdadeira corrida à qualquer loja ou mercado que venda bebidas, para "abastecer o estoque", num desespero tremendo de ficar "na seca" durante o feriado. Detalhe: no sábado tudo abre normalmente, mas só após as 12:30 (outra hipocrisia), pois bebidas alcoólicas não podem ser vendidas antes desse horário.

Providencialmente li um artigo esta semana no The Observer sobre o barateamento da sidra (White cider is becoming like heroin among alcoholics), sugerindo que as sidras de alto teor alcoólico estão se tornando populares entre os viciados devido aos incentivos fiscais protecionistas, sugerindo que os incentivos deviam cessar, ou mesmo que o governo deveria cobrar mais taxa sobre o álcool.

Essa é uma lógica invertida muito comum na Europa: taxar pesadamente as bebidas e os cigarros para diminuir o consumo, mas ao invés de diminuir, tal medida apenas seleciona quem consome o produto. Educação e campanhas informativas, que a princípio podem parecer gastos se comparadas ao lucro das taxas, combateriam o mal pela raíz, e minimizariam os problemas sociais com os adictos.

Monday, April 11, 2011

Muito além da burqa


Entrou em vigor à partir de hoje na França uma lei que proíbe o uso de qualquer tipo de véu que cubra o rosto. Segundo a lei, qualquer mulher francesa ou estrangeira, vestindo um véu que esconda a face (como o niqab ou burqa) pode ser parada pela polícia e receber uma multa de €217. Eu, particularmente, acho que a lei deveria estipular que "... qualquer pessoa francesa ou estrangeira, vestindo um véu que esconda a face..." já que debaixo de uma burqa não se sabe o que está!

Muito se falou na mídia, muito se protestou. E muito ainda se falará, mais protestos virão... Uma questão de violação dos direitos humanos e da liberdade de expressão ou uma adaptação cultural necessária? Eu fico com a segunda! Essa proibição não tem nada a ver com intolerância religiosa, é uma simples questão de leis e costumes.

Fico imaginando o que aconteceria a uma mulher ocidental vestindo uma mini-saia num país muçulmano, como o Afeganistão... talvez ela nunca se atrevesse a tal gesto, pois deveria saber que estaria sujeita a apedrejamento público, segundo as "leis" do Corão...

Friday, April 01, 2011

A Hipocrisia da Pirataria

A pirataria é apenas o sintoma, mas querem pintá-la de doença. Que o produto pirata é o motor do crime organizado todo mundo já sabe... só que não funcionou! As campanhas para impedir - ou diminuir - o comércio de produtos piratas apelando para a consciência do povo deu com os burros n'água, e acredite, não haverá campanha que emplaque se não apelar para o bolso, a verdadeira consciência do brasileiro.

Leia mais no Auto-Pensante.

Wednesday, March 23, 2011

there will be blood

Muito tem se discutido sobre a questão da Líbia, e alguns comentários começam a tomar o rumo do bom-senso e da coerência: Deixem a Líbia pra lá!

A insistência dos EUA em empurrar sua (pseudo) democracia goela abaixo de países de culturas diversas vai acabar contribuindo para uma merda ainda mais fedida. Já nem se consegue mais identificar se é pura arrogância imperialista ou se é simples ganância mesmo - o medo de ficar sem seu barrilzinho de petróleo, devido à instabilidade nesses países que controlam grande parte do óleo do planeta. Qualquer estudioso de assuntos do oriente, sério e independente, dirá que ao cair Gafafi, a coisa toda desaba. O país todo vira uma bomba, pronto para ser detonado. É inerente da cultura - dizem até estar no Corão!

Assim que alguém assumir o poder, outros dez farão fila para derrubá-lo. Quem está no poder, o mantém pela força. Da mesma maneira um novo governo só se estabelece pela força. Não há nada parecido com democracia nestes países, é um conceito que não existe! Para impor a democracia para esses povos seria preciso apagar seu passado e reescrever os últimos 5000 anos de sua história! Talvez mais! Assim chegariam perto de entender o que é democracia, e poderiam até, quem sabe, aceitá-la.

Se Qaddafi está certo? Se ele é um ditador cruel e tirano ou se é um líder carismático? Não importa muito... ele vai fazer de tudo para manter o poder - inclusive matar civis e extinguir etnias contrárias a seu regime, tal qual fazia Saddam Hussein, que embora tenha sido deposto e assassinado, o Iraque continua a mesma merda, um vulcão prestes a entrar em erupção. É só os ianques estadosunidenses sairem da moita...

Qaddafi pode não ser um santo, ou mesmo ser o próprio demo em pessoa, mas apostar que quem quer que venha assumir o poder numa eventual queda do regime não vá fazer o mesmo ou pior, é inocente demais... ou "americano" demais.

Monday, March 21, 2011

Caga Latim Neles!


Foi com essa frase que um passante manifestou seu apoio à coluna de um nobre jornalista, querendo dizer não só que o jornalista deveria continuar descendo a lenha - ou o verbo - nas instituições e nos corruptos, mas com aquele linguajar e conteúdo que só ele sabia dar.

Isso foi há algum tempo... infelizmente hoje em dia, não se caga mais Latim. Nem mesmo se caga português (com "p"), língua muito menos nobre do que Latim (com "L"). Fala-se muito e diz-se pouco. Aqueles belos artigos, com muito conteúdo, muita informação - muito pano para a manga - já não são mais produzidos... Hoje em dia caga-se muito, sim, mas com uma qualidade duvidosa, e com um objetivo mais duvidoso ainda... que nos leva a chamar de merda mesmo!